Histórias sobre santos padroeiros

De acordo com a tradição católica, os padroeiros, também chamados de patronos ou oragos – a última palavra deriva de “oráculos” –, são anjos e santos a quem são dedicadas determinadas localidades ou templos (inclusive capelas e santuários).

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O que é santo?

A Igreja considera santos todos aqueles que, antes da vinda do Messias, praticaram as virtudes cardeais, que potencializam todas as demais virtudes humanas (prudência, justiça, força e moderação) e, com o advento da Era Cristã, também as virtudes teologais (fé, esperança e caridade).

No entanto, o título “santo” só é concedido formalmente para quem viveu no “tempo da graça”, que começa com o nascimento de Jesus (com exceção dos ascendentes diretos). Existe ainda uma condição: estes fiéis precisam ter aceitado Jesus como seu senhor e salvador e ter acreditado em alguns dogmas fundamentais, como a Santíssima Trindade (Deus pai, filho e espírito santo), a autoridade da Igreja, a comunhão dos santos, a ressurreição da carne e a vida eterna.

Estes são alguns dos conceitos definidos durante o Concílio de Niceia (atual Iznik, Turquia, em 325), convocado pelo imperador Romano Constantino I. Foi a primeira reunião de bispos para definir a unidade cristã. O “Credo de Niceia” é rezado em todas as missas católicas.
A mesma prece cita que Jesus foi “crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos e ressuscitou ao terceiro dia”. Para a tradição cristã, todos os justos que morreram antes de Jesus (que também experimentou a morte física), foram elevados juntamente com ele ao Paraíso. Antes do sacrifício do Cristo, as cortinas do céu estavam cerradas para os mortais.

Os santos

De acordo com as crenças católicas (seguidas em parte pelas igrejas Ortodoxa e Anglicana), santos são as personagens piedosas que figuram no Novo Testamento, como os pais de Jesus (José e Maria), os avós maternos (Joaquim e Ana), os evangelistas, apóstolos e algumas santas mulheres (como Maria Madalena e Marta, irmã do ressuscitado Lázaro, também canonizado).

Também foram considerados santos os primeiros papas, considerados sucessores de Simão Pedro, martirizado em Roma, de quem Jesus disse: “tu és pedra e sobre esta rocha edificarei a minha igreja; as portas do mal não prevalecerão sobre ela”.

A partir de 995, o Vaticano, centro do poder temporal e espiritual do Catolicismo, definiu normas para a admissão de novos santos: a canonização, um processo em que é necessária a confirmação de alguns milagres, além da vida exemplar e da prática das virtudes cristãs.

A Igreja aceita a definição de “santo” (canonizado ou assumido pela tradição apostólica) e “beato” (que já está no Paraíso e pode interceder pelos mortais, mas, para isto, é necessária uma autorização especial) para mais de dez mil mortos em seu hagiológio cristão.

Além destes, existem os “servos de Deus”, personalidades que estão submetidas a um processo de canonização e os “veneráveis” (candidatos a santos oficiais a quem o papa reconheceu oficialmente a prática de virtudes heroicas – ou seja, que demonstrou força heroica para não renegar às qualidades preconizadas pela Igreja, mesmo com risco de tortura e morte).

Mas eles não estão sozinhos na comunhão dos santos. Todos os justos, que praticaram as virtudes cardeais e teologais, se reuniram corte celeste, de onde só deverão sair para recuperar seus corpos e torná-los gloriosos, do dia do juízo final.

Voltando aos santos padroeiros

No Brasil, a padroeira é Nossa Senhora da Conceição Aparecida, cuja festa litúrgica é celebrada em 12 de Outubro, feriado nacional desde 1980. A história conta que a população de Guaratinguetá, em outubro de 1717, decidiu fazer uma homenagem ao conde de Assumar, governante da capitania de São Paulo e das Minas, em trânsito para Vila Rica (atual Ouro Preto, Minas Gerais).

Os pescadores da cidade decidiram lançar as suas redes no rio Paraíba do Sul. Antes de colocar os barcos na água, os pesquisadores fizeram uma prece a Nossa Senhora, pedindo sucesso. Mas eles quase desistiram da pesca quando um deles, ao lançar suas redes, viu o artefato retornar com uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, mas sem a cabeça.

Na segunda tentativa, surgiu o restante da imagem (a cabeça estava envolvida em um lenço). Os pescadores uniram os pedaços, mas depois disto não conseguiram mais movê-la, em função do peso. Voltando a atenção à pescaria, retiraram tantos peixes que foram obrigados a retornar ao porto, para não naufragar. Esta foi a primeira intercessão atribuída à santa. Até 1717, a imagem de Nossa Senhora Aparecida permaneceu na casa de um dos pescadores, onde os moradores se reuniam diariamente para rezar preces e terços, fato que se repetiu por 15 anos, quando o vigário de Guaratinguetá decidiu erguer uma capela para devoção.

Como já foi dito, no entanto, cada localidade pode ter seu próprio santo padroeiro. É o caso do Estado de São Paulo (estado em que se situa a Basílica de Aparecida), que definiu o santo homônimo como seu patrono. Amapá, Maranhão e Ceará reverenciam São José. Nossa Senhora da Conceição protege os amazonenses e sergipanos.

O mesmo acontece em várias regiões do mundo. As santas padroeiras de Portugal são Nossa Senhora de Fátima (que apareceu para três crianças na Cova da Iria, em 1917) e Nossa Senhora de Fátima. Os oragos menores são Santo Antônio de Lisboa e São Jorge, que também é patronos das Forças Armadas. As regiões autônomas e as capitais de distrito também são protegidas por padroeiros diferentes.

Padroeiros de profissões

Além de proteger localidades e igrejas, os santos padroeiros orientam as atividades de fiéis ligados a determinadas profissões ou atividades sociais. São Francisco de Assis, por exemplo, é o padroeiro da ação católica. Durante a sua ação pastoral, Francisco dirigiu suas atividades especialmente aos pobres e à abertura da Igreja às necessidades dos fiéis.

Ele é mais conhecido como patrono dos fiéis, mas esta função pertence a Santo Antão, famoso pelas suas técnicas de pastoreio. Mesmo assim, no dia 4 de Outubro, consagrado a São Francisco de Assis, muitos fiéis levam seus cães para receber a bênção nos adros das igrejas.

Muitos profissionais escolheram patronos. O padroeiro dos pescadores é Santo André. O dos banqueiros, São Mateus (que, até ser chamado por Jesus, era um coletor de impostos, atividade execrada pelos judeus). São Lucas, médico que acompanhou São Paulo em suas viagens evangelizadoras, é padroeiro da sua categoria, mas não está sozinho: divide as atividades com os Santos Cosme e Damião, talvez lendários, mas que teriam sido martirizados por exercer a medicina sem exigir recompensa.

Para terminar, uma história tocante: Cristóvão foi classificado inicialmente como um mártir cristão, morto em algum local entre a Arábia e Canaã. Ele viveu no século no século XVI, tendo sido retirado do calendário católico, mas mantido no martirológio.

Cristóvão nunca se casou e por isto é considerado o padroeiro dos solteiros. Sobre ele, uma lenda diz que um rei pagão, através de oferendas aos deuses, conseguiu ter um filho, a quem chamou de Reprobus (muito semelhante a réprobo, que significa condenado, desgraçado); desde cedo, o jovem demonstrou péssima índole.

Certa vez, encontrou um eremita, mas recusou-se a aceitar o Cristianismo, jejuar e orar. Por alguma razão, no entanto, em função da sua força descomunal, aceitou atravessar, nos ombros, pessoas que precisavam cruzar um rio caudaloso. Certo dia surgiu uma criança, que se tornou cada vez mais pesada enquanto o rio era vencido.

Depois da travessia, a criança revelou ser Jesus, o criador e redentor do mundo. Desde então, Reprobus passou a usar o nome Cristóvão (que significa ”aquele que carrega o Cristo”), adotou hábitos piedosos e tornou-se o santo padroeiro de motoristas, marinheiros e todos os profissionais que transportam passageiros em segurança.