Os instrumentos de uma orquestra

Os instrumentos de uma orquestra são os seguintes: cordas (o som é produzido pela vibração de cordas), sopro de madeira (com corpo e/ou embocadura de madeira), sopro de metal (com corpo e embocadura de metal, que permitem a criação de um som mais grave, de timbre mais agressivo) e percussão (instrumentos que demandam um impulso de mão para produzir o som: são os batuques, por exemplo).

Não existe uma organização rígida para a constituição de uma orquestra. Quanto mais instrumentos, maior a composição de sons para executar uma música. Tudo depende, é claro, da competência regente e dos músicos – a chamada virtuose (termo derivado do latim “virtus”, de virtude, qualidade especial). A palavra teve origem na Itália, no século XVI. Era um adjetivo aplicado a pessoas de destaque pela inteligência ou pela arte. Mais tarde, no século XVIII, virtuose passou a definir o músico (instrumentista ou vocalista) que segue uma carreira solo.

A formação da orquestra está sempre relacionada ao período histórico em que ela foi criada. Compositores barrocos, com Bach e Vivaldi, utilizaram apenas a orquestra de câmara, com dois oboés, duas trompas, tímpanos e uma formação de cordas também pequena, com seis a dez violinos, três violas, três violoncelos e um contrabaixo. No período do Classicismo, regentes como Haydn e Mozart, com cerca de 35 músicos; foram introduzidos fagotes, clarinetes e trompetes.

No início do século XX, compositores como Richard Wagner regiam orquestras com 90 integrantes. Na primeira execução da Sinfonia dos Mil, de Gustav Mahler, dividiam o palco 300 instrumentistas e 700 coralistas.

Todos os instrumentos correspondem a um tipo de voz humana, com frequência entre 50 e 3.400 Hz. As principais vozes são: tenor (ligeiro, lírico ou dramático), barítono (lírico e dramático), baixo (cantante e ligeiro), soprano (ligeiro, lírico e dramático), mezzo-soprano e contralto. Tenores, barítonos e baixos são vozes masculinas e as demais, femininas.

As cordas

No palco, a família das cordas geralmente fica do lado esquerdo do maestro e é composta por violino, viola d’arco, violoncelo, contrabaixo e harpa. O violino é classificado como um instrumento de cordas friccionadas: são apenas quatro (Mi1, Lá2, Ré3 e Sol4). É um dos mais difíceis de executar e caracteriza-se pelo timbre agudo e brilhante, que pode ser alterado para um tom mais aveludado, de acordo com o tipo de acordoamento utilizado.

A execução mais comum é com a fricção de um arco nas cordas. Antes de tocar, o músico passa uma resina sobre as cerdas (o breu), com o objetivo de aumentar o atrito. O som produzido pelas cordas é ampliado pelo corpo do instrumento (a caixa de ressonância). A música é transmitida para a “alma”, um cilindro de madeira abaixo do lado direito do cavalete.

O violino também pode ser tocado dedilhando-se ou beliscando as cordas com os dedos (o pizzicato), pela fricção da parte de madeira do arco (collegno) e até com a percussão com os dedos ou com a parte de trás do arco. Em uma orquestra, há primeiros e segundos violinos. Um violinista solista (primeiro violino) é chamado de spalla.

A viola d’arco, também chamada de alto e violeta, visualmente é semelhante ao violino (inclusive na maneira de tocar). O som, no entanto, é mais encorpado e grave, menos estridente. Sua altura é intermediária entre o violino e o violoncelo.

Afinada nos tons Lá3, Ré3, Sol2 e dó2, a viola d’arco possui um impressionante poder expressivo, mais suave, melancólico e recolhido. Muitas obras de artistas clássicos e contemporâneos foram compostas para solos deste instrumento. Também possui cordas friccionadas por arco, que podem ser dedilhadas em pizzicato.

O violoncelo (ou cello) é o segundo instrumento mais grave da família das cordas. Tocado geralmente com arco, possui quatro cordas afinadas em quintas. Em função do tamanho, o instrumento fica apoiado no chão por meio de um espigão (haste de metal, madeira ou borracha fixada na base).

O músico precisa tocar o instrumento sentado, com as pernas afastadas. O braço do violoncelo fica repousado sobre o ombro. As cordas são afinadas como na viola (Dó, Sol, Ré e Lá), mas uma oitava mais grave. A característica padrão do violoncelo foi estabelecida em 1680, por Stradivarius, luthier italiano que criou centenas de instrumentos (mais de 1.000 existem ainda hoje e chegam a ser negociados por algumas centenas de milhões de euros). As primeiras composições para solo de violoncelo também datam do século XVII.

O contrabaixo é o instrumento maior e de registro mais grave em uma orquestra de cordas. Por isto, é posicionado nas laterais do palco, em quantidades razoáveis de músicos. Tem 1,82 metros de comprimento e sua estrutura é semelhante à do violino e da viola, com o tampo e o fundo da caixa de ressonância ligeiramente abaulados.

As cordas do contrabaixo apresentam a seguinte afinação: Sol2, Ré2, Lá1 e Mi1. Por seu registro extremamente grave, existem poucas composições para solo de contrabaixo, cuja primeira função é preencher os graves e dar coesão à harmonia. Muitas vezes, os músicos executam canções paralelas à melodia principal.

A harpa é um instrumento de formato triangular (que lembra um arco de caça ou ataque) com caixa de ressonância quase perpendicular às cordas, coluna, pescoço e pedais. Tem 47 cordas e mede aproximadamente 1,85 metros de altura. A origem se perde nos tempos; ela já era comum entre gregos e romanos antigos, além de civilizações da Mesopotâmia, no Oriente Médio. Na expansão do Islamismo (século VII), a harpa foi reintroduzida na Europa a partir da península Ibérica e espalhou-se pelo continente.

A harpa tocada em orquestras tem o nome de sinfônica ou de acionamento por pedais de dupla ação (ao todo, são sete). Por exemplo, se determinado pedal for pressionado totalmente, todas as notas tocadas serão sustenidos ou bemóis.

O piano também é um instrumento de cordas, mas não figura necessariamente entre os instrumentos de uma orquestra, provavelmente por ser mais indicado para apresentações solo, não para compor um conjunto. Mesmo assim, muitos compositores criaram diversos concertos para piano e orquestra.

Os sopros

A família dos sopros de madeira é composta por flauta transversal, clarinete, oboé e fagotes. Alguns músicos são solistas, enquanto outros apenas colaboram para a harmonia da execução. A flauta transversal é constituída por um tubo cilíndrico e oco, sobre o qual são se localizam orifícios e chaves. Junto com a harpa, é um dos instrumentos musicais mais antigos (foram encontradas flautas em tumbas e templos sumérios e egípcios, por exemplo).

Possui a escala em Dó e alcance de quatro oitavas. O timbre é doce e suave. Nas orquestras, é comum que as flautas transversais “dobrem” o som dos violinos, acrescentando brilho, suavidade e claridade. O virtuosismo do instrumento também se mostra na agilidade do músico. Quase sempre, ela traduz leveza e elevação para a melodia.

O clarinete é um instrumento cilíndrico, com extremidade em forma de campânula e bocal cônico, com uma única palheta. Tem quatro registros: grave, médio, agudo e superagudo. Foi criado na Alemanha, no século XVIII. O músico Johann Cristiph Denner o introduziu na orquestra em 1750.

O fagote nasceu na Itália, no século XVI. É constituído por um longo tubo cônico (cerca de 2,5 metros), dobrado sobre si mesmo. A palheta dupla é fixada em um bocal de cobre. É um instrumento de dedilhado complexo, difícil de aprender (geralmente, os músicos só começam a se dedicar ao fagote depois de dominar outro instrumento de sopro, como a flauta e o clarinete).

É o instrumento mais grave da família dos sopros. O fagotino tem um som mais agudo, enquanto o contrafagote (que pesa quase dez quilogramas) soa uma oitava abaixo do “chefe da família”. São dois sistemas diferentes, o francês e o alemão.

O timbre do oboé é semelhante ao do clarinete. As notas graves do instrumento são densas e ricas; as mais agudas, rarefeitas e penetrantes. O som do oboé é mais nasalado e áspero, quando comparado ao da flauta, permitindo um contraste que enriquece a apresentação de uma orquestra.

O instrumento tem palheta dupla, constituída por uma tira de cana-da-índia dobrada em dois; no centro, situa-se o staple, um tubo de metal por onde o músico sopra. São vários registros: o oboé soprano em Dó (o mais comum), o oboé d’amore (um pouco mais grave), o corne inglês (ainda mais grave), além de instrumentos barítonos, baixos e piccolos.

Algumas curiosidades: a palavra oboé vem do francês “hautbois”, que significa “madeira alta”, por causa do registro bastante agudo. Em alguns locais, o instrumento é chamado de “oboá”. Entre os sopros de metal, figuram os diferentes tipos de cornetas, como trompetes, trompas, saxofones, trombones e tubas. A flauta, apesar de metálica, fica na família dos sopros de madeira, porque o som é obtido por uma palheta de madeira do instrumento; o corpo de metal só amplifica e modula o som.

A percussão

É a família mais numerosa em uma orquestra. Os instrumentos do grupo são o xilofone, tímpanos, carrilhão de sinos, gongo, caixa de rufos, pratos, pandeireta e triângulo. Na disposição no palco, os instrumentos de percussão são organizados atrás de todos os demais.

O xilofone é constituído por uma série de placas de madeira dispostas de maneira idêntica ao teclado de um piano. Podem ser usadas baquetas duras (para obter um som brilhante e penetrante); as baquetas suaves produzem um som mais aveludado.

O tímpano é uma caixa de ressonância metálica hemisférica, coberta por pele de bezerro. A altura do som é obtida com a tensão deste tecido e a tonalidade, pelo tipo de baqueta empregado na execução da melodia. O carrilhão é um instrumento disposto de forma vertical, com uma série de cilindros pendurados de diferentes tamanhos, para produção de sons graves e agudos. O carrilhão também é tocado com o auxílio de baquetas.

O gongo é originário da China. Trata-se de um disco de bronze. É tocado com uma baqueta macia, forrada de tecido na extremidade. O som pode ser isolado ou repetido em uma série, para produzir o efeito de caixa de rufo, um tambor de baixa altura, muito usado também em apresentações de fanfarras e desfiles.

A pandeireta é constituída por um aro circular (geralmente de madeira) guarnecido por solhas metálicas agregadas aos pares, cujo centro é forrado por uma camada de pele.

O triângulo é muito comum nas apresentações artísticas brasileiras; é um instrumento de metal (geralmente de ferro ou aço) dobrado na forma da figura geométrica. O som é obtido com uma baqueta e a mão que segura o triângulo controla o som aberto ou fechado.

Os pratos também surgiram no Oriente. São dois discos côncavos e rasos, batidos individualmente ou percutidos um contra o outro. Na Abertura 1812, de Tchaikowsky, pratos e bumbo são utilizados uma única vez, para simular o tiro de um canhão.