Por que as juntas estalam?

Estalar as juntas não faz com que as vértebras “voltem ao lugar”, como se diz popularmente. Também não engrossa as articulações, outro medo sempre ventilado. As juntas se tornam mais grossas com o avanço da idade, independente da existência de ressaltos que causem os ruídos.

Para entender por que as juntas estalam, é preciso, é preciso conhecer a constituição e os mecanismos de funcionamento das principais articulações do corpo humano: as articulações sinoviais.

As articulações – ou juntas – são comuns a todos os animais vertebrados. Elas são conexões naturais entre dois ou mais ossos. Elas estão presentes em alguns invertebrados, especialmente entre os artículos dos apêndices, como patas, antenas e ferrões (é uma característica comum dos aracnídeos, insetos, crustáceos e miriápodes). Nos animais superiores, elas são revestidas de cartilagens e seu mecanismo inclui as bolsas de fluido lubrificante.

Nos seres humanos, a coluna vertebral é um exemplo de articulação semimóvel (com limites nas dobras e giros); o crânio é uma articulação imóvel; joelho e cotovelos, totalmente móveis.

Sinoviais

As articulações sinoviais são as que apresentam maior capacidade de movimento (elas são classificadas como diartroses, termo derivado do grego que significa mais de um movimento). Ao lado do joelho e do cotovelo, estão as articulações coxofemorais (entre o quadril e o fêmur) e a têmporo-mandibular (que une o crânio à mandíbula).

Nestas estruturas anatômicas, as superfícies articulares dos ossos são protegidas de tecido fibroso bastante resistente. Estas superfícies ficam revestidas de cartilagem, que forma uma bolsa (ou bursa) na articulação cheia de fluido, o chamado líquido sinovial, que lubrifica a “dobra” do corpo.

Elas podem ser planas (como as do carpo, o conjunto dos ossos que formam as mãos ou os membros superiores), uniaxiais (como o cotovelo, que se move como uma dobradiça), atlantoaxiais (o atlas é a primeira vértebra cervical, no alto do pescoço, e a articulação tem movimento giratório, como um pivô), esferoidais ou poliaxiais (como a escápula, um grupo de ossos do ombro, que garante o movimento dos braços, a estabilidade do caminhar e toda a movimentação do tronco humano).

Afinal, por que as juntas estalam?

As juntas ou articulações são muito móveis, principalmente em função da atividade da cápsula articular, cuja membrana interna é responsável pela produção do líquido sinovial. O atrito entre os ossos causado pelos movimentos é reduzido significativamente graças às cartilagens é à ação deste fluido. Às vezes, por um “erro de programação”, elas acabam se movendo de forma irregular.

Ainda não há consenso na comunidade médica sobre os motivos das estaladas das juntas – que, em algumas pessoas, são muito comuns. Entre as explicações, estão: a cápsula sinovial é relativamente rígida; o barulho seria semelhante ao produzido por uma garrafa pet, quando ela é comprimida. No entanto, a rigidez pode ser causada depois da morte (quando poderia ocorrer, em teoria, um ressecamento do fluido, nunca encontrado em vida).

Outros pesquisadores afirmam que a produção do líquido sinovial pode se reduzir em alguns momentos, aumentando o atrito entre ossos e tendões. O fluido, para garantir os movimentos, passa por “túneis” dentro das bolsas e, mais ressecados, provocariam os estalos das juntas.

A teoria mais aceita atualmente é que as juntas estalam porque são formados gases que se diluem subitamente (de forma totalmente abrupta) no líquido sinovial, formando algumas bolhas (o chamado fenômeno de cavitação, quando um líquido começa a escorrer de forma mais acelerada, sofre redução de pressão).

Em 1947, os fisioterapeutas americanos J.B. Roston e R.W. Haines estudaram as formas necessárias de distração (afastamento) para gerar um estalo na articulação metacarpofalangena (a junção do punho e a mão).

A separação de apenas 1,8 milímetros entre as juntas (mensurada através de exames radiográficos) gerava um distanciamento de forma proporcional. No entanto, o mesmo estudo demonstrou que, logo depois do estalo, o comportamento mecânico da articulação era significativamente modificado, o que revela que estalar juntas não implica necessariamente um estado patológico. Em outras palavras, não se trata de uma doença.

Na verdade, um estudo refeito em 1972 comprovou o estudo do final dos anos 1940. A. Unsworth e colaboradores observaram que o grau de afastamento aumentava muito depois do estalo. Segundos antes, a distância entre os ossos analisados ficava em 0,98 mm; depois do crack, este espaço articular aumentava para até 2,5 mm e só voltava à distância normal depois de 15 minutos. Curiosamente, os pesquisadores também constataram que a diluição do gás (dióxido de carbono) no líquido sinovial demora 30 minutos para se tornar completa, o mesmo tempo que um “estalador de juntas” leva para conseguir voltar a estalar as articulações de mãos, coluna vertebral, pescoço, etc.

É um problema?

Além de causar bastante aflição em algumas pessoas próximas, estalar as juntas, na maior parte dos casos, não implica nenhum problema de saúde. É apenas uma reação natural do organismo a um estímulo, devida a uma diferença de pressão (o líquido sinovial que está em um dos lados passa para o outro, gerando o barulhinho).

Nem todos os estalos, porém, são provocados apenas pelo ligeiro deslizamento das articulações. Em alguns casos, as fáscias musculares também estão envolvidas. As fáscias profundas são um conjunto de tecido conjuntivo fibroso e denso, que envolve ossos, músculos, nervos e vasos sanguíneos.

As fáscias viscerais, menos densas (mas também formadas por tecido conjuntivo), são responsáveis pela sustentação dos órgãos abdominais, mantendo-os em suas cavidades naturais. A principal função das duas estruturas (que são passivas) é reduzir a fricção, permitindo que os músculos e camadas de gordura circulem livremente uns sobre os outros.

Quando esta movimentação é estimulada de forma abrupta, no entanto, surge a dor, especialmente na escápula e nos ombros (a cintura escapular é o conjunto de órgãos e tecidos que sustentam os braços, mantêm a integração entre os braços e os ombros e permitem o equilíbrio do tronco humano; além dos dois grandes ossos triangulares, que fazem as “pontas de asas” das costas, a estrutura inclui vários músculos, como o romboide, trapezoide, latíssimo, peitoral menor e subclávio).

Um ortopedista deve ser consultado. A dor, nestes casos, pode ser aliviada com analgésicos ou compressas de água fria. Esta situação é muito comum no chamado estirão do crescimento, em que o desenvolvimento dos músculos não acompanha o desenvolvimento dos ossos.