Como estudar para uma prova

Uma prova é quase um rito de passagem: o resultado pode garantir a aprovação na escola, o início de uma carreira profissional, a entrada na faculdade. Preparar-se para uma delas, no entanto, não é uma tarefa fácil: muitos alunos assimilam sem problemas os conteúdos abordados em sala de aula, mas, na hora H, parece que a mente foi completamente esvaziada. Outros passam anos prestando vestibulares sem sucesso apesar de, no dia a dia, serem uma espécie de professores informais dos colegas.

A explicação tradicional sobre como estudar para uma prova deixa um pouco a desejar: disciplina, concentração, afastamento de algumas distrações comuns (como as redes sociais), são sempre importantes para fixar o aprendizado, mas educadores hoje garantem que é necessário variar os ambientes, misturar conteúdos e receber alguns prêmios podem fazer maravilhas.

O conhecimento nunca é estanque: ele sempre faz conexões com diversas outras áreas – aliás, estudar só faz sentido quando isto agrega algum conhecimento prático ao dia a dia, quando proporciona satisfação (o chamado prazer intelectual, ou aprender por aprender): um professor de Física, por exemplo, pode facilitar bastante o desenvolvimento dos alunos, se conseguir agregar às aulas uma ou outra informação sobre História, Filosofia, Artes, etc.

São os chamados vínculos cognitivos. A partir de uma informação pouco importante (ou aparentemente fora do contexto), são estabelecidas conexões entre diversos conteúdos, permitindo uma fixação mais duradoura do que a obtida apenas com a memorização.

Mova-se!

O cenário é fundamental. Um conselho clássico seria isolar-se em um ambiente tranquilo, sem interferências externas (TV, computador, telefone, conversas paralelas com outros parentes), mas isto nem sempre é necessário. Mudar-se da sala para a cozinha, o terraço ou o jardim já pode fazer bastante diferença.

Teóricos clássicos da Educação, como Jean Piaget e Lev Vygotsky afirmam que a aquisição do conhecimento é um processo pessoal e intransferível. Cada pessoa estabelece relações entre elementos de determinado conteúdo – os chamados “saltos conceituais” – e, a partir daí, se apropria do que está sendo ensinado ou informado.

Sair de casa e estudar em um parque ou praça também facilita a fixação do aprendizado. Mesmo com as eventuais distrações – um pássaro, uma borboleta, um rapaz (ou moça) bonito – o cérebro passa a estabelecer as conexões necessárias. É mais fácil se lembrar de uma refeição feita em um restaurante do que na cantina da escola, por exemplo. A experiência, com as novidades relacionadas, permite inclusive o estabelecimento de relações que envolvem todos os sentidos humanos.

Leia!

Ler é fundamental. Crianças devem ser estimuladas a desenvolver o hábito da leitura desde cedo (bebês já podem “ler” livros de tecido, por exemplo). Uma pesquisa do Instituto Paulo Montenegro em associação da a ONG Ação Educativa indica que 38% da população brasileira é constituída por analfabetos funcionais – que não dominam as habilidades de leitura, escrita e aritmética.

Sem estes pré-requisitos básicos, é impossível aprender qualquer coisa; não há como estudar para uma prova, para se apropriar de uma técnica profissional, para entender o momento histórico que estamos vivendo.

Portanto, um estudante, além de ler livros e textos dos conteúdos escolares (linguagens, matemática, artes, ciências humanas e ciências da natureza), precisa recorrer a jornais e revistas especializadas, para incorporar novos conhecimentos e desenvolver o espírito crítico. Com a popularização da internet – inclusive com pontos gratuitos de acesso – a tarefa ficou ainda mais fácil.

Ler e reler é uma atitude positiva para o aprendizado. Os conteúdos mais “chatos” (para alguns, são as humanidades, para outros, as ciências exatas) devem ser abordados em primeiro lugar: sempre adiamos o estudo de matérias das quais não gostamos. Assistir a noticiários e programas jornalísticos também facilita a tarefa.

Aliás, o hábito da leitura enriquece o vocabulário e reduz a possibilidade de erros de grafia. Quem “odeia ler” pode começar a mudar de ideia com histórias em quadrinhos, animes, etc. e progressivamente enfrentar temas “mais difíceis”.

Intercalar conteúdos é sempre um fato positivo: além de permitir a conexão entre conteúdos (bastante cobrada nas provas do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – que sempre trabalham com a interdisciplinaridade), a estratégia facilita a saturação. Pode ser uma técnica mais útil do que a releitura.

Resumos

Muitos estudantes recorrem a resumos, inclusive para dar conta da extensa relação de livros brasileiros e portugueses exigidos pelos vestibulares. Um resumo de um livro dificilmente consegue traduzir a essência do texto, a composição dos personagens, etc. Muitos resumos publicados tornam um livro do Período Barroco muito semelhante ao de outro do Período Realista.

Para provas objetivas, como as dos vestibulares e vestibulinhos, a técnica é inútil, apesar de ser válida (em resumos bem elaborados) para testes de múltipla escolha. Os resumos são a forma mais rápida para reduzir conteúdos muito extensos, mas é preciso tomar muito cuidado, já que pontos importantes podem ser esquecidos ou ignorados pelos estudantes. Conversar com os professores para saber quais são as melhores fontes é uma atitude muito útil.

Estratégias e estratégias

Muitas dicas bastante apregoadas não geram grandes efeitos. Grifar textos, por exemplo. Diversos estudos psicológicos (inclusive do grupo americano Psychological Science in the Public Interest) garantem que a técnica não exige esforço dos estudantes: eles não estão se conectando com o assunto estudado, não estão criando conhecimento.

Marcar textos também apresenta outra dificuldade: sem ter um critério para definir o que é importante e central na matéria, muitos textos sublinhados acabam atrapalhando, ao invés de ajudar.

Associar textos e imagens dá certo? Muitos cursinhos pré-vestibulares e escolas de nível básico defendem a teoria. No caso de textos longos (mais de uma página), no entanto, a efetividade é baixa. Muitos estudantes não conseguem inferir algo além da leitura, não alcançam informações que não estão explícitas, fato bastante comum em matérias das humanidades.
Além disto, formar uma imagem a cada período do texto dá muito mais trabalho – e pode confundir na hora de retomá-las para fazer uma prova.
A memorização, de acordo com a maioria dos pedagogos, também é prejudicial. Tentar decorar a família dos metais alcalinos na tabela periódica com expressões como “liso, pô” (lítio, sódio e potássio) pode se tornar um desastre: na hora H, o estudante pode se enganar (só conseguir se lembrar de algo como “sem grana, meu”). Além disto, a família não está completa: faltam o césio, o rutênio e o frâncio – e tentar memorizar com um “CERUFRA” não faz o menor sentido.

Vale o mesmo para a frase: “minha velha, traga meu jantar: sopa, uva, nozes e pão”, para tentar não se esquecer dos planetas do no Sistema Solar. Além disto, o cardápio foi alterado com a retirada do pão (em 2006, a União Astronômica Internacional rebaixou Plutão – do “P” de “pão” para a categoria de planeta anão).

Outro problema é que muitos destes códigos não têm o menor significado para alguns conteúdos: não é possível lembrar-se de um episódio histórico ou um fato geográfico com apenas algumas abreviaturas. Outro problema é que o estudante consegue decorar uma fórmula de Matemática ou Física, esquecido em pouco tempo. Para quem estuda para uma prova de vestibular na área de exatas, esquecer não é uma boa ideia: o conteúdo vai continuar sendo exigido.

O famoso “decoreba” é responsável pelo “branco” em uma prova. Uma vez que o conteúdo não foi assimilado, apenas decorado, ele pode simplesmente desaparecer no momento mais necessário. Ler a matéria e tentar explicá-la com as próprias palavras é muito mais efetivo, principalmente por incentivar as inferências, a absorção de conteúdos implícitos.

Durante o estudo, muitas informações e fatos esbarram na capacidade de entendimento. Superar este problema, no entanto, é bastante fácil: basta fazer perguntas sobre o tema. Para entender a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, uma boa questão a ser feita é: “por que a Europa se calou quando a Alemanha anexou a Áustria, mas declarou guerra quando os nazistas invadiram a Polônia?”. É semelhante à composição de um roteiro para cinema.

Faça exercícios

É a melhor forma de estudar para uma prova. O estudante se submete à pressão do tempo-limite determinado para o teste, enfrenta questões diferentes sobre um único assunto (História ou Química, por exemplo), se entrosa com os temas mais exigidos nos principais exames aplicados no país.

Diversos sites oferecem provas de vestibulinhos e de vestibulares importantes como a FUVEST, as edições do ENEM, etc. O estudante deve tentar resolver as provas no tempo estipulado para a entidade organizadora, na ordem em que elas são propostas. Testes de múltipla escolha, “verdadeiro ou falso” e preenchimento de lacunas são muito úteis para o aprendizado.

Resolver questões práticas também permite o surgimento de dúvidas e, claro, das soluções. As provas também podem ser resolvidas em simulados (promovidos por diversas escolas em todo o país), mas é importante que o estudante procure se submeter a testes por si mesmo, sem a interferência de um cursinho.

Redação

Ela é fundamental em provas acadêmicas, em processos de recrutamento e seleção de muitas empresas e na qualificação para bolsas de estudos em escolas presenciais e online. O domínio do padrão culto da linguagem é fundamental, juntamente com um vocabulário extenso e a capacidade de propor, desenvolver e justificar uma ideia. Novamente, a leitura no cotidiano é uma ferramenta imprescindível.

Em uma prova de Redação, boa parte da nota é devida à adequação do texto criado à proposta. Muitos estudantes tiveram um “zero” na prova do ENEM por terem fugido ao tema – ou pior, por terem “incorporado” hinos de clubes de futebol ou até mesmo de receitas para macarrão instantâneo. Pode parecer divertido, mas estes alunos quase sempre perdem o acesso a muitas universidades públicas, às bolsas do PROUNI (Programa Universidade para Todos) e ao financiamento público dos estudos universitários.