Os deuses do Olimpo

A montanha mais alta da região – o Olimpo – foi o local escolhido pelos gregos como a morada dos deuses. Sempre envolvida em nuvens, certamente ocultava mistérios. Mas antes de falar sobre os deuses do Olimpo, é preciso saber como tudo começou.

No início, reinava o caos: o nada, as trevas. Do caos nasceu Gaia, a terra, e os elementos primordiais: Tártaro, o abismo, Érebo, a escuridão, e Nix, a noite. Nix e Érebo geraram Éter (a luz) e Hemera (o dia). Gaia gerou Urano (o céu), que a fecundou diversas vezes, mas, como nunca se separava dela, os filhos – incluindo os titãs – não conseguiam sair de seu útero.

Gaia pediu a um de seus filhos, Cronos, que castrasse o pai, para que todos pudessem vir à luz. Cronos mutilou Urano e assim nasceram os titãs, entre eles Oceano (as águas) e Hipérion (o sol). De Gaia também nasceram os ciclopes, gigantes de um só olho, e os centímanos, girantes de cem braços e 50 cabeças.

Cronos casou-se com sua irmã Reia, tomou o poder do mundo e aprisionou ciclopes e centímanos no fundo do Tártaro, o mundo dos mortos. Mas Urano, antes de morrer, fez uma profecia: Cronos também seria destronado por um de seus filhos. Por isto, todos os filhos que nasciam de Reia eram devorados pelo pai. Trata-se de uma simbologia: Cronos é o deus do tempo (o nome deu origem a várias palavras, como cronologia e cronômetro), e o tempo tudo gera e tudo consome.

Cronos devorou Hera, Hades, Poseidon, Héstia e Demeter. Gaia, novamente grávida, fugiu do marido e escondeu-se numa caverna da ilha de Creta (a mesma que mais tarde seria atormentada pelo Minotauro, monstro metade homem, metade touro). Ali nasceu Zeus. Reia retornou imediatamente para o marido e deu a ele uma pedra, que ele engoliu, imaginando ser o sexto filho.

Zeus cresceu e casou-se com Métis, que lhe deu uma poção milagrosa para que Cronos vomitasse todos os filhos que havia devorado. Todos estavam vivos, já que, como filhos de deuses, eram imortais. Cronos vomitou os cinco deuses, que, já adultos, uniram-se ao seu salvador. As seis divindades lutaram contra os titãs, que se posicionaram na defesa de Cronos.

Os titãs lançaram pedras incandescentes contra os deuses e Zeus revidava com seus raios. Foi um grande confronto. Poseidon, com um golpe de seu tridente, rachou a ilha de Cós em duas partes e lançou uma delas sobre um titã. Mas a luta só terminou quando os deuses libertaram os gigantes presos no Tártaro. Com os novos aliados, derrotaram os titãs.

Dois deles receberam castigos especiais: Atlas foi obrigado a sustentar eternamente o céu, enquanto Prometeu, que criou a humanidade e revelou segredos divinos, como o fogo e a metalurgia, foi acorrentado numa montanha do Cáucaso. Um abutre vinha diariamente devorar o fígado deste titã. O órgão se regenerava durante a noite. Os demais derrotados foram lançados no Tártaro, e os gregos antigos acreditavam que as erupções vulcânicas eram a prova de que eles estavam vivos, lançando pedras e fogo, tentando se libertar.

Com a vitória, ocorreu a partilha do mundo. Poseidon recebeu o domínio dos mares, a Hades coube o reino dos mortos e Zeus ficou com o céu e a terra.

Os deuses

Zeus é o deus principal, governante do monte Olimpo, senhor dos elementos. Irado, ele lança tempestades e raios sobre deuses e homens. Apaixonado, adota diversas formas para seduzir deusas, ninfas e mulheres. Para conquistar a ninfa Europa, por exemplo, ele transformou-se em um touro. Para fecundar Dânae, transmutou-se em uma chuva de ouro. Hércules e Alexandre Magno estão entre os filhos famosos de Zeus.

A ciumenta Hera é a mulher de Zeus, rainha do Olimpo. Hera é a deusa da família e preside os casamentos e os partos. Nas narrativas gregas, está constantemente perseguindo as amantes e filhos ilegítimos do marido. Por exemplo, Hera colocou uma serpente no berço de Hércules, mas o bebê, que já nasceu forte, estrangulou o animal. Hera é representada pelo pavão.

Poseidon mora num palácio de cristal no fundo do mar, com sua mulher Anfitrite, mas tem cadeira cativa nos banquetes do Olimpo, onde são servidos néctar e ambrosia. Com seu tridente, provoca e acalma maremotos e tsunamis (o Colosso de Rodes, uma das maravilhas do mundo antigo, foi destruído por uma onda gigante). Por isto, era muito popular entre os navegantes gregos.

Hades governa o submundo, para onde vão quase todos os humanos a maior parte. As poucas exceções são poetas e guerreiros que se destacam em suas atividades e conquistam um lugar no Olimpo, junto aos deuses. Seu nome transformou-se em sinônimo de inferno, que, para os gregos, é dividido em duas partes: os Campos Elíseos, para onde vão as almas dos que praticaram as virtudes na Terra, e o Tártaro, onde os maus sofrem castigos eternos.

Atena é filha de Zeus com sua primeira mulher. Quando o rei dos deuses recebeu a notícia de que Métis estava grávida, ficou com medo de que seu filho o destronasse, como aconteceu com o pai e o avô. Por isto, propôs que a esposa se metamorfoseasse numa mosca, numa “brincadeira” entre eles. Métis concordou e foi engolida por Zeus.

Mas a gestação não foi interrompida. Atena continuou se desenvolvendo no crânio do pai até que, atormentado pela dor de cabeça, pediu que Hefesto lhe desse uma machadada. Da cabeça aberta, surgiu Atena, adulta e armada. Nem Ares consegue prevalecer contra a deusa padroeira da atual capital grega, porque ele privilegia o combate, enquanto o ponto forte de Atena é a estratégia militar.

Deméter é a deusa da fartura, protetora das colheitas e da criação de animais. É uma das divindades vomitadas por Cronos. A deusa teve uma filha, Perséfone, que foi raptada por Hades. Inconformada com a ausência da jovem, ela deixou de atender aos pedidos dos mortais.

Zeus arbitrou que Perséfone permanecesse metade do ano com a mãe e o restante do tempo com o marido. Esta é a origem do inverno e do verão. Quando mãe e filha estão juntas, a terra produz e os animais se desenvolvem. Separadas, Deméter se entristece, descuida dos humanos e vem o frio.

O nascimento de Afrodite é interessante. Conforme a profecia de Urano, Cronos também foi castrado pelo seu filho Zeus. Os testículos de Cronos caíram no oceano e geraram a deusa do amor. Afrodite, no entanto, causou “frisson” no Olimpo: por causa da sua beleza, os deuses disputavam seus favores e isto provocou um tumulto na terra e no céu.

Para resolver a situação, Zeus decidiu casá-la com Hefesto, o mais feio dos deuses, descrito como corcunda e com uma cabeleira desgrenhada. Hefesto produzia os raios usados por Zeus no interior do monte Etna. Afrodite o traiu várias vezes. Numa delas, com Ares, gerou Eros, o Cupido romano. Noutra, com Anquises, gerou Eneias, combatente da Guerra de Troia, pai de Ascânio, fundador do Império Romano.

Ares é o deus da guerra, filho de Zeus e Hera. Sempre representado como um homem forte e musculoso, ele tem prazer em causar inimizades entre os povos. Consta que pode matar um homem com apenas um grito. Nosso vizinho planetário foi batizado como Marte, o deus romano equivalente a Ares, por apresentar coloração avermelhada, a cor do sangue.

O sofredor marido de Afrodite, Hefesto, também é filho de Zeus e Hera. Ele é o arquiteto responsável por todos os palácios do Olimpo. Hefesto é tão feio que, quando nasceu, foi atirado pela mãe do alto do monte. Ele caiu no oceano e foi criado pela ninfa Tétis, mãe de Aquiles, um dos responsáveis pela vitória dos gregos sobre os troianos.

Adulto, Hefesto tornou-se hábil na forja de metais. Para se vingar da mãe, ele construiu um trono de ouro para Hera. Quando a rainha das deusas se sentou na poltrona, não conseguiu mais se levantar, porque ela estava enfeitiçada. Dioniso embebedou Hefesto e levou-o para o Olimpo, para que ele desfizesse o encanto. Nesta versão, o deus só aceitou libertar a mãe se Afrodite se casasse com ele.

O adultério vale a pena, ao menos no mundo dos deuses. Hélios, o deus do sol que tudo vê, revelou a Hefesto a traição de Afrodite com Ares. O marido corno teceu uma rede muito fina, praticamente invisível, lançou-a sobre os amantes na cama e levou-os para o Olimpo. Zeus e companhia, no entanto, apenas riram dos deuses nus e imobilizados.

Mais um caso de Zeus. Ele seduziu Sêmele, fato que provocou o ciúme de Hera. A deusa aproximou-se da mortal e persuadiu-a a pedir que o amante provasse que era o grande deus. Quando Zeus revelou seu brilho, Sêmele foi consumida imediatamente. Mas ela estava grávida e Zeus, para salvar o filho, pôs o feto em sua própria coxa, para continuar a gestação. Assim nasceu Dioniso, deus do vinho e das orgias.

Apolo e Ártemis também são frutos de mais uma traição. Hera, sempre irritada com as escapadas do marido, pediu a Gaia que não desce pouso a Leto, a amante, assim ela não poderia dar à luz. Para garantir que as crianças não nascessem, pôs uma cobra na perseguição de Leto. Mas a jovem encontrou Delos, uma ilha flutuante e, portanto, não ligada a Gaia, e ali pariu os gêmeos.

Apolo ocupou o lugar de Hélios e tornou-se o deus do sol, das artes e do arco e flecha (ele matou a serpente que perseguia a sua mãe logo após o parto). Ártemis é a deusa da vida selvagem e da caça. Também utiliza arco e flecha, mas suas armas são prateadas, ao contrário das do irmão, que são douradas. Eles representam o dia e a noite.

Hermes é esperto e rápido e por isto foi designado como o mensageiro dos deuses. Ele também é o condutor das almas para o submundo. Ele é o protetor dos mercadores, ladrões e trapaceiros, atividades que requerem rapidez e astúcia. De acordo com algumas linhas, Hermes inventou o fogo, friccionando folhas de loureiro, e a lira, construída com a carapaça de uma tartaruga. Ele roubou bois de Apolo, que logo desconfiou. Mas Hermes ofereceu a lira, para o deus da música, que ficou encantado e permitiu que o protetor dos ladrões ficasse com o gado.

Héstia era a deusa dos laços familiares, representada pelo fogo da lareira. Entre os gregos, o fogo devia ficar permanentemente aceso nos lares e templos. Filha de Cronos, ela tinha lugar garantido no Olimpo, mas, com a admissão de Dioniso, atingiu-se o indesejado número de 13 comensais à mesa. Héstia abdicou de sua posição e, em troca, Zeus determinou que ela participasse de todos os ritos e sacrifícios religiosos.