O que foi a Guerra Fria?

Com o fim da Segunda Guerra Mundial (lutada entre 1939 e 1945), duas grandes nações emergiram como as grandes vencedoras: União Soviética (extinta em 1990) e Estados Unidos. O mundo ficou polarizado entre o capitalismo e o socialismo; poucos países permaneceram não alinhados.

Com o fim da Guerra, o planeta passou a testemunhar a maior tensão política da história. Nos dois lados, houve um crescimento exponencial do desenvolvimento de armamentos, em especial os atômicos e nucleares. Em 1945, os EUA já tinham utilizados bombas com esta tecnologia para encerrar o conflito com o Japão. Duas cidades foram atingidas: Hiroshima e Nagasaki.

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Na primeira, quase 170 mil pessoas morreram, em sua maioria civis, com o impacto da explosão. Em Nagasaki, as mortes por queimaduras podem ter atingido 80 mil vitimas. Nos meses seguintes, houve muitas outras mortes e hoje, 70 anos depois do lançamento das bombas, ainda existem pessoas prejudicadas pelas detonações.

Isto ajuda a explicar a “importância” da energia nuclear para fins bélicos. Atualmente, depois de muitos tratados internacionais – o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, por exemplo, impediu que novos países desenvolvessem a tecnologia para fins militares –, EUA, Rússia, França, Inglaterra, África do Sul, Bielorrússia, Ucrânia, Israel, Índia, Paquistão, China e Coreia do Norte mantêm ogivas nucleares para bombardear os inimigos.

O número pode ser muito maior, já que muitos países, inclusive o Brasil, que instalou três usinas, utilizam energia nuclear para produção de eletricidade. Ao menos, é o motivo oficial. A AIEA, agência da ONU que tenta coordenar a “corrida pelos átomos”, tem atuação limitada, já que não pode interferir na autodeterminação das nações.

Disputa política ou ideológica?

A Guerra Fria foi um confronto tecnológico, militar, econômico e social, além das características ideológicas: a União Soviética disseminava o ideário comunista, baseado no marxismo-leninismo, com o qual conquistou vários países.

Além da Cortina de Ferro (termo cunhado pelo primeiro ministro inglês Winston Churchill), formada por Polônia, Alemanha Oriental (o país foi dividido pelos vencedores depois da Segunda Guerra), Tchecoslováquia (união de dois países: República Tcheca e Eslováquia), Áustria, Hungria, Iugoslávia e Romênia e as repúblicas soviéticas, os russos conseguiram exportar o comunismo para Cuba, Albânia, China e Indochina (Laos, Vietnã e Camboja). China e Iugoslávia desenvolveram concepções diferentes a partir das ideias de Karl Marx.

A URSS – União das Repúblicas Soviéticas – de configurou como um grande império. Antes da formação da Cortina de Ferro, o país já agregava o Azerbaijão, Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão, Estônia, Letônia, Lituânia, Moldávia e Ucrânia, além de territórios semi-independentes, como a República Fino-Carélia, na fronteira com a Finlândia.

No período pré-guerra, a Escandinávia e a Inglaterra flertavam com as ideias fascistas dos ditadores Francisco Franco (Espanha), Benito Mussolini (Itália) e Adolf Hitler (Alemanha). O rei inglês Eduardo VIII, tio de Elizabeth II (a atual soberana) teve recentemente divulgadas fotos com o chanceler alemão, inclusive fazendo a reverência nazista.

Do outro lado, os EUA valorizavam a sua esfera de influência. Os governantes do país chegaram a apoiar diversas ditaduras, inclusive no Brasil e em outros países da América Latina. Os americanos ajudaram a combater as guerrilhas no subcontinente não apenas aqui, mas também na Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai.

Os EUA foram o primeiro país a reconhecer o governo chileno do general Augusto Pinochet, que depôs o presidente eleito Salvador Allende e permaneceu no poder entre 1973 e 1990. O ditador foi acusado por diversas violações aos direitos humanos e chegou a ser preso em Londres, por crimes de corrupção.

Na Ásia, a “ideologia capitalista” dos americanos foi responsável por manter o ditador Saddam Hussein no poder durante um longo período: de 1979 a 2003. Antes disto , desde 1968, foi vice-presidente do general Ahmed Hassan al-Bakr, que, enfermo, nunca chegou a governar de fato.

O país também foi responsável pelo declínio dos xás (imperadores ou monarcas) do Irã, mas caiu em um beco sem saída: Reza Pahlevi foi deposto em 1979 e a antiga Pérsia instituiu uma república islâmica, baseada nas regras ditadas por Maomé.

Os EUA também armaram o Paquistão e o Afeganistão, envolveram-se em guerras da Coreia e na Indochina. A Guerra do Vietnã se tornou um símbolo da contracultura americana: jovens se recusaram a aceitar o alistamento militar, o movimento do “paz e amor” se espalhou pelo mundo ocidental

Cronologia

O termo “Guerra Fria” é derivado do fato de EUA e URSS nunca terem se confrontado de fato, apesar de os dois países terem participado indiretamente de muitos conflitos bélicos no mundo. Um dos principais símbolos da disputa, que inicialmente tinha como objetivo a produção de um arsenal de proporções absurdas, foi a construção do Muro de Berlim.

Berlim, antes e atualmente capital da Alemanha, foi dividida (em 1945) em quatro setores no pós-guerra: inglês, francês, russo e americano. Em pouco tempo, porém, surgiu o confronto entre capitalistas e socialistas. A sede do governo foi transferida para Bonn e, na madrugada de 13 de agosto de 1961, os russos ergueram uma barreira, para evitar que mais cidadãos fugissem para o lado capitalista. A fronteira, de 43 km de extensão, foi fechada em poucas horas.

A Guerra Fria foi iniciada oficialmente em 1947, quando Harry Truman, presidente dos EUA, fez um discurso prometendo proteger o mundo da “ameaça comunista”. Poucos dias depois, o secretário de Estado George Marshall anunciou uma iniciativa de ajuda para a combalida economia europeia (que ficou conhecida como o Plano Marshall).

Dois anos depois, a URSS deu início aos primeiros testes nucleares. As duas potências passaram a conviver com o espectro de um ataque atômico. Neste mesmo ano, 1949, foi criada a OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Em 1950, grupos pacifistas americanos começaram a promover atos públicos passaram a pressionar o governo para que ocorresse a desativação das ogivas nucleares. O argumento era que, se um lado tomasse esta iniciativa, o outro lado faria o mesmo. A ideia era boa, mas o que se viu foi um aumento exponencial do arsenal. Atualmente, os EUA possuem cinco mil e 500 ogivas de diferentes variedades.

A Rússia, com o desmembramento da URSS, possui um poder de fogo bem menos: 2.700 ogivas nucleares. O potencial, no entanto é assustador: são exatamente 57 megatons (mil toneladas de dinamite), um valor igual ou maior do que 3.500 bombas de Hiroshima.

Durante a Guerra da Coreia, que dividiu o país em dois territórios: capitalista e socialista (uma derrota dos EUA e aliados), o general Douglas MacArthur assumiu publicamente a possibilidade de detonar uma bomba atômica no Extremo Oriente. Felizmente, isto nunca aconteceu.

A guerra durou três anos, de 1950 a 1953. No final do conflito, morreu Joseph Stálin, secretário geral (e chefe de governo) do Partido Comunista da URSS desde 1922. Assumiu Nikita Kruschev. Um ano antes, a Inglaterra explodiu o primeiro artefato nuclear, na costa noroeste de Austrália: tornou-se mais um membro do clube atômico – e mais uma ameaça da a URSS.

Mas, ainda em 1953, a potência comunista testou a sua primeira arma termonuclear. Perdeu a corrida para os EUA em um ano, mas saíram na frente na “conquista do espaço”: em 1957, os russos lançaram o satélite artificial Sputnik, com uma versão militar para um míssil balístico intercontinental, o Semyorka.

A França conquistou a entrada para o clube atômico em 1960, lançando uma bomba de testes no atol de Bikini, na Polinésia francesa (a palavra biquíni, apenas um maiô de duas peças, deriva desta experiência destrutiva). Um ano depois, a Rússia lançou o primeiro homem ao espaço – um círculo em volta da Terra. O comandante foi o cosmonauta Yuri Gagarin, que cunhou a frase “A Terra é azul”.

Em 1964, a China revelou também ser portadora de um arsenal nuclear. No mesmo ano, Kruschev renunciou e o poder soviético caiu nas mãos de Leonid Brejnev. Cinco anos depois, os americanos anunciaram a criação dos MRV (veículos de reentradas múltiplas, na sigla em inglês), capazes de transportar cinco ogivas nucleares separadas.

A URSS divulgou ter conquistado a mesma tecnologia. Deu-se início a uma tentativa de acordo sobre a tecnologia nuclear, mas as tensões entre chineses e soviéticos quase deram início a um conflito entre os dos países de proporções gigantescas.

A crise dos mísseis

Até 1959, Cuba era apenas uma pequena ilha do mar do Caribe governada com forte influenciada pelos EUA. Neste ano, no entanto, uma revolução depôs o presidente (ou ditador) Fulgêncio Batista e Fidel Castro assumiu o poder no país, alinhando-se às ideologias comunistas.

Em 1961, os americanos apoiaram uma tentativa frustrada para depor o novo governante, o que determinou um alinhamento ainda maior ao bloco socialista. Um ano depois, a URSS tentou instalar uma base de mísseis em território cubano, o que fez o presidente americano John Kennedy cercar a pequena ilha, com ameaça de um ataque nuclear. Foi a crise dos mísseis.

Depois de muitos acordos diplomáticos, a URSS concordou em se retirar do Caribe, desde que os EUA afastassem os mísseis nucleares voltados para o seu território, instalados na Turquia. A ilha caribenha é notável pelos avanços em saúde e educação, mas até hoje se ressente das limitações determinadas pelo regime do partido único.

Mais cronologia

Em 1971, a China comunista substituiu a ilha de Formosa (Taiwan), que ainda considera uma “província rebelde”, no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Mais um país comunista se reunia às nações com direito a veto nas decisões da organização, ao lado de EUA, Rússia, França e Inglaterra.

Um tratado antibalístico, realizado em 1972, limitou o emprego das bombas nucleares. Foi assinado como SALT I (Treaty on Strategic Offensive Reductions, ou Tratado sobre Reduções Estratégicas Ofensivas), limitando o emprego de apenas dois sistemas nucleares em cada potência.

Dois anos depois, um acordo definiu o limite para arsenais (mísseis antibalísticos intercontinentais, submarinos nucleares e bombardeiros). EUA e URSS, no entanto, continuavam sem discutir a redução das ogivas. Enquanto isto, novos países continuavam a entrar no clube nuclear. O Brasil chegou a cogitar de construir a bomba.

Em 1979, surgiu o SALT II, sempre visando à redução das armas letais – que, a esta altura, já tinham potência para destruir uma Terra e meia. A URSS, no entanto, invadiu o Afeganistão, fato que prejudicou as negociações. Os EUA também invadiram a ilha de Granada, no mar do Caribe, para pôr fim a uma revolução de orientação marxista.

Continuando as negociações com muitas recuadas e avanços, em 1980, surgiu o tratado START (conversação sobre a limitação de armas nucleares), que fez progresso. Três anos depois, o presidente americano propôs um sistema antimísseis chamado “Guerra nas Estrelas”. Seria um escudo contra possíveis ataques nucleares.

Com uma nova constituição, sucederam-se Yuri Andropov, Konstantin Chernenko e Mikhail Gorbatchev como presidentes da URSS. Em 1988, a república socialista retirou-se do Afeganistão, fato que permitiu a atuação dos talibãs e, mais recentemente, o surgimento do Estado Islâmico.

No mesmo período, terminou a Guerra Irã-Iraque (este último país foi armado pelos EUA) e a intervenção da URSS em Angola e em Moçambique, países que conheceram revoluções socialistas nos anos 1970, depois de obter a independência de Portugal, uma das últimas potências imperialistas da Europa.

Em 1989, os alemães derrubaram o muro e reunificaram Berlim e o país, um símbolo de que o comunismo estava desaparecendo. No ano seguinte, o programa SALT II garantiu que as duas potências reduziriam as ogivas nucleares para “apenas” seis mil.

Em 1991, os dois países concordaram em eliminar todos os mísseis táticos terrestres na Europa e na Coreia, reduzindo a possibilidade de ataques com maior proximidade territorial. A URSS desapareceu no mesmo ano, fato que poderia significar o fim da Guerra Fria.

Os constantes ataques da Rússia à Ucrânia, no entanto, como a tomada da península da Crimeia, não podem nos tornar otimistas. A preocupação dos EUA, focada nos conflitos do Oriente Médio, também não serve como um incentivo.

Ao que parece, os homens continuaram a guerrear, aberta ou surdamente. Paus e pedras, conforme profetizou o cientista alemão Albert Einstein, deverão ser as nossas armas para uma possível quarta guerra mundial?