O que é compulsão alimentar? Causas, sintomas e tratamento

A humanidade nunca teve tanto alimento à sua disposição como nos dias de hoje. A partir da Segunda Guerra Mundial, a agropecuária em larga escala, as novas técnicas de cultivo e criação de gado, a produção alimentícia industrial e os sistemas de distribuição garantiram maior oferta. Isto, no entanto, teve um efeito colateral: um aumento exponencial do sobrepeso e obesidade, quase sempre relacionados à compulsão alimentar.

Certamente, muitas pessoas passam fome no mundo, mas este fato é determinado por questões políticas, guerras e muito desperdício de alimentos. O planeta produz mais que o suficiente para alimentar seus sete bilhões de habitantes, mas esta produção simplesmente não chega a algumas regiões – ou os recursos são desviados por autoridades locais.

A compulsão alimentar vem crescendo bastante. No Brasil, em 2006, 42,7% da população apresentavam sobrepeso; em 2011, o percentual saltou para 48,5%. Os brasileiros comem mal: ingerem muita carne gordurosa, leite integral, refrigerantes diários, doces e, por outro lado, apenas um quinto da população consome frutas e verduras nas quantidades recomendadas pelos nutricionistas.

Estes maus hábitos podem se tornar uma verdadeira dependência. Nós comemos mais do que o suficiente para repor energias e nutrientes, já que as refeições causam bem-estar e felicidade. Cada pessoa tem as suas preferências: massas, carnes, doces, salgadinhos, etc.

Há indivíduos com compulsão alimentar capazes de ingerir de cinco mil e a seis mil calorias em uma única refeição (o aconselhado, para um adulto saudável, é o consumo de 2.200 calorias diárias). Não é difícil perder o controle frente à feijoada do sábado ou a “pasta” do domingo, sempre seguidas da promessa de começar um regime na segunda-feira.

As diferenças

Não há nada de errado, no entanto, em saborear uma pizza ou um cheeseburger eventualmente. Muitos de nós exageramos quando nos deparamos com algumas iguarias. A diferença entre exagerar em uma refeição e sofrer de compulsão alimentar é que, no segundo caso, os exageros são diários: além de refeições exageradas, o comedor compulsivo recorre a diversos “lanchinhos” durante o dia: e não são compostos por frutas ou barras de cereais.

O portador da compulsão alimentar come uma grande quantidade de alimentos rapidamente, perde o controle e não consegue parar mesmo quando se sente saciado – ou estufado. O distúrbio pode chegar ao ponto de algumas pessoas vomitarem depois do almoço ou jantar, apenas porque ingeriram porções acima da capacidade de metabolização pelo organismo.

Psiquiatras afirmam que, do ponto de vista da perda do controle, o alcoolismo e a compulsão alimentar são doenças semelhantes, mas os comedores compulsivos têm um problema a mais: enquanto os dependentes de bebidas alcoólicas são aconselhados a resistir ao primeiro gole, não se pode orientar que um portador de compulsão alimentar evite a primeira refeição.

As causas da compulsão alimentar

Algumas situações podem desencadear a compulsão alimentar. Uma das mais comuns é a adoção de dietas inadequadas: a pessoa “fecha a boca” por alguns dias, reduz drasticamente o consumo de alimentos, para, em seguida, render-se aos prazeres da boa mesa.

Alguns doentes chegam a sabotar a própria dieta. Mesmo que tenha se consultado para iniciar a reeducação alimentar, com um programa de exercícios físicos adequados ao tipo físico, idade e condições de saúde, eles escondem doces, salgadinhos e outras guloseimas. Outras pessoas acordam durante a madrugada para “saquear a geladeira”, excedendo em muito as calorias perdidas com a saladinha e um grelhado.

Dietas mirabolantes, como a da alface, do ovo cozido, da sopa e até uma atribuída ao médium Chico Xavier, morto em 2002, não contribuem para a perda efetiva de peso ou, na melhor das hipóteses, favorecem o efeito sanfona: as pessoas se esforçam durante o período de restrições para não cometer excessos e recuperam os quilos perdidos em uma ou duas semanas.

As pessoas que adotam dietas muito rígidas costumam ter problemas com ansiedade, desânimo, falta de energia e podem desenvolver uma série de doenças. Os problemas com a autoimagem também são recorrentes: o espelho não mente e o reflexo traz consequências diretas para a vida social, conjugal e familiar.

Em situações de estresse, alguns indivíduos tendem à compulsão alimentar, enquanto outros sofrem com a inapetência. Tudo depende da estrutura psíquica. A doença pode levar a condições mais graves, como a bulimia (alternância entre grandes refeições, um sentimento de descontrole e episódios de vômitos ou abuso de laxantes). Traumas gerados no passado, como situações de negligência familiar ou abuso sexual também podem estar na raiz do problema.

Os fatores de risco

A compulsão alimentar afeta igualmente homens e mulheres, adultos e crianças. A obesidade infantil muitas vezes é estimulada pelos próprios pais, que consideram o excesso de gordura como um “sinal de saúde”. Definitivamente, não é.

A maioria das pessoas começa a comer compulsivamente depois de um período de grandes restrições alimentares. Nos consultórios de psiquiatras e psicólogos, boa parte dos pacientes não consegue expressar emoções e sentimentos. A baixa autoestima é comum na maioria dos casos.

Outro fator que conduz à compulsão alimentar é o excesso da oferta de alimentos industrializados, ricos em sódio, gorduras, açúcar, refrigerantes, glutamato (substância que desperta o apetite), carnes processadas, cereais “vitaminados”, molhos prontos e outros. Eles oferecem a praticidade de preparo, mas causam sérias deficiências.

Os sintomas da compulsão alimentar

Além de comer demais, os portadores da compulsão alimentar comem errado. Não importa a hora do dia: eles podem comer um prato de lasanha às 10h da manhã e devorar muitos salgadinhos fritos antes da hora de irem para a cama.

Os comedores compulsivos comem mais rapidamente do que o normal. Na verdade, o prazer de saborear uma boa refeição é substituído pela necessidade incontrolável de engolir tudo o que está à frente. Estes pacientes comem mesmo quando não sentem fome ou quando já estão saciados.

Outro hábito comum é tomarem as refeições sozinhos ou escondidos, para que parentes, amigos e colegas não identifiquem a compulsão. Os comedores compulsivos sentem tristeza durante a maior parte do dia e quase sempre se autorrecriminam pelos excessos.

Diagnóstico e tratamento para compulsão alimentar

O primeiro passo é encontrar um clínico geral de confiança, para que ele possa fazer uma avaliação clínica e laboratorial, para identificar possíveis doenças paralelas. Portadores de sobrepeso ou de obesidade mórbida têm maiores problemas de desenvolver diabetes, doenças cardiorrespiratórias, cardiovasculares, complicações hepáticas, etc.

O clínico, de acordo com os dados obtidos, deve encaminhar o comedor compulsivo para outros especialistas: nutrólogo ou nutricionista, endocrinologista e psiquiatra ou psicólogo. Os primeiros vão estudar o caso e sugerir um programação de alimentação saudável e sem sacrifícios. Profissionais de saúde mental estabelecem o tratamento mais adequado, de acordo com as características de cada paciente.

Não existe um teste que determine exatamente o transtorno da compulsão alimentar. O diagnóstico é definido em entrevistas e consultas de investigação. O tratamento geralmente é direcionado para aspectos físicos e emocionais.

Com o decorrer do tempo, os pacientes se instrumentalizam para lidar com emoções e sentimentos de forma adequada, a comer de forma confortável, a se comportar em grandes festas e eventos e a melhorar a autoestima. Em alguns casos, é necessário recorrer a medicamentos para combater a ansiedade e a depressão.