A crise dos sete anos existe mesmo?

Tudo começou com um filme do final dos anos 1950, estrelado por Tom Ewell e a platinada Marilyn Monroe. Em “O Pecado Mora ao lado” (originalmente, “Seven Year Itch”, ou “a coceira dos sete anos”, longa-metragem baseado em um sucesso de Broadway escrito por George Axelrod), o protagonista se decide fortemente por ser fiel à esposa, mesmo com uma viagem repentina às vésperas do aniversário de sete anos.

Não existe nenhum motivo científico para que ocorra uma crise conjugal após sete anos de convivência. No entanto, estudos indicam que muitos casais se divorciam – e um número não calculado enfrenta um período quase invencível de discussões. Provavelmente, a principal causa reside no fato de o casal ter deixado o relacionamento cair na rotina.

Muitas pessoas acreditam ter receitas infalíveis para impedir ou superar a crise dos sete anos. A maioria dos métodos, no entanto, baseia-se em “simpatias”, técnicas básicas de magia para, neste caso, recuperar um amor perdido.

Nos casamentos, no entanto, aparentemente de nada adiantam os banhos de ervas, cortar os cabelos (e jogar no mar, como oferenda para Iemanjá), “amarrar” o ser amado em uma boca de sapo, etc. Um casal supera a crise dos sete anos apenas quando consegue encontrar maneiras de se reapaixonar, de resgatar o prazer de estar na presença do cônjuge.

O filme

Toda a crise começa quando o personagem masculino, entretido na leitura de “The Seven Year Itch”, conhece a sexy Marilyn Monroe, sua vizinha, modelo iniciante em Nova York (EUA) que aspira a ser atriz (qualquer semelhança com a realidade é semelhança, mesmo).

É neste filme que foi filmada a cena em que a atriz tem as saias de um irresistível vestido de frente única levantadas “naturalmente” por uma corrente subterrânea de ar (no caso, uma saída de vento do metrô). A cena está entre as mais clássicas do cinema. Está em inglês, mas isto é o que menos importa: conheça – ou relembre – a cena:

Na verdade, no filme, a diva não faz nenhuma tentativa para seduzir o vizinho. As cenas engendradas pelo diretor Billy Wilder sempre têm duplo sentido, mas o “tarado” em questão é sempre Ewell, nunca Marilyn. Aliás, na maioria dos seus filmes, ela sempre interpreta a loira que não entende os sinais de sedução, em uma espécie de pré-edição da atual “loira burra”.

O protagonista é sempre perseguido por sonhos. Nos mais agradáveis, ele devaneia com Marilyn Monroe e seus beijos (uma das marcas da atriz era a boca bem desenhada). Em outras, o pesadelo se instala com a possibilidade de traição pela mulher, mandada para o interior por causa do forte calor do verão de Nova York. Outro medo do marido potencialmente infiel é ser morto – na verdade, abatido a tiros – pela sua parceira oficial.

O casamento

“O Pecado Mora ao Lado” aborda a crise dos sete anos de forma leve e superficial, mas trouxe à tona um problema bastante comum, a ponto de deixar o livro técnico em segundo plano. Famílias passaram a identificar a crise em diversas gerações.

A questão da crise foi aflorada nos anos 1950, quando as mulheres (nos EUA) começaram a se tornar menos dependentes de seus maridos. De um lado, a pílula permitiu a liberação sexual; de outro, o movimento feminista abriu o mercado de trabalho e progressivamente permitiu a independência financeira. “Casar e ter filhos” deixou de ser o objetivo e permanecer em uma relação insatisfatória deixou de ser a “sentença de morte” para muitas mulheres.

Por outro lado, esta liberdade transformou o casamento. De destino inevitável, ele se tornou uma possibilidade prazerosa, de um domínio do rei, com um chefe decidindo o destino dos súditos em um domínio comum para um casal construir uma história com final feliz. As mulheres saíram na frente, mas os homens aos poucos encontram seu novo papel de marido e pai, com menos poder, mas certamente com mais alegria.

A crise dos sete anos

Especialistas indicam que a crise dos sete anos pode ocorrer em qualquer momento dos primeiros anos de relacionamento. O problema tem início quando um dos cônjuges começa a questionar sobre os objetivos da união. A percepção de que o casamento não está ampliando o nível de felicidade pode ser a origem de discussões e brigas.

O apelido da crise remete a várias situações cotidianas que se acumulam gradualmente. Um “par de pombinhos” decide se casar e escrever uma nova história (de preferência, com final feliz). Isto significa estabelecer um novo lar, com tudo o que envolve esta novidade: decorar os ambientes, fazer os primeiros encontros sociais enquanto casal, estabelecer contatos com a nova família, ter filhos, vê-los crescer até a idade escolar.

Então, pode acontecer a “mesmice”. Marido e mulher não estabelecem novos objetivos, esquecem-se de desenvolver formas para se reapaixonar e caem no tédio. “Até que a morte nos separe” está longe de ser uma possibilidade real e surge a possibilidade de separação.

No início de qualquer relacionamento, as discussões são raras e rápidas. A convivência diária, no entanto, parece facilitar as brigas mais intensas. Em um casamento, cada cônjuge precisa estabelecer seus limites para conceder e para delimitar seu próprio espaço. O problema é que a maior parte dos casais não se lembra de deixar isto claro, o que só faz acumular conflitos. Não é à toa que a crise, em alguns anos, se instale de forma aguda.

Quando se fala em crise dos sete anos, todos os casais são unânimes em dizer que “aconteceu de repente” (o próprio soneto de Vinicius de Moraes afirma: “de repente, não mais que de repente, fez-se de triste o que se fez amante e de sozinho o que se fez contente; fez-se do amigo próximo, o distante, fez-se da vida, uma aventura errante”).

Mas isto não acontece. Todos nós estamos submetidos a crises conjugais, mas elas são construídas em cada “não”, em cada “esquece”. Estes são os tijolos do muro chamado “crise dos sete anos” – fatos que permitem a insatisfação e constroem a felicidade.

O antídoto? Seja feliz o tempo todo. Apaixone-se pelo cônjuge. Reclame do que não gosta, releve as pequenas causas de irritação. Seja cúmplice. Coopere, não entre em combates e disputas. Em última análise, ame e ame-se. Quem faz isto estimula o parceiro a estar presente. Transforme a sua casa em um lar, no lugar de construir um ringue.