Por dentro de um formigueiro

Para nós, formigas são ótimas para estragar piqueniques, destruir canteiros e dar picadas doloridas. Mas elas são fundamentais para manter o equilíbrio ecológico e, para isto, organizam-se em colônias bem organizadas: os formigueiros. Aqueles morrinhos parecidos com vulcões (com uma cratera no alto) que vemos no chão são apenas a entrada de uma organização social bastante hierarquizada. Fizemos um raio-X, para saber o que ocorre por dentro de um formigueiro.

Para manter o formigueiro em ordem, entre 30% e 40% da população estão desenvolvendo alguma tarefa, durante as 24 horas do dia. Em caso de invasão, inundação, etc., todos os indivíduos adultos entram em atividade.

O formigueiro é altamente estratificado. As formigas estão divididas entre os soldados, que defendem a colônia, reprimindo uma invasão de cupins ou de formigas de outras colônias, e as operárias, que recolhem folhas, pétalas, ramos e até animais. Também são responsáveis por plantar fungos comestíveis: parte delas masca o material recolhido e o depositam em longos túneis, onde nascem os cogumelos que são seu alimento; outro grupo cuida dos filhotes (larvas) e responde pela limpeza e retirada de detritos dos caminhos do formigueiro, que, apesar de parecer um labirinto aos nossos olhos, é percorrido com imensa facilidade – e muita pressa – pelos habitantes. Entre as 12 mil espécies de formigas já catalogadas, saúvas e quenquéns são os gêneros que constroem os formigueiros mais bem organizados.

O centro do formigueiro é a formiga-rainha. O nome foi dado por humanos, que identificaram um inseto bem maior, aparentemente inativo, numa câmara interna da colônia. Na verdade, a rainha é apenas a mãe de todos os indivíduos. Ela bota ovos praticamente sem parar, que são recolhidos por operárias e postos em ninhos até sua eclosão, quando as larvas são transferidas para o berçário. Algumas espécies não possuem uma rainha, mas fêmeas que, num determinado ponto do ciclo evolutivo, criam asas: é o momento da reprodução.

Insetos com capacidade reprodutiva se diferenciam dos demais pela forma como são alimentados na fase larval. Operárias e soldados recebem porções normais e os insetos que serão sexualmente ativos são superalimentados.

As principais funções ambientais das formigas são a predação de cupins e vermes, por exemplo, reduzindo as populações desses animais, e a coleta do excesso de material vegetal sobre o solo, o que contribui para a manutenção da fertilidade e insolação do terreno. Os desequilíbrios acontecem por ação humana: elas podem invadir terras agricultáveis e migrar em porões de navios para locais sem predadores naturais. Como estes insetos têm grande capacidade de adaptação, colonizam todas as regiões do globo, exceto a Antártica. Recentemente, foi encontrado um formigueiro entre Portugal e Espanha, colonizado por formigas nativas da Argentina, da espécie Linepithema humile. O formigueiro tem mais de seis mil quilômetros de extensão e abriga bilhões de indivíduos.