Pequenos animais mortais

Dizem que os melhores perfumes (e os piores venenos) estão nos menores frascos. Pode-se dizer quase o mesmo sobre a fauna do planeta: os animais mais mortais se escondem em corpos pequenos e aparentemente frágeis. Certamente, crocodilos, búfalos, hipopótamos & Cia. merecem o nosso respeito, mas a chance de encontrar um animal destes pela frente é muito improvável.

Nosso medo destes grandes animais é ancestral: surgiu quando passamos a viver na savana, com poucos esconderijos, e fazíamos parte do cardápio dos grandes felídeos – e mais tarde de outros animais que encontramos no trajeto para dominar o mundo: ursos, cobras, elefantes, leões-da-montanha e até carneiros: levar uma marrada em uma região escarpada podia significar a morte.

Enquanto isto, alguns pequenos animais insuspeitos – e outros, nem tanto – ocultavam-se na água (às vezes uma poça é suficiente) e em frestas das rochas, prontos para inocular veneno e outros agentes patogênicos, atrapalhando bastante a vida humana.

Otimismo e alegria

Estes são os significados da cor amarela, que representa o Sol, a prosperidade e a felicidade. A menos que você esteja na região Sudeste ou Centro-Oeste do Brasil, habitat do Tityus serrulatus, mais conhecido com escorpião-amarelo.

O animal mede apenas sete centímetros (metade do comprimento fica com a cauda e o ferrão). Cada espécime pode gerar até 160 filhotes durante a vida toda (a espécie se reproduz por partenogênese, sem necessidade de reprodução; só existem fêmeas). Com a urbanização acelerada do país, o escorpião-amarelo se transformou em uma ameaça doméstica: ele é o principal responsável por acidentes com escorpiões no país.

O veneno do escorpião-amarelo tem efeito neurotóxico (age sobre o sistema nervoso). A picada provoca dor intensa no local e se dispersa por todo o corpo, levando a um estado de hiperestesia (a vítima se torna extremamente sensível ao toque). A ação neurotrópica age sobre o bulbo (parte do encéfalo que controla os movimentos respiratórios e cardíacos), provocando morte por parada cardiorrespiratória se não houver socorro urgente.

Matando o marido

Ela dá nome a 32 espécies diferentes, espalhadas pelo mundo todo: viúva-negra. A Latrodectus mactans vive na América e sua principal característica é uma faixa vermelha em forma de ampulheta no abdômen. No Brasil, a viúva-negra é encontrada perto do mar (é muito comum na baía de Guanabara).

O nome provém de um hábito curioso da fêmea: ela geralmente mata e devora o macho logo depois da cópula. Na verdade, isto é um mito. Durante o coito, o macho introduz a genitália na vagina da fêmea. Logo após a introdução dos espermatozoides, com um gesto brusco, o “futuro pai” quebra a genitália dentro da fêmea.

Com isto, ele impede que outro macho copule com a mesma fêmea, mas, como as aranhas possuem sistema circulatório aberto, o macho acaba morrendo de hemorragia. Para não desperdiçar alimento, a noiva (agora viúva) se alimenta do pretendente.

A viúva-negra é muito comum no Brasil, mas acidentes fatais com humanos são relativamente raros. Os sintomas da picada surgem entre 30 e 60 minutos depois do ataque: sudorese, dor local intensa, dor no abdômen e, nos casos mais graves, choque (que leva à morte).
Outras duas aranhas brasileiras, comuns em todas as regiões do país, são menos conhecidas, mas bem mais mortais: a aranha-marrom e a armadeira. Esta última é considerada a aranha mais peçonhenta do mundo.

Só para homens

Esta exclusividade masculina não causa inveja em ninguém. Aliás, nem é uma exclusividade do “sexo forte”, mas é mais comum encontrar casos envolvendo homens, porque envolve o hábito de nadar sem roupas em alguns rios da região Norte, especialmente na bacia do Tocantins.

O candiru (Vandellia cirrhosa) é um peixe em forma de enguia que atinge até 18 cm, mas a maioria não chega aos 8 cm. Trata-se de um animal parasita. Em geral, ele se instala nas guelras de outros peixes e permanece sugando sangue até a morte do hospedeiro, o que lhe valeu o simpático nome de peixe-vampiro.

O peixe é atraído pelo calor e pelo cheiro de algumas substâncias presentes na urina. Os banhistas nus – especialmente os porcalhões que urinam na água – são uma “tentação” para o candiru. Ele se instala no canal da urina e, não tendo como voltar, abre as nadadeiras (em forma de guarda-chuva) e passa a se alimentar do sangue e tecido do agente hospedeiro. Só pode ser retirado através de cirurgia – apesar de muitos tratamentos caseiros serem tentados pelos ribeirinhos –, mas muitas vítimas morrem antes de receber socorro médico.

Boiando nas águas

Este animal é um pouco maior, mas igualmente mortal. Aliás, muito mais mortal. A vespa-do-mar (Chironex fleckeri) nada pelos mares entre o Vietnã e o norte da Austrália. A Grande Barreira de Corais é um dos locais prediletos para acasalamento e reprodução. É também um lugar muito procurado por mergulhadores amadores e profissionais.

Aparentemente, esta é a única espécie de água-viva dotada de olhos. Ela é atraída pelo vermelho e foge do preto. Tem o tamanho de uma bola de basquete, mas seus tentáculos podem atingir até cinco metros (estão constantemente sendo renovados).

O veneno da vespa-do-mar, liberado ao mínimo toque nos tentáculos, é 500 vezes mais potente do que o da caravela-portuguesa. Ela pode matar uma pessoa em apenas três minutos. A peçonha armazenada em um único espécime tem potencial para tirar a vida 60 pessoas adultas (ou de um animal de 3.500 quilos, em menos de meia hora).

Cinematográficos

Eles inspiraram diversos personagens do cinema e da TV. O mais famoso deles é Mickey, primeira criação de Walt Disney, em 1928. Outro bem conhecido e Jerry, que faz dupla com o gato Tom e vive atormentando o companheiro. Mas os camundongos, na vida real, não têm nada de engraçado, a menos que sejam criados em gaiolas especiais.

A espécie Mus musculus é comum em toda a Europa, Ásia, América do Norte, Oceania e litoral da América do Sul. Camundongos não representam um perigo por eles mesmos: são animais pequenos (os maiores espécimes atingem oito centímetros de comprimento, mas os animais brasileiros não ultrapassam os cinco centímetros).

Alguns primos próximos, como as ratazanas (do gênero Rattus), inspiram muito mais “respeito”: além da mordida dolorosa, que pode provocar uma infecção generalizada, elas podem transmitir tifo, toxoplasmose e peste bubônica, doença que dizimou boa parte da população europeia em duas epidemias, nos séculos XIV e XVI e reapareceu recentemente no continente africano.
Os animaizinhos, no entanto, são vetores de diversas doenças: coriomeningite linfocítica (que pode evoluir para uma encefalite), micoplasmose, pasteurelose (ou cólera aviária, que pode provocar septicemia hemorrágica), raiva, salmonelose e leptospirose são as mais comuns.

O zunido é apenas um dos problemas

No Reino Animal, o mosquito é o nosso maior inimigo visível (bactérias, fungos e vírus podem causar estragos bem maiores; na verdade, são algumas bactérias comensais dos mosquitos as responsáveis pelas doenças).

Incontestavelmente o número 1 entre os pequenos animais mortais, mosquito não é uma espécie, mas o nome comum a diversos animais da subordem Nematocera (insetos voadores dotados de duas asas [são dípteros], e dois halteres [asas adaptadas para manutenção do equilíbrio] e uma tromba, para sugar néctar, seiva ou sangue). Eles existem há 170 milhões: foram contemporâneos de muitos dinossauros.

Nem todos os mosquitos são nocivos à saúde humana (alguns só atrapalham por causa do zunido das asas, que pode prejudicar o sono). A picada não é uma arma de defesa, mas de alimentação. Apenas as fêmeas sugam sangue, necessário para a maturação dos ovos (depois da postura, a maior parte das espécies morre; os machos morrem logo depois do coito). A coceira intensa é devida a um anticoagulante presente na saliva.

Elas (as “pernilongas”) são atraídas por alguns odores liberados por bactérias presentes na pele humana (isto explica por que algumas pessoas são especialmente suscetíveis, sendo picadas com mais frequência). Perfumes também chamam a atenção destes insetos.

A malária, transmitida por mosquitos do gênero Anopheles, está longe de ser a única doença tropical que acompanha a convivência entre pernilongos e humanos. Febre amarela, doença do sono, dengue, vírus do Nilo e febre chikungunya são algumas das enfermidades transmitidas pela picada.

No Brasil, dengue e chikungunya estão entre as mais comuns. A dengue não é uma doença mortal, desde que tratada adequadamente. O grande problema é a segunda infecção (existem quatro tipos do transmissor alfavírus, cujo vetor é o Aedes Aegypti; portanto, a mesma pessoa pode contrair a doença em quatro ocasiões diferentes).

A segunda infecção pode causar a forma hemorrágica da doença, cuja morbidade é muito mais alta. No Brasil, a dengue hemorrágica surgiu no ano 2000, com a chegada do subtipo DEN-3. O mosquito vive até 45 dias depois de atingir a fase adulta.