Os evangelhos apócrifos: verdade ou mentira?

Os textos do Novo Testamento considerados canônicos pela Igreja Católica são quatro evangelhos, o Livro dos Atos dos Apóstolos, 21 cartas de discípulos e o Apocalipse. Todos os demais, mesmo os comprovadamente escritos nos dois primeiros séculos da Era Cristã, foram considerados heréticos.

De acordo com a Igreja Católica, os livros escolhidos para formar o Novo Testamento são os únicos verdadeiros. A Igreja se considera única depositária da tradição apostólica, mas na verdade ela é a corrente cristã que prevaleceu a partir do século IV (com a afirmação trindade e de que Jesus tinha duas naturezas: humana e divina), em detrimento de outras vertentes, como o Gnosticismo. Parte dos evangelhos apócrifos (a palavra grega significa “secreto”) é formada apenas de relatos que não concordam com dogmas da igreja majoritária. Ocorre que estes mesmos dogmas foram se desenvolvendo com o tempo. Um deles, por exemplo, o da infalibilidade papal, que afirma ser o papa impossibilitado de errar quando fala sobre moral e fé, por estar assistido pelo Espírito Santo, só foi estabelecido no século XIX. No século XVI, Martinho Lutero retirou alguns livros que considerava contrários à fé verdadeira, ou à sua opinião sobre o que é fé.

Entre os evangelhos apócrifos mais conhecidos, estão o de Pedro e o de Maria Madalena. O evangelho de Pedro parece ser um rascunho de outro texto aceito pela Igreja, o livro segundo Marcos (um provável parente do discípulo Simão Pedro). Já o texto atribuído a Maria Madalena provoca controvérsias: nele, Jesus diz, entre outras coisas, que não há pecado. Alguns textos descrevem a infância de Jesus. Num deles, o menino mata sem querer um pássaro e ressuscita-o em seguida.

Outros são bem mais recentes, como o que conta uma estranha versão: Jesus teria se casado com Maria Madalena e tido um filho (ou mais) com ela. Na cruz, quando ele diz “mulher, eis teu filho, filho, eis tua mãe”, estaria referindo-se à sua esposa e filho, e não a Maria e João, conforme a explicação tradicional. Na sequência da história, o filho presumido de Jesus teria ido para a Europa e dado origem à dinastia merovíngia, cujos reis governaram França e vários reinos alemães durante os séculos VI e VII. É evidente que quem contou a história queria destacar esses soberanos.

Um texto mais recente foi encontrado em 1945, foi atribuído ao apóstolo Tomé. Apesar de concordar em grande parte com os evangelhos canônicos, o livro faz parte de uma coleção de livros gnósticos encontrada por um camponês em Nag Hamadi, no Egito, razão por que não foi aceito pelas igrejas cristãs, que contestam sua autenticidade.