Detetives famosos da literatura

Tudo começou com Edgar Allan Poe, que publicou, a partir de 1841, “Os Assassinatos da Rua Morgue”, num jornal da Filadélfia (EUA), em colunas semanais. A série atraiu a atenção dos leitores do periódico e alavancou as vendas. Nos “Assassinatos”, Poe dá vida a Auguste Dupin, um cavaleiro da Legião de Honra francesa. Dupin mora em Paris com um amigo próximo e não é de fato um detetive: ele investiga os crimes para provar a inocência de um homem injustamente acusado. O cavaleiro aparece em outros dois livros: “O Mistério de Marie Rogêt” e “A Carta Roubada”.

“Os Assassinatos” transformou-se posteriormente em filme, levado às telas em 1968. O gênero caiu no gosto popular em função das tramas recheadas de intrigas, crimes e muitos suspeitos, cada um com seus próprios motivos. Assim, surgiram muitos outros detetives famosos na literatura mundial.

Sherlock Holmes

Fleumático, de raciocínio rápido, carismático e um tanto arrogante e presunçoso, Sherlock Holmes é de longe o detetive mais famoso da literatura. Arthur Conan Doyle situou sua carreira na virada do século XX. Holmes aparece pela primeira vez na crônica “Um Estudo em Vermelho”, publicado em 1887 no anuário londrino “Beetom Christmas”.

O método científico e a lógica dedutiva são as principais características do detetive, sempre coadjuvado por seu melhor amigo, Dr. Watson (talvez inspirado no amigo de Dupin). Holmes consegue desvendar crimes considerados insolúveis mesmo pela Scotland Yard (a polícia de Londres), para espanto do amigo inseparável: ao concluir suas deduções, sempre repete a frase: “Elementar, meu caro Watson”.

A capa, o chapéu e o indefectível cachimbo são as marcas registradas do personagem. Até seu endereço, na Baker Street, 221-B, tornou-se famoso. Hoje, abriga um museu que reúne artigos, ilustrações e manuscritos das aventuras de Holmes, que encontra criminosos em 56 contos e quatro romances, o último deles publicado em 1927, quando o personagem tinha 86 anos. A crítica considera “O Cão de Baskerville” a obra-prima de Doyle.

Hercule Poirot

“O Misterioso Caso de Styles”, escrito por Agatha Christie em 1916 e publicado quatro anos depois, apresenta o detetive belga, bastante diferente de Holmes: é bem-humorado e receptivo. No entanto, Poirot é extremamente metódico, e talvez seja esta a chave de seu sucesso. Depois de se aposentar da polícia londrina, tornou-se um dos detetives mais famosos da Europa.

Baixinho, careca e de bigodes tingidos, Poirot não impressiona no primeiro contato. Mas ele utiliza esta descrença inicial para fazer perguntas aparentemente desconexas, sem relação com o crime investigado, fala de óperas, de mulheres, e assim consegue conquistar a confiança dos contratantes e suspeitos.

O personagem aparece em 33 romances e 54 contos da autora inglesa, como “Morte sobre o Nilo”, “O Caso dos Dez Negrinhos”, “Assassinato no Orient Express” e “Treze à Mesa”. A série termina em 1975, com a publicação de “Cai o Pano”. Esta obra, que narra a morte do detetive, foi escrita 35 anos antes e ficou guardada num cofre até um ano antes da morte da autora. Agatha Christie não queria que ninguém mais escrevesse casos do seu personagem.

Miss Marple

Jane Marple é outra criação de Agatha Christie. É uma simpática senhora do interior da Inglaterra (mora no vilarejo de Saint Mary Mead), gosta muito de crochê, cria gatos, cultiva seu jardim, frequenta a igreja e é solteira. A personagem nunca procura o crime: ele sempre surge acidentalmente, especialmente nas viagens que faz a Londres para visitar o sobrinho Raymond.

O método da detetive improvisada é simples: ela traça paralelos entre as características do crime e acontecimentos ocorridos em Saint Mary Mead e, assim, traça suas conclusões. Ela faz comentários inocentes e observa a reação dos presentes. Por fim, espanta todos os que a consideram uma senhorinha ingênua e aponta o culpado.

A trajetória de Miss Marple começou em 1930, com “A Casa do Pastor” e só terminou em 1976, ano da morte da autora, com “Um Crime Adormecido”.

Comissário Maigret

O escritor belga Georges Simenon criou o comissário da sessão de homicídios da polícia francesa Jules Maigret em 1929 e imaginou-o um cinquentão casado, sem filhos. Maigret está sempre com um pesado casaco escuro e, como o colega Sherlock Holmes, nunca larga o cachimbo (ele tem uma coleção).

Além dos métodos policiais, Maigret conta com uma boa dose de intuição para resolver seus casos. Apesar de ter muitas tarefas burocráticas para resolver em seu escritório no Quai d’Orfèvres, ele prefere estar nas ruas no encalço de algum suspeito.

Desde o primeiro livro, “O Assassino sem Rosto” (1931), até o último, “Maigret e o Sumiço do Sr. Charles” (1972), a personagem protagonizou 75 romances e 28 contos, muitos deles transformados em filmes e seriados de televisão. Mas Simenon, durante um período, parece ter se cansado do detetive: nos três primeiros anos, 19 romances foram publicados; depois disto, Maigret ficou oito anos na geladeira, reaparecendo apenas em 1942.

Um detetive brasileiro

Luís Fernando Veríssimo criou Ed Mort como uma paródia dos grandes detetives da literatura. O personagem está sempre com problemas financeiros e metido em muitas encrencas. No seu primeiro caso, desvenda quase sem querer o desaparecimento de um jovem que trabalha na pastelaria que costuma frequentar.

Ed Mort foi transformado em quadrinhos desenhados por Miguel Paiva, publicados em jornais nos anos 1980 (posteriormente, o material foi compilado e transformado em cinco livros). Em 1997, Ed Mort transformou-se em filme, dirigido por Alain Fresnot. O personagem central foi interpretado por Paulo Betti.