As missões do anjo Gabriel

O “homem forte de Deus”: este é o significado do nome de Gabriel, que, apesar de ser frequentemente citado como arcanjo na literatura religiosa, só é referido na Bíblia (Antigo e Novo Testamentos) e no Corão como pertencente à primeira ordem angélica. Em diversas narrativas dos textos abraâmicos, Gabriel teria exercido missões divinas, anunciando os planos de Deus para a humanidade.

Gabriel aparece pela primeira vez na segunda parte do Livro de Daniel, que narra as experiências dos judeus exilados na Mesopotâmia (território do atual Iraque), no período conhecido como Cativeiro da Babilônia, por volta do século V a.C. Nessa época, os persas dominavam a região. O livro provavelmente foi escrito no século II a.C., época em que o rei Antíoco queria impor os costumes gregos a Israel e perseguia a cultura e religião judaicas. Daniel, assim, é um grito de manifestação cívica.

Daniel é descrito como um grande profeta, que conseguiu interpretar os sonhos de Nabucodonosor e com isto consegue as boas graças do rei. Noutra visão, porém, o personagem não conseguia decifrar o significado. Ele próprio viu um carneiro com um chifre maior que o outro, que dava marradas para o norte, o oeste e o sul e ninguém podia resistir a ele. Em seguida, viu um bode que vinha o ocidente, com um único chifre entre os olhos, que lutou com o carneiro e o matou. Pouco tempo depois, quebrou-se o chifre do bode e em seu lugar surgiram quatro cornos menores.

Gabriel é enviado por Deus com a missão de explicar a visão. O carneiro de dois chifres e o reino de medos e persas, que dominou toda a Mesopotâmia. Em pouco tempo, no entanto, Alexandre Magno, da Grécia, invadiu a região com seus exércitos e implantou um exército que incluía a Pérsia, o Oriente Médio. Mas o rei macedônio morreu jovem e seus principais generais – os quatro cornos menores – tornaram-se soberanos em diferentes territórios.

Gabriel explicou em seguida que haveria um período de 70 semanas, em que a opressão e o pecado prevaleceriam, até que surgisse o enviado para ungir o santo dos santos. Certos autores que cada dia destas semanas seria, na realidade, equivalente a um ano (portanto, um período de quase cinco séculos). Alguns identificam o fim do “período de opressão e pecado” com a deposição de Antíoco, enquanto, para os cristãos, trata-se da vinda do Messias.

As anunciações

Já no Novo Testamento, Gabriel reaparece duas vezes. O evangelista Lucas narra que o anjo visitou Zacarias, marido de Isabel (prima de Nossa Senhora). O enviado teria dito: “Eu sou Gabriel, que está na presença de Deus”. Em seguida, teria anunciado que Isabel teria um filho, que deveria receber o nome de João, e ele seria o predecessor do Messias.

Confuso, Zacarias duvidou num primeiro instante, motivo por que permaneceu mudo durante toda a gravidez de Isabel. Ao nascer a criança, perguntaram que nome receberia, ao que a mãe respondeu: João. A comunidade, no entanto, achou o nome estranho, já que não havia ancestrais na família e a tradição mandava repetir os nomes dos ascendentes. Zacarias, no entanto, pela primeira vez após muitos meses, voltou a falar e confirmou o nome daquele que viria a ser conhecido por João Batista.

Para os cristãos, a maior missão de Gabriel ocorreu meses depois. O mesmo evangelista afirma que “foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, a uma jovem virgem chamada Maria e, chegando diante dela, anunciou: Salve, Maria, cheia de graça, o Senhor é contigo. Não tenhas medo, Maria, pois estás na presença de Deus. Tu conceberás um filho e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Ele será filho do Altíssimo e seu reino não terá fim”. A jovem ficou confusa, mas não titubeou. A saudação do anjo foi eternizada na oração “Ave, Maria”.

O anjo Gabriel e o Islã

Mais uma vez, Gabriel foi incumbido por Deus de visitar Maomé, quando o profeta meditava e orava numa montanha de Meca (atual Arábia Saudita, uma das cidades sagradas dos muçulmanos). Gabriel recitou todo o livro sagrado para Maomé, que, por ser iletrado, passou a transmitir oralmente as revelações divinas. Os primeiros discípulos começaram a anotar as instruções e ensinamentos, cujo conjunto forma o Corão.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos, o fato de o profeta não saber ler foi uma necessidade para manter a pureza dos ensinos de Alá transmitidos pelo anjo Gabriel. Um professor poderia ter influenciado suas ideias, incluindo conceitos não exarados de Alá.