Arlequim, Pierrô e Colombina

A Commedia Dell’Arte surgiu na Itália, no século XVI. Era um contraponto à comédia erudita, que trazia textos clássicos para o palco, representados em latim (idioma inacessível para a maioria da população: o italiano passou a ser usado nas artes ainda no início do século XIV). Apesar do nome, as peças não eram necessariamente divertidas: o termo comédia, originalmente, serve para indicar uma obra que mescla elementos sagrados e profanos. Os nomes Arlequim, Pierrô e Colombina surgiram na França, quando o estilo teatral foi importado pelo país.

Os grupos viajavam de cidade em cidade, apresentando-se em praças, utilizando as próprias carroças como palco. A estrutura dramática era sempre a mesma: Pierrô, Arlequim e Colombina são os protagonistas, empregados de Pantaleão, um tirano doméstico e comerciante avarento, pai de Horácio e Isabela (que representam e elite, sempre explorando a classe trabalhadora). Completam o elenco o Doutor, um intelectual cioso de sua sabedoria, e o Capitão, um militar covarde, que foge da frente da batalha, mas sempre se dá ares de valentão.

Apesar deste esquema aparentemente fixo, a Commedia dell’Arte fundamenta-se no improviso. Personagens são incluídos e retirados e os “cacos” – textos inseridos pelos atores no momento da apresentação – são frequentes e geram muitas risadas. A Commedia dell’Arte influenciou fortemente o teatro besteirol e o trio protagonista, o Carnaval do mundo todo.

Pierrô (nascido Pietrolino na Itália) ama Colombina, que balança entre dois amores. Arlequim, mais astuto e muito traiçoeiro, acaba conseguindo os favores da jovem. Pierrô é o mais pobre dos três: veste-se com roupas feitas de farinha de trigo, pó que se espalha em seu rosto. Por isto, é sempre representado com roupas largas e a face pintada de branco.

O compositor brasileiro Noel Rosa popularizou o personagem no Brasil nos anos 1930, ao compor “Pierrô Apaixonado”: “um pierrô apaixonado, que vivia só cantando, por causa de uma Colombina acabou chorando, acabou chorando”. Por causa da mágoa, a maquiagem do Pierrô inclui uma lágrima escorrendo de um olho.

Na Dinamarca, é um dos principais atrativos de Bakken, o parque de atrações mais antigo do mundo. De acordo com o parque, o personagem é ainda mais antigo, tendo sido criado na Turquia há mais de quatro mil anos. A publicidade afirma que a boca vermelha e exagerada era obtida com cortes para alargar os lábios dos atores.

Pierrô é o símbolo da ingenuidade, mas, em tempos em que “é preciso levar vantagem em tudo”, ele é mais comumente representado como um grande bobo.

A função original do Arlequim (Polichinelo, na Itália) era apenas divertir o público durante os intervalos das apresentações, com performances acrobáticas. A máscara negra e os trajes multicoloridos, feitos com retalhos em forma de losango, atraíam ainda mais a atenção.

Introduzido na Commedia dell’Arte, Arlequim é apresentado como um espertalhão preguiçoso, que sempre empurra suas tarefas, nas propriedades de Pantaleão, para outros servos. O personagem se faz de ingênuo para ganhar a confiança dos colegas. Sempre cria confusões, mas usa a agilidade física para escapar das situações delicadas e arriscadas que cria. Estas situações são o principal foco de improviso das apresentações.

No Brasil, especialmente na região Nordeste, o personagem foi absorvido pelo Carnaval. De acordo com o folclore, ele anda pelas ruas, tentando encontrar seu par. Apenas idosos, mulheres virgens e crianças conseguem enxergá-lo e, mesmo assim, por poucos instantes. Arlequim está sempre tentando roubar doces, cigarros e, principalmente , beijos das donzelas.

Colombina é a aia de Isabela e tão refinada quanto seus amos. Dividida entre o bom-mocismo de Pierrô, que nunca encontra coragem para declarar seu amor, e a astúcia de Arlequim, acaba decidindo-se pelo segundo, seduzindo-o com passos graciosos que inspiraram diversos espetáculos de balé. A palavra Colombina significa Pombinha.

A jovem está sempre envolvida em intrigas e fofocas, especialmente com as aventuras amorosas de sua ama, Isabela. Colombina sempre resolve os problemas com inteligência e bom humor. Colombina finalmente decide-se por Arlequim depois de um beijo quente e apaixonado, cena que costumava causar furor nas apresentações dos séculos XVII e XVIII.

As caracterizações destes personagens tornaram-se fantasias muito comuns: Pierrô é o palhaço clássico, com roupas folgadas e boca vermelha, Arlequim fundiu-se ao bobo da corte, com losangos, máscara e chapéu de guizos e a roupa da Colombina evoluiu até se tornar o traje da bailarina clássica, com sapatilhas e o tutu.