A verdadeira história da Páscoa

No hemisfério norte, o inverno termina entre 20 e 22 de março: é o equinócio da primavera. Diversos povos, como babilônios, gregos, romanos, germanos e celtas promoviam festivais nesta data, para comemorar o fim do frio. Era uma passagem entre a escuridão e a luz, e os antigos agradeciam aos deuses por mais um período propício para o plantio.

Para os cristãos, a Páscoa significa a ressurreição do Cristo e, com o avanço da religião, os festivais pagãos deram lugar a cerimônias religiosas. A tradição diz que Jesus veio com a missão de tomar os nossos pecados e, imolando-se, salvar a humanidade. São Paulo escreve, na primeira carta aos coríntios: “Purificai-vos do velho fermento, para que sejais massa nova, pois sois pães ázimos, uma vez que o Cristo, nossa Páscoa, foi imolado”.

Os judeus imolavam cordeiros e comiam pães sem fermentos (ázimos) durante a comemoração da Páscoa. São Paulo se apropria desses símbolos e compara Jesus ao cordeiro que morreu para nos livrar do pecado. Efetivamente, o Agnus Dei (cordeiro de Deus) foi introduzido na celebração da missa no século VIII.

Os símbolos da Páscoa são arquetípicos. O coelho representa a fecundidade e o ovo, a promessa de vida. A relação entre eles e a nova primavera é óbvia. Entre os povos germânicos, era comum decorar e pintar ovos (de galinha) para distribuir entre as crianças no festival.

O mito grego para simbolizar este eterno retorno é a seguinte: Deméter, deusa da fartura e das colheitas, tinha uma filha, Perséfone. Certo dia, Hades, deus dos infernos, viu a moça e apaixonou-se de imediato. Raptou-a e levou-a para seus domínios. Desde este dia, Deméter descuidou-se de seus afazeres, para só pensar em encontrar Perséfone. Enquanto isso, a Terra conheceu um longo período frio e estéril. Zeus decidiu intervir e fez um acordo com Hades e Deméter: Perséfone passaria um período com o marido e outro com a mãe. Perséfone volta dos infernos no equinócio da primavera e é devolvida a Hades no equinócio de outono.

O Catolicismo espalhou-se rapidamente por toda a Europa e o primeiro movimento da Igreja foi absorver costumes e festas das culturas locais, mesclando-os ao Evangelho e aos ritos que foram sendo gradualmente estabelecidos. Posteriormente, quando praticamente assumiu o poder político do continente, passou a perseguir cultos não cristãos, que foram totalmente extintos.

O principal problema, para mim, é que a Páscoa é envolvida com muitos ritos fúnebres: um pouco da vida, muito da paixão e quase nada da ressurreição (que pode ser entendida simbólica ou literalmente), e a relação entre dor e redenção fica cada vez mais forte, quando eu entendo que a redenção deve estar associada à alegria e ao prazer.