A associação Médicos sem Fronteiras

A associação Médicos sem Fronteiras surgiu na França (o nome original é Médecins sans Frontières), em 1971, formada por jovens médicos e jornalistas liderados pelo Dr. Bernard Kouchner. O grupo acompanhou a Cruz Vermelha à Biafra, para tentar ajudar os civis. A Biafra declarou-se independente da Nigéria em 1970, dando início a uma guerra que isolou a população da região e provocou milhares de morte por fome e desnutrição.

Ao retornar à França, os Médicos sem Fronteiras avaliaram que a política de neutralidade da Cruz Vermelha era inadequada, e que era preciso, além da ajuda humanitária, organizar ações de sensibilização da imprensa e das instituições políticas, e estabeleceu-se como organização independente. A filosofia da entidade é a de que todas as pessoas têm direito a atendimento médico e cuidados mínimos, e este direito é mais importante do que as fronteiras nacionais.

A associação Médicos sem Fronteiras é uma entidade sem fins lucrativos, que presta ajuda médica e humanitária em situações de emergência: conflitos armados, catástrofes naturais (como terremotos e erupções vulcânicas), epidemias, fome e exclusão social. A associação não permite nenhum tipo de discriminação por etnia, sexo, religião, filosofia ou orientação política.

Em 1972, a MSF fez sua primeira ação na Nicarágua, após um abalo sísmico de grandes proporções. Em 1979, após um terremoto que devastou grande parte da Indochina (sudeste asiático), a organização montou a operação “Um Barco para o Vietnã”. Kouchner, então o membro mais famoso da instituição, propôs que fosse alugado um barco para que médicos e jornalistas pudessem verificar as constantes violações de direitos humanos naquele país. A direção da MSF considerou a proposta midiática em excesso e ocorreu uma cisão: Kouchner e outros médicos se afastaram e formaram, no ano seguinte, a associação Médicos do Mundo.

No Brasil, a MSF atua desde 1991. Dedicação à vigilância epidemiológica e ao diagnóstico do mal de Chagas, ao acesso universal ao tratamento da AIDS e à formação de pessoal em suas áreas de especialidade. A organização não se limita à saúde; também age em nutrição, prevenção, saneamento básico e revitalização de hospitais de postos de saúde. A MSF está presente em algumas favelas do Rio de Janeiro, como o complexo da Maré e o morro do Alemão (conhecido como “Faixa de Gaza” fluminense). Em 2009, realizou 15 mil atendimentos.

A partir de 1999, a MSF começou a promover a campanha de acesso a medicamentos essenciais. O projeto visa chamar atenção a doenças negligenciadas, como malária, mal de Chagas e doença do sono, que matam milhões de pessoas anualmente. A campanha, de caráter permanente, também fornece medicamentos para tratamento da AIDS nas regiões mais afetadas pela síndrome.

No Zimbábue, onde atua desde 2000, a principal preocupação da MSF é o cólera. A doença, endêmica no campo, hoje atinge centros urbanos, inclusive a capital. A entidade mantém 500 profissionais no país, distribuídos em dezenas de centros de prevenção, controle e tratamento.

No mesmo ano, a MSF lançou sua primeira lista de conflitos ignorados pela imprensa. Na última edição desta relação, constavam Sudão, República Democrática do Congo e Somália como as regiões mais esquecidas do planeta. Basta lembrar o genocídio do Darfur, incorporado ao Sudão há pouco menos de cem anos, promovido pelo próprio governo do país. O Darfur, hoje (quase) independente, vive uma situação precária: apenas para citar um exemplo, menos da metade dos meninos e apenas um terço das meninas frequentam a escola.

Hoje, a Médicos sem Fronteiras reúne 22 mil profissionais, que atuam em mais de 70 países, a maioria subdesenvolvidos e em desenvolvimento, mas também em regiões sem representação oficial, como a Chechênia (república separatista russa) e o Kosovo, que se declarou independente da Sérvia.