A arca de Noé

Noé é o nome do patriarca bíblico que recebeu ordem de Deus para construir uma arca e salvar a criação do dilúvio. O feito heroico foi profetizado pelo seu avô, Matusalém, e está registrado no Livro de Enoque (que só é reconhecido pela Igreja Ortodoxa; católicos e protestantes consideram-no apócrifo).

Segundo o relato, Lamec, filho de Matusalém, escreveu para o pai dizendo que tinha tido um filho estranho, cuja aparência era semelhante aos filhos dos céus. Matusalém foi ao seu encontro, observou a criança e contou um segredo. Na geração anterior, alguns anjos haviam transgredido a lei, descido à Terra e tinham tido filhos com os homens. Os frutos desta união eram gigantes. Por isto, eles seriam destruídos e apenas o filho de Lamec, com sua família, seria poupado.

A versão judaico-cristã

De acordo com o Livro da Gênese, Deus decidiu destruir a criação por causa da perversidade dos homens. No entanto, encontrou um justo entre eles, Noé, a quem mandou construir a arca, recolher um casal de cada espécie animal (ou sete pares dos animais limpos e dois dos impuros, segundo outro relato) e vedar as entradas da arca com betume. A descrição bíblica é rica em detalhes, especificando as dimensões da arca, as janelas, etc.

A certa altura, Deus determinou que Noé, sua mulher Naamá, seus filhos Sem, Cam e Jafé e suas mulheres embarcassem na arca. Assim que a família entrou, teve início uma chuva torrencial que durou 40 dias, “cobrindo toda a terra”. Sobreviveram apenas os que estavam na arca.

Depois que a chuva parou, foram necessários 150 dias para que as águas escoassem. A arca encalhou no alto do monte Ararat, na atual Turquia. Noé soltou inicialmente um corvo, para verificar se a terra estava seca; a ave ficou esvoaçando e recusou-se a voltar para a arca. Dias depois, Noé soltou uma pomba, que voltou trazendo no bico um ramo de oliveira, sinal de que a vida tinha renascido.

O patriarca e a família desembarcaram e soltaram os animais, para repovoar a terra. Deus prometeu que nunca mais lançaria maldição à Terra por causa do homem, nem destruiria a humanidade daquele modo. Em sinal do pacto entre Deus e Noé, foi criado o arco-íris, entre o céu e a terra, que sempre surge depois de uma forte chuva.

Histórias paralelas

A classificação de animais limpos e impuros é bem mais recente. O dilúvio teria ocorrido por volta de 2400 a.C. e a separação dos animais em 1300 a.C. Mas a tradição rabínica deu uma explicação: os animais puros se inclinavam diante de Noé antes de entrar na arca.

Mais uma explicação, desta vez ética: por que Noé não alertou os homens sobre o perigo iminente? Ele teria feito isto durante 120 anos, mas os pecadores teriam insistido na sua vida de dissipação. Chegaram a colocar a vida do patriarca em risco. Para proteger-se, Noé teria colocado leões e outros animais selvagens para guardar o local de construção.

Os cristãos também fizeram analogias. Os salvos das águas do dilúvio seriam precursores dos salvos pelo batismo. No rito anglicano, o sacerdote lembra que a misericórdia divina salvou Noé e salva a criança do pecado.

Santo Hipólito afirma que os ossos de Adão foram guardados na arca junto com ouro, incenso e mirra, numa antecipação do advento do Messias; para ele, a arca foi lançada para os quatro lados pelas águas, tendo feito várias vezes o sinal da cruz.

Criacionistas, baseados no encontro de sítios arqueológicos com muitos fósseis de dinossauros, “encontraram” a explicação para sua extinção: eles eram contemporâneos dos homens, como todos os animais (tudo foi criado em seis dias). Só que tiveram o azar de serem muito grandes para entrar na arca.

Interpretações atuais

Teólogos modernos tendem a aceitar a lenda da arca de Noé apenas como um símbolo, mesmo porque as descobertas científicas e inovações tecnológicas afirmam a impossibilidade de um cataclisma destas proporções, em função das diferentes topográficas e da própria esfericidade da Terra. Fundamentalistas cristãos, no entanto, insistem na veracidade do relato bíblico e frequentemente organizam expedições para encontrar a arca. Nos últimos cem anos, foram anunciadas várias “descobertas”, todas desmentidas pela ciência.