Rãs à beira da extinção

Existem espécies de rãs nativas da África e, especialmente, América Central, mata Atlântica e Amazônia. Presenciar a extinção de uma espécie é um fato raro, mas atualmente estamos testemunhando este risco em toda uma classe de animais; além das rãs, várias espécies de sapos, pererecas, salamandras e cecílias, outros animais da classe dos anfíbios, também estão em situação de ameaça.

O termo “anfíbio” tem origem grega é significa “vida dupla”. É uma referência ao ciclo da vida destes animais: nascem e desenvolvem-se na água e, quando adultos, passam a viver em terra, sempre próximo a cursos d’água. Pequenas rãs arborícolas usam os depósitos de água entre as folhas para depositar seus ovos. As bromélias, que foram copos naturais no centro de suas folhas rijas, são um viveiro natural para filhotes de rãs.

Na escala de conservação, “situação de ameaça” é um degrau abaixo da “extinção iminente”. Nos últimos dez anos, 170 espécies nativas da Amazônia desapareceram, enquanto 1.900 estão ameaçadas. Nestes números, incluem-se apenas as espécies conhecidas. Calcula-se que até 30 milhões de espécies animais habitem a Terra, a maior biodiversidade da história, e apenas 20% delas estão catalogadas.

Qualquer espécie, animal ou vegetal, desempenha um papel no equilíbrio ecológico. A função das rãs é manter a população de moscas e mosquitos sobre controle. Devorando centenas de insetos e larvas diariamente, elas controlam indiretamente uma série de doenças, por eliminar grande parte dos vetores destes males: malária, dengue, mal do sono e febre amarela são alguns exemplos.

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Os responsáveis são a poluição, o desmatamento e o crescimento das cidades e das atividades agropecuárias, que reduzem e degradam os ambientes naturais dos anfíbios. O efeito estufa, com o consequente aquecimento global, também contribui para a extinção: rãs subaquáticas respiram pela pele, e todas as espécies necessitam de alta hidratação para se manterem vivas e funcionais. A elevação brusca da temperatura não permite que estes animais se adaptem e provoca o desaparecimento das espécies. Mas estes são apenas alguns fatores. Um fungo está causando grandes estragos.

Testes de gravidez e extinção

Rãs do gênero Xenopus, especialmente a rã-de-garras, originária da África subsaariana, foram importadas pelo mundo todo para testes gravidez desde os anos 1940. Quando a urina do sangue de uma gestante é injetada numa fêmea destes animais, ela imediatamente ovula e põe ovos. Posteriormente, secreções destes animais foram isoladas e tornaram-se o princípio ativo para os populares testes de farmácia.

Na década de 1990, entretanto, descobriu-se que as rãs-de-garras são o único anfíbio resistente ao Chytrid fungus. Muitos animais fugiram dos fungos, mas não causaram problemas: adaptaram-se a ambientes tão díspares como a Amazônia, a floresta tropical do sudeste da Ásia e ao interior árido da Austrália e tornaram-se presas de aves, macacos e répteis, o que permitiu o controle da população.

O problema é que Chytrid fungus provoca uma cobertura na pele das rãs, prejudicando sua respiração cutânea e hidratação. O fungo promove um corte do suprimento de água e determina a morte de muitos animais no curto prazo. Muitas vezes, acomete animais jovens antes da primeira cruza: os animais morrem antes de gerar os primeiros filhotes.

A Arca dos Anfíbios

É uma “arca de Noé” para salvar anfíbios. Em 2007, biólogos e ambientalistas do mundo todo reuniram-se em Atlanta (EUA) e propuseram um acordo com zoológicos, jardins botânicos e aquários do mundo todo: recolher 500 espécimes de rãs nativas da região e certificar-se de que eles não estão contaminados pelo Chytrid fungus.

Quando for encontrada uma solução para o problema, com a eliminação do fungo, os animais serão soltos na natureza e recolonizarão os hábitats. Enquanto isto, as rãs, sapos, cecílias e salamandras permanecem expostas à visitação pública. A ideia é salvar cerca de seis mil espécies de anfíbios. A Arca dos Anfíbios prevê investimentos da ordem de US$ 500 milhões.

As rãs e a saúde humana

Além de manter a população de insetos controlada, as rãs também oferecem outras vantagens para os seres humanos. Nas últimas décadas, descobriu-se que diversas rãs peçonhentas secretam substâncias úteis à saúde: são antibióticos e analgésicos manipulados a partir de princípios ativos presentes no veneno das rãs.

No Brasil, a Fundação Instituto Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, conseguiu produzir analgésicos para cefaleias, analgésicos tópicos (pomadas) e aditivos para anestesias cirúrgicas a partir das rãs do gênero Epipedobates. O Instituto Butantan, de São Paulo, isolou substâncias que impedem a replicação do HIV; com o medicamento, o vírus da AIDS não consegue capturar o DNA (ácido desoxirribonucleico) das células humanas e, portanto, não tem condições de se multiplicar.

Rãs são fundamentais para a vida na Terra, e algumas são muito bonitas. Terrários de rãs podem ser a solução para quem quer um bicho de estimação, mas não tem tempo para dedicar-se a ele. Além disso, ajudam a preservar algumas espécies.