Os Manuscritos do Mar Morto

No final da década de 1940, nas proximidades de Qumram, zona árida perto do mar Morto, um grupo de pastores de cabras casualmente encontros vasos de cerâmica contendo rolos de papiros; os Manuscritos do Mar Morto. Os pastores tentaram vender, sem sucesso, a descoberta em Belém (Israel). Mais tarde, foram vendidos em dois lotes para o bispo do mosteiro ortodoxo sírio São Marcos e para um professor da Universidade Hebraica.

Outros manuscritos foram encontrados durante aos anos 1950 e é consenso entre os especialistas que os Manuscritos do Mar Morto são a principal descoberta arqueológica do século passado. Em 11 das 200 cavernas, foram encontrados 15 mil fragmentos de quase mil rolos.

Trata-se de uma coleção de textos (de alguns, restaram apenas fragmentos) escritos por uma seita que habitou a Palestina entre os séculos III a.C. e I d.C: os essênios. Quase todos os textos da Bíblia hebraica foram encontrados, com exceção dos livros de Ester e do profeta Neemias.

Os Manuscritos do Mar Morto, escritos em hebraico e aramaico (a língua popular de Israel no século I, usada pela população mais simples), são as cópias mais antigas dos textos hebraicos e judaicos. Eles comprovam a antiguidade dos relatos contidos no Antigo Testamento, já que a versão atualmente utilizada pelos judeus foi organizada por volta do ano 1000.

Os manuscritos também contêm textos apócrifos (que não foram reconhecidos por nenhuma religião) e códigos de conduta a serem observados pelos essênios, seita judaica que se dividia em grupos de 12, liderados pelo “mestre da justiça”. Eles sempre vestiam-se de branco e seguiam regras rígidas de alimentação, higiene e purificação.
Uma das principais preocupações dos essênios era a guarda do sábado, determinação contida no Livro do Êxodo. A rigidez chegava ao ponto de proibir que os membros fizessem sua necessidades fisiológicas, pois isto violaria o mandamento mosaico.

Apesar de o celibato não ser uma norma, grande parte dos essênios optava por não se casar. Foram provavelmente destruídos pelos romanos no ano 70, quando Jerusalém foi dizimada e os judeus, dispersos. Durante este conturbado período, eles decidiram ocultar os livros considerados sagrados. No local, Roma construiu um forte para impedir que os judeus retornassem à região. Todos os demais documentos de Israel foram destruídos.

Os textos encontrados são mais semelhantes aos da Septuagésima (tradução para o grego da Bíblia cristã) que aos massoréticos, redigidos pelos escribas judeus. Anteriormente à descoberta dos manuscritos, muitos especialistas achavam que as discrepâncias entre as duas versões – cristã e judaica – eram devidas a erros na tradução. Os rolos revelaram que as diferenças são devidas a interpretações dadas pelas diferentes seitas em que os judeus se dividiam.

Os Manuscritos do Mar Morto não contêm nenhuma referência a Jesus nem aos primeiros cristãos, mas não faltam especulações. Alguns grupos religiosos defendem que o fundador do Cristianismo permaneceu com os essênios entre os 13 e 30 anos, porque os evangelhos se calam sobre este período; no entanto, não há qualquer evidência histórica sobre este fato.

Os Manuscritos do Mar Morto estão guardados no Santuário do Livro do Museu de Israel, em Jerusalém. Em 2011, o site de busca Google publicou parte dos textos, que está disponível para consulta pública (foi disponibilizada uma tradução para o inglês). Outros quatro pergaminhos já estão digitalizados em altíssima resolução (1.200 megapixels), o que permite a visualização em detalhes.