A febre zika (zika vírus) é uma infecção provocada pelo flavivírus ZIKV, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo responsável pela dengue, pela febre chikungunya e por outras doenças inexistentes no país. O vírus foi descrito pela primeira vez em 1947, encontrado entre macacos da floresta Zika, em Uganda.
Uma série de mutações permitiu que ele passasse a infectar seres humanos (os primeiros casos foram identificados em 1954, na Nigéria). O fato agravou-se no final de 2015, quando foi constatado oficialmente que a doença está associada à microcefalia fetal.
No Brasil, os primeiros casos surgiram no verão de 2015. Suspeita-se que o vírus ZIKV tenha sido introduzido por turistas africanos e asiáticos, onde em muitos locais a o vírus zika é endêmica, durante a Copa do Mundo FIFA de 2014. Vale lembrar: o mosquito é apenas o hospedeiro; caso ele esteja livre de vírus, provoca apenas os desconfortos comuns às picadas destes insetos.
Microcefalia
Trata-se de uma condição neurológica, na qual o tamanho da cabeça do recém-nascido é menor do que o considerado normal – igual ou superior a 30 centímetros de diâmetro – para um feto já formado e prestes a vir à luz. O transtorno provoca a redução das dimensões da caixa craniana e do cérebro.
São muitas as causas da microcefalia, mas surgiu um agravante na etiologia da doença: comprovadamente, ela pode ser causada pela exposição ao vírus ZIKV. O contágio da febre zika ocorre exclusivamente quando um mosquito Aedes aegypti pica uma pessoa infectada e, em seguida, pica uma pessoa saudável. Os filhotes deste hospedeiro já nascem com potencial para espalhar a doença.
Não existe transmissão de pessoa para pessoa, pelo ar ou pelo contato com os pacientes. Ao menos, é o que sabe a Medicina, através dos conhecimentos atualmente disponíveis.
A microcefalia influencia o desenvolvimento mental das crianças portadoras e, em alguns casos, determina comprometimentos motores. A doença não tem cura e os indivíduos afetados podem demandar cuidados especiais durante toda a vida. A enfermidade também provoca paralisia, epilepsia, convulsões, autismo e rigidez muscular.
A epidemia do zika vírus
O Brasil enfrenta uma verdadeira epidemia de febre zika. Quando surgiram os primeiros casos, a doença foi descrita como uma forma mais branda da dengue clássica (que não apresenta hemorragias e tem baixo nível de morbidade). Em poucos meses, no entanto, o quadro se reverteu drasticamente.
Mesmo assim, o zika vírus já provocou mortes no país. O primeiro caso ocorreu no Maranhão, em agosto de 2015: ocorreu com um morador de São Luís, portador de lúpus e usuário crônico de medicamentos corticosteroides. Dois meses depois, em outubro, foi a vez de uma jovem residente em Benevides (PA), internada com suspeita de dengue.
Atualmente, 18 Estados brasileiros já registraram casos de microcefalia relacionados à febre zika. Na verdade, apenas os sintomas da enfermidade são mais brandos: febre, dores de cabeça (especialmente atrás dos olhos), dores nas articulações e manchas avermelhadas espalhadas pelo corpo (principalmente no tronco).
Em muitos casos (ainda não se conhece o percentual, mas alguns especialistas falam em 80%), os infectados não apresentam nenhum tipo de sinal da doença, o que torna ainda mais difícil a prevenção. As grávidas devem redobrar os cuidados com os exames pré-natais.
Outro problema ainda não equacionado é a captação de sangue nos hemocentros. Já foram adicionadas questões sobre a possível exposição ao vírus ZIKV à entrevista proposta aos doadores, mas, como parte dos acometidos pela febre zika é assintomática, parte do sangue pode estar infectada. Ainda não existem testes instantâneos para checar as bolsas obtidas.
Febre zika e gravidez
O primeiro caso de microcefalia associada à febre zika foi identificado em uma bebê nascida em Fortaleza, capital do Ceará. A recém-nascida faleceu poucos dias depois do nascimento e exames necroscópicos identificaram a presença do vírus ZIKV em amostra do sangue e de tecidos.
A confirmação oficial sobre a indução da microcefalia pelo vírus ZIKV foi feita pelo Ministério da Saúde em 17.11.2015. Trata-se de uma constatação inédita na literatura médica mundial, apesar de a febre zika ser relativamente comum há mais de 60 anos, em diversas regiões do planeta.
Depois da confirmação, identificou-se, em um surto de febre zika ocorrido no final de 2013 na ilha de Yap (Polinésia francesa), que acometeu mais de dez mil pessoas, pelo menos 17 casos de má-formação do sistema nervoso central em fetos: a microcefalia já estava aparente, mas a falta de cuidados médicos impediu que a informação fosse transmitida às autoridades mundiais de saúde.
O que ainda precisa ser descoberto
Obstetras, ginecologistas e pediatras ainda precisam estudar os mecanismos do vírus ZIKV sobre a formação dos fetos. Já surgiram suspeitas sobre a possibilidade de infecção através da amamentação e de relações sexuais – fato que demanda maiores investigações. O certo é que a febre zika é transmitida pelo Aedes aegypti e por transfusões de sangue infectado.
Os casos de microcefalia, no país, aumentaram 20 vezes em 2015. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), nove países americanos já confirmaram a circulação do vírus ZIKV: além do Brasil, o microrganismo já esta presente no Chile, Colômbia, El Salvador, Guatemala, México, Paraguai, Suriname e Venezuela.
Até 30.11.2015, 1.248 casos de microcefalia foram diagnosticados no país (99,7 para cada cem mil nascimentos, um número alarmante). A OMS fala em ao menos sete mortes. Pernambuco registra o maior número de casos confirmados de microcefalia: 646 bebês. Em seguida, estão a Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas, Bahia, Piauí, Ceará, Rio de Janeiro, Tocantins, Maranhão, Goiás, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.
Prevenção
O ciclo de vida do Aedes aegypti é de 21 dias e os primeiros sintomas da febre zika surgem de sete a dez dias depois da picada. Não existe vacina contra a doença e, principalmente, não existe nenhuma providência prática para reverter os possíveis quadros de microcefalia.
Resta aos cidadãos eliminar os focos de postura de ovos do mosquito em suas casas. É preciso eliminar todos os pontos de acúmulo de água – mesmo um copinho de café pode servir como criadouro para as larvas do Aedes aegypti. Caixas d’água precisam ser bem vedadas e lixeiras, tambores, latões, garrafas e sacos plásticos não podem permitir o acúmulo de água, mesmo a da chuva.
As autoridades públicas precisam redobrar os cuidados na fiscalização, especialmente de terrenos baldios e construções abandonadas, além de tapar buracos das ruas. O fomento da pesquisa para a produção de vacinas é outro ponto fundamental.