E se a Terra parasse de girar?

Nos tempos da escola, nós aprendemos que a Terra faz dois movimentos básicos: rotação (um giro completo em torno do seu eixo, que dura 24 horas) e translação (uma volta em torno do Sol, com duração de 365 dias). No dia a dia, damos pouca importância a este passeio pelo espaço sideral, mas ele é fundamental para a vida no planeta. Se a Terra parasse de girar, nós – e todos os seres do planeta – estaríamos com os dias contados.

Se a Terra parar de girar, provavelmente isto acontecerá de forma gradual. Será uma desaceleração quase imperceptível, mas, aos poucos, será possível sentir alterações nos dias e noites; períodos de claridade e escuridão se tornarão cada vez mais longos de cada lado do planeta.

Com a parada total, dias e noites deixarão de ser controlados pelo movimento de rotação: metade da Terra estaria mergulhada em uma noite sem fim e a outra parte, em um dia interminável. Ou quase: se a translação fosse mantida, dias e noites teriam duração de seis meses, de forma semelhante ao que é verificado nos polos.

Uma freada brusca

Se o movimento fosse repentinamente interrompido, seríamos lançados no espaço, devido à lei de inércia dos corpos. A primeira lei de Newton afirma que “um corpo em repouso tende a permanecer em repouso”. É o que acontece, por exemplo, quando um motoqueiro freia bruscamente e é arremessado violentamente para frente.

No movimento de rotação, a Terra viaja a 1.675 km/h na linha do Equador (nos polos, a velocidade é menor). esta pisada radical no freio determinaria um “salve-se quem puder” semelhante ao que acontece a um carro que desacelera bruscamente (para evitar um acidente, por exemplo). Os objetos são arremessados em direção ao para-brisas, mesmo em velocidade muito menor, entre 60 e 80 km/h.

As regiões tropicais seriam as mais afetadas.

Nesta hipotética parada da Terra, pessoas, animais, carros, construções e tudo o mais seria jogado para frente, chocando-se em seguida contra a superfície. A destruição seria praticamente completa. Mas a catástrofe iria além: abalos sísmicos, incêndios e ondas gigantes – as massas de terra próximas aos trópicos seriam lavadas pelos oceanos –, com seus efeitos colaterais, devastariam o planeta.

Com a translação, o pôr do sol ocorreria apenas uma vez por ano. Os poucos sobreviventes do cataclisma não teriam tempo para se adaptar às novas condições, com a possível exceção das espécies que habitam as fossas abissais, o Ártico e a Antártica (que, mesmo assim teriam geleiras e glaciares arrancados). O excesso de calor ou frio seria o responsável por outras tantas mortes.

Neste dia de seis meses, as queimadas devastariam todas as espécies vegetais, prejudicando inclusive a atmosfera, que teria cada vez menos oxigênio: em pouco tempo, estaria formado um deserto escaldante. No outro lado do planeta, a ausência de luz impediria a agricultura e problemas de alimentação seriam comuns; uma camada de gelo cobriria todo o hemisfério. Além destes extremos, a diferença de temperatura entre os dois lados provocaria ventanias horríveis.

Pouca vida restaria no planeta. A raça humana estaria condenada à morte por inanição. Se grandes contingentes decidissem migrar para os polos, ocorreriam sérios desequilíbrios nos ecossistemas destas regiões e o fim seria apenas adiado por muito pouco tempo.

Isto pode acontecer?

Na verdade, já está acontecendo, ainda que muito lentamente. De acordo com cientistas do Instituto Newton de Ciências (EUA), a cada cem anos, a Terra perde velocidade suficiente para que os dias fiquem alguns segundos mais longos.

Será necessário, no entanto, que se passem 120 mil anos para a parada total. Com relação a uma parada radical, de um momento para outro, é consenso na comunidade científica de que é um acontecimento astronômico praticamente impossível.

O assunto já foi tema de muitos filmes de catástrofes, em que os efeitos especiais apresentam terremotos e maremotos em série. Caso isto aconteça, no entanto, não dará tempo para observarmos os efeitos causados pela parada da Terra, a menos que a humanidade retorne aos tempos de nomadismo, migrando incessantemente para a faixa da “tarde” do planeta, sempre em direção ao leste, com os poucos animais que conseguisse manter para seu sustento. Estes, no entanto, sem vegetação, também teriam poucas chances de sobrevivência, mesmo no curto prazo.