É uma das fobias mais comuns, e não é para menos: antes da invenção da anestesia (no século XIX, com os primeiros anestésicos inaláveis), os tratamentos odontológicos eram muito dolorosos. O medo do dentista é classificado como fobia quando ele vem associado à ansiedade e à angústia desproporcionais aos possíveis desconfortos (quando a odontofobia é identificada, o recomendável é submeter-se a algum tipo de psicoterapia). Outros tratamentos de saúde provocam mais dor, mas não geram tanto medo. No entanto, com bons equipamentos e algumas dicas, é possível vencer este medo.
Técnicas para identificar e vencer o medo dos pacientes já se transformaram em aulas nas faculdades de Odontologia. Os dentistas conseguem identificar as dificuldades com sinais clássicos: tensão nos ombros, olhos fechados enquanto a boca é aberta, mãos agarradas aos braços da tão temida cadeira. A partir daí, são empregados métodos de relaxamento e redução da ansiedade.
Estudos realizados nos EUA indicam que 30% dos pacientes têm medo do dentista. Não há levantamentos semelhantes no Brasil, mas especialistas afirmam que este percentual pode ser até maior, já que por aqui há um agravante: a falta de informação.
O principal efeito do medo do dentista é afastar as pessoas do tratamento odontológico correto, o que acarreta em problemas bucais ainda mais graves, como o desenvolvimento da placa bacteriana, gengivites, cáries e perda de dentes – inclusive entre adolescentes – o que implica perda da qualidade de vida (inclusive amorosa: ninguém quer beijar uma “boca de esgoto”), problemas estéticos e enfermidades mais graves (inclusive fatais, em alguns casos) no médio ou longo prazo. O paciente fóbico com uma pequena cárie pode evitar o dentista até que tratamentos mais dolorosos e invasivos sejam necessários.
Os tratamentos
O tratamento psicoterápico é indicado para pessoas cujo medo do dentista é tão intenso que entram em sofrimento horas ou mesmo dias antes da consulta. Há relatos de policiais e militares que simplesmente não conseguem se submeter a uma obturação. Muitas pessoas só conseguem acompanhadas chegar ao consultório (sozinhas, desviam-se conscientemente ou não do caminho) e, mesmo assim, pedem a interrupção do atendimento. Alguns chegam a derramar-se em crises de choro.
Nestes casos, não é possível superar o medo sozinho. O tratamento mais adequado deve ser breve: é uma terapia focada apenas nesta situação fóbica (fobia é o medo irracional que leva ao afastamento de situações, objetos ou atividades considerados desagradáveis), que precisa ser superada em pouco tempo. O paciente aprende, em poucas sessões, como controlar a ansiedade e também a perceber o que é dor imaginária e o que é dor real.
A terapia comportamental cognitiva é bastante empregada para auxiliar a vencer o medo do dentista, trabalhando as crenças não verdadeiras e os pensamentos distorcidos, levando o paciente a acessar pensamentos mais realistas, que naturalmente irão se sobrepor à fobia.
O relaxamento é fundamental para reduzir a sensação dolorosa do tratamento. Quem chega ao consultório ansioso está se predispondo à dor – algumas pessoas chegam a senti-la ainda na sala de espera. Muitos dentistas incorporaram técnicas de acupuntura e massagem (inclusive com esteiras vibratórias na cadeira) para melhorar as condições dos pacientes.
Existem dados ainda não conclusivos de que o relaxamento ajuda inclusive na absorção da anestesia. Além disto, os dentistas exercitam a arte do diálogo: compreensão, conversa e confiança. A intervenção profissional só tem início com o paciente relaxado.
Em alguns consultórios, os pacientes são orientados a usar fones de ouvido durante a intervenção odontológica. A música ajuda a relaxar e, ao mesmo tempo, impede a identificação do ruído do “motorzinho”, um dos principais “vilões” dos tratamentos odontológicos.
Nas clínicas mais modernas, o áudio foi substituído por DVDs, que ajudam a distrair não apenas a audição, mas também a visão, enquanto fazem a atenção se concentrar em outras atividades. O filme ou show é escolhido pelo próprio paciente. Mas, mesmo que o dentista não disponha destes equipamentos, sempre é possível levar um equipamento de som (MP3, IP0d, etc.). Não se pode esquecer de que as músicas precisam ser relaxantes ou evocar boas memórias.
Autoajuda do bem
Mas existem algumas técnicas que podem ser adotadas pelo próprio paciente. Escolher o dentista a partir de orientações de parentes e colegas, que podem dar depoimentos favoráveis sobre a atuação do profissional, ajuda a “criar o clima”. Antes de iniciar o tratamento, é preciso conversar e dizer claramente, sem nenhum traço de vergonha, que tem medo de dentista.
No final da avaliação, a decisão é do paciente: se o dentista não o tiver convencido (ou conquistado), se ele tiver “cara de conde Drácula”, se as mãos forem semelhantes às de um operário braçal, é preciso escolher outro. O profissional pode indicar colegas mais adequados ao perfil do avaliado. O importante, no entanto, é decidir-se rapidamente, sem adiar indefinidamente o início do tratamento.
Espelhos, pinças, sugadores, alicates e brocas provocam pânico; talvez os nomes dos instrumentos não sejam exatamente estes, mas o dentista certamente vai entender e explicar todo o tratamento, as providências a serem adotadas. Se necessário, pode ser aplicado óxido nitroso (conhecido com gás hilariante), sedativo ou analgésico durante os procedimentos, além de outros medicamentos, para impedir dores e desconfortos. Mesmo assim, o “motorzinho” está sendo substituído por equipamentos a laser totalmente silenciosos. O som está intimamente associado à sensação de dor.
O óxido nitroso já foi banido dos consultórios, mas hoje existem aparelhos que impedem a superdosagem. Não há contraindicações e os efeitos desaparecem poucos minutos depois de a máscara ter sido retirada. Estudos indicam que não existe risco de acúmulo da substância no organismo. O único problema é que a máscara, posicionada no nariz, pode prejudicar os movimentos das mãos do dentista.
A hipnose
É um recurso extremo, mas aprovado pelo Conselho Federal de Medicina (para empregá-lo, o profissional precisa cursar especialização em hipnose). Para utilizá-la, é necessário fazer uma boa anamnese, a entrevista inicial com o paciente, para colher o máximo de informações. O dentista também precisa ter um plano B, para o caso de o paciente ser resistente à hipnose.
A ideia é identificar boas experiências, para sobrepô-las ao medo de dentista. Pacientes submetidos à hipnose relatam perceber a manipulação de instrumentos na boca, mas sem nenhuma sensação de dor.
Pessoas com medo de dentista em geral tem uma boca em péssimo estado. Isto não é motivo, no entanto, para se sentirem envergonhadas.
Pense na sua profissão e em quantos casos quase “sem remédio” com que se deparou. Com os dentistas, é a mesma coisa: eles já viram dentes bem piores e gengivas literalmente à beira de um ataque de nervos. O importante é começar: o tratamento dura pouco tempo, os profissionais dispõem de muitos recursos para minimizar a dor. Pense no sorriso franco, sem ficar escondido pelas mãos. A recompensa vale a pena. Como dizem os ingleses, “no pain, no gain”.