Descobertas arqueológicas surpreendentes

Arqueologia significa “estudo do que está à frente”. O termo é grego e atualmente é a designação da ciência que estuda as culturas e modos de vidas de grupos humanos já extintos a partir de vestígios materiais, que podem ser artefatos feios com ossos, restos de cerâmica ou ruínas de grandes templos e palácios. Algumas descobertas arqueológicas são surpreendentes.

Através das descobertas arqueológicas, podemos entender a trajetória humana através dos milênios. Algumas delas nos auxiliam a conhecer o passado, para podermos nos situar no presente e projetar o futuro. Outras, no entanto, são intrigantes: escondem mistérios e segredos que talvez nunca sejam sanados.

O povo dos templos

O cenário é o mar Mediterrâneo. As ilhas de Malta e Gozo ficam ao sul da Sicília e a localização estratégica foi o motivo de invasões de fenícios, romanos, árabes, otomanos, normandos, aragoneses, espanhóis, franceses se ingleses. Malta se tornou uma república independente em 1974, mantendo-se membro da Comunidade Britânica.

Legenda: Templo neolítico na costa sul de Malta.
Templo neolítico na costa sul de Malta.

Muito antes disto, no entanto, entre 4000 e 2900 a.C., as ilhas eram habitadas pelo povo dos templos. A civilização simplesmente desapareceu, sem dar lugar a outro grupo humano. Escavações arqueológicas ainda não conseguiram descobrir evidências de invasão, fome ou epidemia.

É possível que o extremismo religioso ou alterações climáticas tenham provocado esta extinção, mas, por enquanto, estas teorias são apenas suposições. Os arqueólogos querem descobrir o motivo da obsessão pela construção de templos: são mais de 30 edificações, sempre sem argamassa (talvez as mais antigas da história), nas duas ilhas.

Nos templos, foram encontrados vestígios de sacrifícios de animais e evidências de rituais complexos envolvendo vida, morte e sexualidade. Já foram desenterradas dezenas de símbolos fálicos e esculturas de mulheres gordas – na época, as formas mais arredondadas eram um símbolo de fertilidade; as esculturas podem ser representações da deusa mãe.

Já foram encontradas câmaras subterrâneas e escavadas em cavernas, uma evidência de que o povo dos templos cultuavam seus mortos. Aparentemente, os funerais eram coletivos, rito comum entre as culturas matriarcais.

A história parece ter se repetido. Em 1551, soldados otomanos e piratas árabes desembarcaram na ilha de Gozo e escravizaram toda a população, estimada em seis mil pessoas. Mais uma vez, a ilha se tornou desabitada. Este episódio, no entanto, está bem documentado.

Perdido na Sibéria

No alto das montanhas, no centro de um lago siberiano isolado, situa-se o sítio arqueológico de Por Bajin, encontrado em 1891. Trata-se de uma estrutura de sete acres (pouco mais de 28 mil metros quadrados) datada de 1.300 anos atrás. Com mais de 30 construções, Por Bajin fica a menos de 30 quilômetros com a Mongólia.

No entanto, mais de cem anos após a descoberta, os arqueólogos não sabem por quem nem por que a construção foi erguida. Inicialmente, foi proposta a hipótese de que se tratasse de obra do império uigur, povo de origem indo-ariana que dominou a Mongólia e a Sibéria de 742 a 848.

Legenda: As ruínas de Por Bajin, na Sibéria (Rússia).
As ruínas de Por Bajin, na Sibéria (Rússia).

No entanto, Por Bajin está distante das rotas comerciais da época. É possível que outras estruturas que ligavam o sítio e as cidades tenham sido destruídas, mas não há evidências arqueológicas disto. Outros estudiosos acreditam que o local foi um monastério, um palácio de verão ou mesmo um observatório astronômico.

O local não parece ter sido habitado por muito tempo. Foram encontrados indícios de terremotos na região, que podem ter provocado incêndios nos possíveis templos e palácios de Por Bajin. Outros indícios indicam que o incêndio ocorreu depois que a ilha foi evacuada.

Pirâmides subterrâneas

Trata-se de uma descoberta recente. Em 2012, uma equipe de arqueólogos americanos e italianos anunciou ter encontrado as primeiras pirâmides etruscas, conjunto de povos que viveu na região central da península Itálica provavelmente de 1200 a.C. e 700 a.C.

As primeiras escavações foram feitas em Orvieto (Itália), sob uma casa de vinhos (foi a chave para a descoberta: durante uma reforma na adega, foi encontrado um piso medieval e, em seguida, uma escadaria com estilo etrusco). Logo abaixo, havia um preenchimento de pedras com 1,5 metros. O principal problema da expedição é que ainda não se sabe a profundidade das ruínas. Depois de quatro anos de escavações, surgiu o topo da primeira construção.

Resquícios das cidades Etruscas
Resquícios das cidades Etruscas

Os cientistas já encontraram paredes piramidais, artefatos etruscos datados dos séculos X a.C. a VI a.C. Também foram descobertas mais de 150 inscrições daqueles povos, uma pedreira e um túnel interligando duas pirâmides subterrâneas. As escadarias continuam avançando para baixo – e os arqueólogos não sabem o que poderão encontrar.

Conhecidos por sua arte, agricultura e metalurgia, os etruscos introduziram a escrita na Europa, provavelmente ensinaram os franceses a fazer vinho e os romanos (que os sucederam na região) a construir carroças. No entanto, não deixaram qualquer tipo de literatura que documentasse sua cultura e tradições: apenas a arte funerária nos dá algumas pistas dos hábitos dos etruscos.

Pirâmides submersas

Em 1995, uma equipe de mergulhadores japoneses que estudava o arquipélago de Ryukyu, a 480 quilômetros de Okinawa, deparou-se com uma descoberta arqueológica realmente surpreendente. Com 11 mil anos de idade, uma área de pouco mais de 28 quilômetros quadrados abriga um conjunto misterioso de ruínas.

São pirâmides com escadarias cujos degraus medem cerca de um metro. Todas as pedras foram cortadas com precisão. Para surpresa dos pesquisadores, foi encontrada uma pirâmide semelhante às construções maias (povo que viveu nos territórios do México, Honduras e Guatemala entre o ano 1000 a.C. e a chegada dos espanhóis) – de cinco andares e alinhada com os pontos cardeais.

Pirâmides submersas
Pirâmides submersas

O sítio arqueológico abriga um conjunto de zigurates (templos de vários andares, em que o pavimento superior ocupa sempre uma área menor do que o inferior; até onde se sabia, é uma criação suméria, mantida por caldeus e assírios na Mesopotâmia).

A poucos metros das pirâmides, foi encontrada uma caverna rodeada por grandes pilares, tendo ao centro uma imensa cabeça humana esculpida em pedra, submersa a 18 metros da superfície. A escultura lembra os moais da ilha de Páscoa (Chile).

Tudo parece remeter a uma civilização desconhecida. O trabalho dos cientistas, agora, é descobrir quando os monumentos foram erguidos, por quem e com que finalidade. Os estudos devem indicar quando a região foi inundada. O mais incrível é que as ruínas datam da Idade da Pedra. Caso as datações se confirmem, será necessário rever a cronologia da civilização humana.

Guerreiros de Chian

Mais conhecidos como Exército de Terracota, formam uma coleção de arte funerária: milhares de esculturas de guerreiros, armas, carruagens e cavalos foram enterrados juntamente com o imperador chinês Qin Shihuang, em 210 a.C.

Legenda: Detalhe do Exército de Terracota.
Detalhe do Exército de Terracota.

Próximo ao local da escavação, iniciada em 1974 (camponeses da China, procurando um poço para perfurar, foram os primeiros a encontrar indícios das esculturas), foi encontrada uma pirâmide de 47 metros de altura, que ocupa uma área de 2,2 quilômetros quadrados.

O Exército de Terracota estava enterrado em três poços e os arqueólogos estimam que a coleção original era composta por mais de oito mil soldados (cujas dimensões variam de acordo com a patente que ocupavam), 130 carruagens, 150 cavalos e outras esculturas não militares: são músicos, acrobatas e funcionários públicos.

Um incêndio provocado por uma rebelião poucos anos depois da morte do imperador destruiu as estruturas de madeira do sítio. Há evidências de que a tumba foi saqueada. Apesar do fogo, muitas esculturas foram preservadas.

Alguns cientistas acreditam que era costume, na época, que os reis e imperadores fossem enterrados juntamente com seus guerreiros e membros mais próximos da corte. Os estudos avançam lentamente, em função da fragilidade da região. Um terremoto abalou o sítio em 2008, pouco antes das Olimpíadas de Pequim, provocando rachaduras e até rupturas de cabeças e braços.

O templo perdido

No norte do Iraque, região habitada pelos curdos, um grupo de camponeses descobriu, em 2014, estátuas humanas em tamanho real e bases de colunas de um templo provavelmente dedicado a uma divindade suprema. As descobertas datam de 2.500 anos atrás, época em que assírios, citas e urartus disputavam o controle da região.

Especialistas acreditam que o templo perdido era dedicado ao deus Haldi, chefe do panteão dos urartus, para que o deus os favorecesse nas guerras de conquistas, para ampliar o território de influência. A estratégia não deu certo: os assírios foram vencedores e a história diz que o rei Rusa I, em 714 a.C., antes de se suicidar, lançou a coroa pelas encostas da montanha.

O trabalho de campo teve início em 2005 e a equipe era formada por estudantes de doutorado em Arqueologia. As descobertas se ampliaram: depois de encontradas as colunas (em uma única aldeia), surgiram esculturas em pedra e uma estatueta em bronze de uma cabra nas fronteiras entre Iraque, Irã e Turquia. Durante a Idade do Ferro, a região era dominada pela cidade de Musasir; inscrições antigas referem-se à aglomeração urbana como “a cidade santa fundada em rocha”.

No século XIX, foi escavada uma antiga escultura de Musasir, que mostra casas de dois andares erguidas em encostas, com janelas e portas. Na época, não havia como aferir a antiguidade da peça. O mesmo projeto arquitetônico ainda pode ser observado em algumas construções da região.

As colunas foram encontradas e já estão bem estudadas, mas o mesmo não acontece com a localização do templo perdido. Aparentemente, as esculturas formam uma alameda, provavelmente utilizada em cerimônias públicas.

Um palácio em território inimigo

Mais uma descoberta acidental. Operários russos estavam trabalhando em uma estrada próxima à fronteira com a Mongólia quando desenterraram as fundações de um palácio antigo perto do povoado de Abakan, situado às margens do rio Ienissei.

Uma equipe de arqueólogos foi deslocada para o local e, em 1940, o sítio estava totalmente escavado. No entanto, os cientistas não conseguiram decifrar o mistério que cerca o local. Eles encontraram um imenso palácio, cuja edificação remonta há dois mil anos.

Apesar de estar em território russo, a construção foi erguida em estilo chinês – mais precisamente, da dinastia Han, que manteve o poder de 206 a.C. e 220 d.C. A dúvida que tira o sono dos arqueólogos: a dinastia Han governou um território a centenas de quilômetros do local em que o palácio foi construído, em uma época de dificuldades de locomoção e muitos conflitos bélicos.

O sítio de Abakan, na época, era dominado pelos xiongnu, povo mongol seminômade tão implacável em suas incursões que foi o responsável pelo erguimento das barricadas que mais tarde dariam origem à Grande Muralha da China.

Não há registros xiongnu sobre o que de fato aconteceu, mas historiadores reuniram duas teorias extraídas de algumas crônicas chinesas. A primeira afirma que o palácio pertenceu a Lu Fan, pretendente ao trono da dinastia Han que, para escapar das disputas da corte, aliou-se aos xiongnu e permaneceu em seu território até sua morte, dez anos depois da construção do palácio.

A segunda teoria é mais interessante. De acordo com ela, o general Li Ling liderou um exército de 30 mil soldados contra os xiongnu. Depois de duras batalhas, o comandante chinês foi obrigado a se render. O imperador Wu, no entanto, acreditou que Ling havia cometido um ato de traição, aliando-se aos inimigos e, em retaliação, puniu severamente a família do general.

Quando Ling soube o que havia acontecido, ele realmente desertou das forças chinesas, aliou-se aos nômades e treinou-os sobre as técnicas militares Han. A recompensa foi a permissão para construir o palácio. Mais uma vez, não existem provas que confirmem nenhuma das teorias.