Colesterol alto na infância

Até cerca de dez anos atrás, não era rotina dos consultórios pediátricos solicitar exames de sangue para verificar os níveis de colesterol. Na infância, as grandes preocupações eram as infecções virais e bacterianas, como sarampo, caxumba e poliomielite, doenças graves, mas facilmente evitáveis com a vacinação. O colesterol era considerado um problema de adultos e idosos.

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O colesterol é um álcool policíclico sintetizado pelos animais e é um componente essencial para as membranas celulares dos mamíferos. A maior parte deste esterol é produzida pelo próprio organismo; apenas pequena parte é absorvida através da nutrição. A substância não é solúvel em água e, portanto, não é solúvel no sangue. Para ser transportado para os diversos órgãos, ele se combina com diversos tipos de lipoproteínas, que são classificadas de acordo com a sua densidade.

As de baixa densidade (LDL, em inglês) são prejudiciais à saúde, porque transportam o colesterol do fígado para diversos órgãos e são responsáveis por depositar placas de gordura nos vasos sanguíneos, provocando estreitamentos e até entupimentos nas artérias e veias (a aterosclerose), responsáveis por diversas doenças cardiovasculares. As lipoproteínas de baixa densidade (HDL) conseguem absorver e eliminar os cristais de LDL das veias, adiando ou prevenindo a aterosclerose.

Cada vez mais crianças apresentam altos níveis de LDL e, o que é pior, aliados a baixos níveis de HDL, que, além de “varrer” os vasos sanguíneos, é fundamental para a formação dos hormônios sexuais.

Motivos e estatísticas

No entanto, algumas condições têm alterado o cotidiano das famílias. Os índices de criminalidade têm reduzido os passeios ao ar livre, o que significa menos atividade física. O problema, característico das grandes cidades brasileiras, está se disseminando por pequenas e médias cidades do interior. Cada vez mais, a ação da bandidagem causa medo e isolamento.

Mas o problema maior parece estar na preguiça e falta de criatividade dos pais: é comum encontrar crianças de dois anos (ou menos) comendo frituras e gorduras em lanchonetes fast food e praças de alimentação dos shopping centers, locais considerados mais seguros. Estes alimentos são totalmente indicados para crianças com menos de sete anos e devem ser consumidos com moderação a partir daí, se não houver problemas de saúde.

Hoje, o colesterol alto na infância é uma realidade. Não existem dados oficiais, mas os pediatras acreditam que o problema afete cerca de 30% das crianças brasileiras. Isto significa que toda criança, independente da dieta alimentar e do histórico familiar, precisa ser avaliada e, se for o caso, tratada adequadamente.

Um estudo da Universidade da Virgínia Ocidental (EUA) demonstrou que num universo de crianças de dez e 11 anos com colesterol alto, apenas um terço tinha parentes diretos com hipertensão e outras doenças cardiovasculares. Este fato não se restringe aos gordinhos: pesquisa realizada em Pernambuco com 414 crianças revelou que 30% delas tinham o diagnóstico e apenas 4% estavam acima do peso ideal.

Crianças magras e bem dispostas, sem alterações no comportamento nem problemas com o distúrbio, podem apresentar colesterol alto. Como isto é possível? Com sedentarismo e má alimentação: bolachas recheadas, refeições e sucos industrializados, excesso de sódio, mesmo que consumidos de acordo com a indicação do fabricante, contribuem para a instalação de problemas de saúde. Em um adulto, os sinais ficam evidentes: abdômen pronunciado e gorduras localizadas evidenciam o problema. Mas isto é fruto de anos ou décadas de maus hábitos.

O tratamento

Dificilmente uma criança com colesterol precisa de medicamentos para restabelecer o equilíbrio orgânico. Mas o tratamento exige alterações drásticas na rotina da família: adoção de exercícios e dieta balanceada. Pode parecer difícil, especialmente para os sedentários, mas a troca traz uma série de benefícios.

Em primeiro lugar, crianças têm alta capacidade de adaptação e respondem muito bem a mudanças de hábito. Os exercícios podem ser feitos em casa, no tapete da sala, num momento de “família feliz”. Acordar cedo, brincar, correr, pular, são atividades que contribuem para o desenvolvimento físico e mental e, ao mesmo tempo, são lúdicas.

O ideal é que crianças tenham 50 minutos de atividades físicas diárias. Pode parecer muito, mas brincadeiras no banho, no playground, uma volta de bicicleta, uma partida de futebol e idas a pé para a escola ou para a casa da avó entram no cômputo.

Não é preciso transformar a criança em um atleta de alto rendimento, apenas oferecer a ela atividades que sejam prazerosas. A saúde agradece.