Alodoxafobia: o medo da opinião dos outros

Ter medo de se expressar e ter de se submeter à opinião dos outros. Esta é a principal característica da alodoxafobia, transtorno que afeta cerca de 8% da população entre 16 e 24 anos. As redes sociais reduziram distâncias e ajudaram a recuperar relacionamentos antigos, mas também são um dos principais fatores para disparar a alodoxafobia: muitos adultos jovens simplesmente recuam frente à ideia de postar um pensamento.

O termo é derivado do grego “allos” (outro) e “doxis” (opinião). Como as demais fobias, a alodoxafobia é o medo exagerado e não fundamentado que surge em determinadas situações que enfrentamos. É natural intimidar-se ao ter que expressar uma opinião frente a estranhos, superiores e professores; o problema começa quando não conseguimos simplesmente colocar a opinião em situações triviais – e também naquelas em que é necessário que apresentemos nosso parecer sobre determinado assunto.

A incidência da alodoxafobia varia de acordo com aspectos culturais. No Japão, por exemplo, sociedade que exige bastante de crianças e adolescentes no que se refere ao rendimento, 5% deles apresenta algum comprometimento psiquiátrico, entre fobias e distúrbios de ansiedade.

O que é fobia?

Esta fobia, de acordo com o grau de comprometimento, pode prejudicar os estudos e a carreira profissional. A definição da fobia é justamente esta: um pavor irracional e excessivo com relação a pessoas, objetos, animais, situações, etc.

As fobias, efetivamente, são medos necessários: todos nós devemos ter medo de altura (porque podemos sofrer uma queda), ou de locais fechados (de onde não podemos escapar em caso de algum perigo). As dificuldades começam quando não conseguimos controlar o pavor que sentimos.

Por exemplo, um local pode ser alto, mas murado e seguro. O fóbico, no entanto, não consegue nem admirar a paisagem desdobrada por um mirante. Em outros casos, como o medo borboletas (motefobia) ou de palhaços (coulrofobia), o pânico gerado é totalmente infundado; apesar de poder ser justificado em crianças pequenas, demanda tratamento quando se mantém inalterado na adolescência e idade adulta.

O centro das atenções

A alodoxafobia pode revelar também a necessidade de ser observado, avaliado e aprovado. Levada ao nível de distúrbio, ela revela que a pessoa passa a acreditar que todos estão olhando para o mesmo ponto: o portador da fobia.

Na verdade, a maioria das pessoas passa parte do seu tempo trabalhando, organizando questões domésticas, cuidando de filhos, e outra parte divertindo-se, namorando, passeando. Apesar de a fofoca ser um traço característico do ser humano, o tempo dedicado a este hábito. Seja como for, se a fofoca passa a centralizar as atenções, ela própria começa a se tornar um distúrbio.

A opinião alheia e suas implicações

Na imensa maioria dos casos, a opinião alheia não pode interferir na vida dos outros. Isto vale também para as redes sociais, a menos que sejam postados textos, fotos e vídeos comprometedores. Dependendo de quem a emite, a opinião pode funcionar para que possamos reavaliar uma ideia ou decisão, mas a palavra final é sempre nossa.

É importante também ouvir pais, professores, chefes, amigos (leais). Quase sempre os conselhos e advertências são positivos. O que não podemos fazer é viver em função do pensamento dos outros (cujas opiniões não alteram a nossa essência): isto gera tensão e estresse e pode levar algumas pessoas a anular-se ou isolar-se nos meios sociais sejam virtuais, sejam reais.

A alodoxafobia geralmente se instala lentamente, por isto é importante observar-se na postura adotada nos relacionamentos. Como qualquer fobia, o medo da opinião alheia não é inicialmente (e pode nunca vir a ser) um problema de saúde. Este só surge quando o pânico impede o desenvolvimento de atividades cotidianas.

Não podemos esperar que todos nós vivamos em concórdia inalterável. Pessoas têm diferentes gostos musicais, estilos de se vestir, comportamentos nos encontros com parentes e amigos, posições políticas e filosóficas.

Na verdade, nem sequer podemos saber o que outra pessoa sente – e muito menos os motivos que a levaram a estas convicções. Em outras palavras, o que alguém pensa é responsabilidade desse alguém (e, às vezes, é culpa, maledicência, intolerância). O importante é não se importar demasiadamente com pensamentos alheios.

O tratamento da alodoxafobia

É importante ressaltar mais uma vez que a alodoxafobia surge quando o receio de emitir opiniões se torna extremo. O comportamento fóbico pode incluir inclusive componentes físicos, como suor excessivo, taquicardia e elevação da pressão sanguínea.

Surgem também problemas emocionais, como crises de ansiedade e mesmo crises associadas à síndrome do pânico. Em casos mais graves, mesmo depois de eliminado o fator que dispara a fobia, o paciente continua percebendo o desconforto. Sente-se fraco e covarde por não conseguir fazer frente ao medo e pode ter a autoestima bastante abalada.

O objetivo do tratamento para alodoxafobia é fazer a pessoa se sentir bem consigo mesmo. Ele pode usar técnicas de dessensibilização – que consistem justamente em expor gradualmente o fóbico, na segurança do consultório, à situação que o apavora.

Um método com bons resultados é a psicoterapia em grupo, em que há uma “plateia” para que os pacientes possam expor suas opiniões, receber “feedback” dos colegas da terapia e do psicólogo, até que consiga implantar padrões compatíveis de comportamento.

Tudo começa, no entanto, com a admissão do próprio paciente: ele está exibindo um comportamento fóbico e isto está prejudicando seu dia a dia pessoal e profissional. É o momento de procurar ajuda profissional – um psiquiatra ou psicólogo, de acordo com as condições.

O terapeuta traçará um histórico do paciente, com informações sobre a evolução da alodoxafobia. O tratamento propriamente dito engloba, além da dessensibilização pela exposição, a terapia comportamental cognitiva, que fornece elementos para que o fóbico possa reconhecer e substituir os elementos causadores do pânico (por exemplo, eles podem ser trocados por sensações prazerosas, que variam de pessoa para pessoa).

A terapia comportamental cognitiva fornece resultados rápidos e consistentes. Aprender a relaxar é importante para superar os sentimentos que levam ao medo e ansiedade. Alguns pacientes podem demandar ajuda medicamentosa no início do tratamento, que lentamente são superados pelo aprendizado proporcionado pela terapia.

Caso seja necessária a ministração de medicamentos antiansiedade e antidepressivos, o paciente deve evitar a ingestão de cafeína e de comprimidos para gripe ou dor de cabeça, que podem interferir na eficiência das drogas receitadas pelo médico.

Exercícios físicos, refeições regulares e sono adequado complementam o tratamento para vencer a alodoxafobia, facilitando a concentração e mantendo a mente afastada dos pavores e demais sintomas que o medo provoca.