A Missa do Galo e outras tradições do Natal

De acordo com as tradições do Natal, a Missa do Galo, que é celebrada, nos países latinos, a partir da zero hora do dia 25 de dezembro, tem origem em uma lenda que diz que, muitos anos antes, em Belém de Judá, um galo teria cantado fortemente, como nunca se havia ouvido antes, no exato momento do nascimento de Jesus.

Outra história, esta de origem espanhola, explica a Missa do Galo. Os camponeses da região de Toledo, no centro do país, sacrificavam três galos antes das 12 badaladas da meia-noite do dia 24, em memória às três negações de Pedro (o apóstolo teria negado conhecer Jesus, na noite em que o Messias foi preso, antes de o galo cantar, anunciando a alvorada).

Missa do Galo realizada pela Igreja Católica da Polônia.

As aves sacrificadas eram levadas para a igreja e oferecidas para os pobres, que podiam, desta forma, ter um Natal mais próspero. Em outras aldeias, os galos eram levados ainda vivos, para cantarem durante a missa – o canto era um agouro de boas colheitas para o próximo ano.

A Missa do Galo começou a ser oficialmente celebrada no século V, depois que o Concílio de Éfeso, (em 471), referendou a prática. O primeiro culto foi oficiado em Roma, na igreja erguida em homenagem à Nossa Senhora, posteriormente denominada Basílica de Santa Maria Maior. O galo tornou-se progressivamente um símbolo de fidelidade, vigilância e testemunho cristão.

Mais tradições natalinas

Muitas tradições de Natal são seculares e espalharam-se rapidamente por todo o mundo cristão. Atualmente, mesmo países em que a crença em Jesus como redentor é professada pela minoria da população (como é o caso do Japão, por exemplo), a comemoração é uma data extremamente importante no calendário.

A árvore de Natal

A tradição de decorar árvores com fitas e outros enfeites surgiu no terceiro milênio antes da Era Cristã. Diversos povos asiáticos e europeus adotaram o adorno como uma forma de propiciar boas colheitas, depois do inverno rigoroso do hemisfério norte. O pinheiro foi escolhido por não perder as folhas durante os meses frios.

A data do Natal coincide com o Festival do Sol Invicto, deus que preside o tempo e as estações, identificado com Saturno e Mitras (uma antiga divindade persa). Com o aumento do número de cristãos, diversas tradições pagãs foram incorporadas às celebrações. A árvore de Natal é mais uma delas.

A forma triangular de uma árvore de Natal é usada para representar a Santíssima Trindade.

A primeira árvore teria sido montada em 1510, por Martinho Lutero, iniciador da Reforma Protestante, em Riga (Letônia), mas é incerto que este monge tenha sido realmente o criador. A representação espalhou-se pelos países protestantes e chegou aos EUA no século XIX. Os países latino-americanos só incluíram a árvore entre as tradições de Natal no início do século XX.

O presépio

Em português lusitano, o termo representa o local em que o gado é recolhido, especialmente nos meses mais frios do ano. Nas tradições natalinas, no entanto, o presépio é a representação do nascimento de Jesus.

O evangelista Lucas conta que, em função de um recenseamento determinado para toda a população da Galileia, os responsáveis por Jesus (Maria e José) tiveram de se deslocar para Belém, cidade natal dos ancestrais do pai adotivo do Messias. Lucas descreve o nascimento em um presépio, uma vez que todas as estalagens da cidade estavam superlotadas.

Em Portugal e no Brasil, a figura do Menino Jesus só é incluída no presépio na véspera do Natal.

Depois que o menino nasceu, ele foi envolvido em panos e deitado em uma manjedoura (destinada à alimentação dos animais). O hálito de uma vaca e de um jumento serviu para manter a criança aquecida. Pastores da região se aproximaram para conhecer o “Salvador da humanidade”.

O presépio conta ainda com os três reis magos (o texto evangélico cita apenas “uns magos”), que teriam sido conduzidos para o local por uma estrela muito brilhante, levando presentes para o menino (ouro, mirra e incenso).

O primeiro presépio foi montado por São Francisco de Assis em 1223, na floresta de Greccio; o objetivo da representação era explicar aos camponeses os fatos que envolveram o nascimento. O hábito se espalhou rapidamente por igrejas e conventos de toda a Europa. A montagem do presépio nas residências comuns se popularizou a partir do século XVIII.

Em Portugal, teve início o costume de incluir esculturas de pessoas comuns no presépio: são lavadeiras, carregadores de água, músicos, cantores, crianças curiosas, etc. A tradição chegou rapidamente ao Brasil (ainda antes da introdução da árvore de Natal).

Papai Noel

É uma figura lendária que, de acordo com as tradições, traz presentes no Natal para as crianças que se comportaram bem durante o ano. O personagem foi inicialmente identificado com São Nicolau, arcebispo de Mira (Turquia) no século IV.

O religioso tinha o hábito de distribuir, de forma anônima, donativos para pessoas que se encontravam em dificuldades financeiras. Desde o século V, São Nicolau, sempre representado com a mitra episcopal, tornou-se o símbolo da fraternidade que deve caracterizar as tradições de Natal. Esta é a origem dos presentes de Natal.

A alegria do Natal: crianças finalmente recebem os presentes tão aguardados.

Uma curiosidade: na Letônia, país banhado pelo mar Báltico, a tradição exige que os presentes sejam distribuídos para as crianças durante 12 dias, entre o dia da ceia e a véspera do Dia de Reis, celebrado no dia 6 de janeiro.

A caracterização atual, do velhinho rechonchudo com barbas brancas e roupas indicadas para o inverno, foi criada no início do século XX, pelo publicitário Thomas Nast, para uma campanha da Coca-Cola, veiculada nos EUA e Canadá a partir de 1931. A imagem caiu no gosto popular.

O azevinho

Trata-se de um arbusto de crescimento muito lento, mas que pode atingir até seis metros de altura. A planta cresce em diversos locais da Europa e foi adotada como símbolo de esperança por desenvolver drupas (frutos) vermelhas durante o ano inteiro, que formam um bonito contraste com as folhas verde-escuro.

Ramos de azevinho com drupas maduras.

Não por acaso, estas duas cores se transformaram em mais um símbolo do Natal. Especialmente nos EUA e Europa, são colocados ramos de azevinho na entrada das residências, para que todos os que passarem por ali tenham boa sorte. A planta, no entanto, parece não conseguir afastar o azar dela mesma: em Portugal, o azevinho está em risco de ser extinto, devido à colheita excessiva.

A ceia de Natal

Alguns historiadores acreditam que a ceia de Natal esteja relacionada à descrição da última ceia, entre Jesus e os apóstolos, poucos dias antes do martírio no Calvário. A maioria, no entanto, identifica a origem desta confraternização em um antigo hábito dos primeiros cristãos de Roma, que tinham o hábito, na época das festas de Natal, de manter as portas abertas para receber peregrinos e viajantes.

A fartura da ceia reflete o desejo de prosperidade no ano que se aproxima.

Na época, eram preparados muitos pratos e as refeições assumiam caráter festivo, já que elas eram um símbolo importante: “Deus está conosco”. A tradição, também relacionada à fartura e à solidariedade, espalhou-se rapidamente e, em cada região, foram introduzidos pratos da culinária local, como os peixes da ceia brasileira e o peru, hoje internacional, incluído pelos americanos.