A memória na velhice

Existem três tipos de memória: imediata, intermediária e remota. Quanto mais tempo retemos uma informação, mais ela se fixa, porque é constantemente relacionada a outros fatos e evocada frequentemente. Já a memória imediata pode ou não se tornar permanente, dependendo de sua utilidade: guardar por alguns instantes um endereço ou número de telefone pode ser um fato facilmente descartado, se não precisarmos mais dele alguns instantes depois. A memória na velhice precisa ter estímulos constantes, para que as novas situações do dia a dia permaneçam gravadas no nosso “disco rígido”.

Quando estamos com a mente fixa em algum problema – como chegar ao banco a tempo de pagar uma conta na data do vencimento –, é comum nos esquecermos de coisas corriqueiras, como o local em que estacionamos o carro, onde deixamos a carteira ou as chaves, etc. Isto é normal. Mas a perda da memória na velhice, apesar de corriqueira, não é normal: quase sempre está relacionada a uma causa física ou emocional e, apesar de quase sempre os idosos serem chamados de esclerosados, apenas um quarto dos pacientes que sofrem com demência (termo que, em medicina, nada tem a ver com loucura) sofreram múltiplos infartos causados por aterosclerose (doença inflamatória dos vasos sanguíneos provocada pela formação de ateromas – placas de gordura e tecido fibroso que aderem às paredes de veias e artérias).

O desgaste orgânico é natural à medida que envelhecemos, mas diversas intercorrências podem prejudicar a memória dos idosos. A principal delas é o mal de Alzheimer (doença degenerativa, que começa com pequenos lapsos e pode chegar ao esquecimento do próprio endereço ou da fisionomia do cônjuge), que acomete entre 10% e 15% das pessoas com 70 anos e entre 50% e 60% ao atingir os 90 anos. Como a expectativa de vida é cada vez maior, cuidar da memória se torna cada vez mais um problema de saúde pública.

Estudos indicam que pessoas com menos anos de estudos formam o maior grupo dos pacientes com demências. Por exemplo, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) identificou maior prevalência entre os analfabetos e os que não concluíram o ensino fundamental.

As atividades físicas – especialmente as caminhadas – também fortalecem a memória. O cérebro é exigido pelo exercício em si e também por todos os fatores que chamam a atenção: cartazes, vitrines, jardins, etc. Tudo isto implica a formação de sinapses (impulsos nervosos entre os neurônios) e atualmente sabe-se que eles podem inclusive criar novas células cerebrais. A Universidade Harvard (EUA) acompanhou seis mil mulheres com mais de 65 anos durante 15 anos e os resultados são patentes: as sedentárias apresentaram declínio da capacidade cognitiva bem mais grave.

No entanto, mesmo sem apresentar demências, a memória na velhice pode ser prejudicada pelo uso frequente de calmantes e problemas endócrinos. Nestes casos, o acompanhamento médico é fundamental: quando mais precocemente os esquecimentos forem detectados, maiores as chances de reverter o quadro.

Outra questão é a aposentadoria: de um momento para outro, cessam as pressões por projetos, metas, prazos. Pode parecer uma bênção para muitos, mas permanecer inativo chega a levar à depressão. Donas de casa conhecem este problema mais cedo, quando os filhos se casam, saem de casa e param de “dar trabalho”, o que significa um aumento do tempo ocioso. Antes de parar de trabalhar, portanto, é preciso organizar um plano para se manter ocupado, preferencialmente em grupo, para estimular as atividades.

Como se vê, as ocupações diárias são extremamente necessárias, tanto intelectuais, quanto físicas. A partir dos 50 anos, é preciso incluir novas tarefas no dia a dia, como ler, fazer palavras cruzadas (quem não está acostumado deve começar com as fáceis, para não haver desestímulo), aprender novos idiomas, cuidar do jardim ou da horta, usar o computador e a internet.

Uma boa dica para garantir a boa memória na velhice é usar uma agenda para anotar todos os fatos do dia a dia: as compras no mercado, a ida ao banco, a consulta ao médico, os exercícios, os programas assistidos, o cardápio. No final do dia, é bom reler as tarefas desenvolvidas no dia, ocorrendo o mesmo na manhã seguinte.

Certamente, estes “nadas” do cotidiano não serão fixados na memória, mas formam uma “malhação” cerebral, fortalecendo os mecanismos necessários para guardar os fatos principais.