A luta greco-romana – História e regras

Nossos ancestrais sempre lutaram: para se defender, tomar um território de caça ou coleta e, claro, para agredir. Como se pode observar na natureza, a luta é também uma forma de brincadeira (que, na verdade, prepara os filhotes para sobreviver quando se tornarem espécimes adultos). Com o homem, deve ter acontecido a mesma coisa: praticar a luta era uma forma de preparar guerreiros para suplantar inimigos e garantir-se contra possíveis invasões. Esta é a provável origem da luta greco-romana.

História da luta greco-romana

Trata-se de uma forma de luta marcial e provavelmente inspirou outras formas de combate no Ocidente (e Oriente Médio, nas regiões dominadas pelos gregos). Já nas primeiras Olimpíadas (cuja data tradicional é fixada em 776 a.C.), a luta greco-romana foi uma das provas disputadas. Os jogos eram realizados em Olímpia, em homenagem a Zeus (o deus dos deuses) e eram uma forma de preparo bélico: os jovens gregos competiam em demonstrações de força e também praticavam lançamento de discos e lanças, corridas a pé e a cavalo, etc. Os destaques recebiam coroas de folhas de louro (o loureiro é a árvore dedicada a Zeus).

Como se vê, a luta é apenas grega, mas os romanos dominaram boa parte do Mundo Antigo (todo o Mediterrâneo e os territórios das atuais França e Inglaterra) e acabaram absorvendo a cultura e arte helênicas: mesmo assim, os combates preferidos dos romanos eram bem mais violentos, inclusive com o uso de armas, como o gládio e a maça, além de “lutas” com animais selvagens, trazidos diretamente da África e Oriente Médio para as muitas arenas (a mais famosa é o Coliseu).

A partir de Roma, a luta espalhou-se rapidamente pelas colônias do império. Hoje, os principais atletas vêm da Escandinávia e do Leste Europeu. Na Europa, o esporte só não se popularizou nas Ilhas Britânicas, que sempre preferiram a luta livre: entre os ingleses, há muitos que consideram a luta greco-romana muito light, para ser considerada uma arte marcial.

Talvez isto ocorra graças à centenária briga entre ingleses e franceses pela hegemonia europeia; um dos maiores incentivadores da luta greco-romana foi o imperador Napoleão Bonaparte, que introduziu o esporte no treinamento dos soldados da França.

O Comitê Olímpico Internacional decidiu retirar a luta greco-romana dos jogos em 2020, em função da queda no número de atletas de destaque (que têm migrado para outros tipos de luta, especialmente a Martial Mixed Arts – MMA), mas até lá ainda vai haver a intervenção de muitos grupos contrários à medida, especialmente da FILA – Federação Internacional de Lutas Associadas.

As regras da luta greco-romana

Apesar de ser uma “luta livre” (atualmente, mais esporte do que combate), a luta greco-romana tem regras próprias. Os atletas são divididos em categorias, de acordo com seu peso. São sete ao todo, além das juvenis: de até 55 kg a 96 kg – 120 kg. Apenas homens competem nas provas organizadas pelas instituições oficiais.

Algumas normas de higiene também precisam ser observadas: as unhas devem estar aparadas, os cabelos devem ser curtos ou presos para trás e competidores barbudos não são aceitos nas lutas, que acontecem em tapetes de oito metros de lado, com no máximo dez centímetros de altura, instalados em plataformas de 12 m x 12 m, com altura mínima de 90 centímetros.

Atualmente, o uniforme é comporto por camiseta, calção (ou uma espécie de macaquinho, uma peça inteiriça) e botas especiais, mas o COI discute modernizá-lo, permitindo que os atletas se apresentem com o torso nu. O material dos uniformes é de microfibra, bem justo ao corpo. É provável que os novos modelos estreiem nos Jogos do Rio de Janeiro.

É proibido o uso das pernas: os atletas só podem usar o tronco e os membros superiores para derrubar, erguer ou deslocar seus adversários. A luta é travada em dois rounds de três minutos, com um intervalo de descanso de 30 segundos. Se houver empate, ocorre uma prorrogação, igualmente de três minutos.

Também não são permitidos socos, bofetadas, cabeçadas e cotoveladas: o objetivo é apenas agarrar o adversário, obrigando-o a se deitar no tapete. É preciso ter muita habilidade para manipular mãos e braços do oponente e, assim, conseguir aplicar os golpes.

O vencedor é o lutador que consegue fixar os dois ombros do oponente no solo, caracterizando uma queda. Este é o “nocaute” da luta greco-romana; a outra forma de vitória é por pontos, de acordo com golpes bem aplicados durante os rounds (os árbitros podem dar de um a cinco pontos para cada golpe bem sucedido).

Mas a luta não pode se tornar um massacre: caso um dos atletas abrir uma vantagem de dez pontos, é automaticamente declarado vencedor.

Os lutadores não podem começar o combate suados, já que o suor torna a pele escorregadia e prejudica os movimentos. Em geral, após o aquecimento, eles são enxugados com toalhas e, nas competições oficiais, existe a verificação por parte dos árbitros.

As participações brasileiras

A luta greco-romana nunca foi muito difundida no país e, por isto, conta com poucos adeptos. O Brasil só despontou nos Jogos Pan-Americanos de São Paulo (1963).

Atualmente, ela vem sendo usada como parte do treinamento por lutadores de MMA (o antigo vale-tudo), como o campeão do Ultimate Fighting Championship, Randy Couture, originariamente um especialista em luta greco-romana. Vários educadores físicos garantem que é uma prática muito útil para o condicionamento de qualquer atleta, profissional ou amador.

Para chegar às Olimpíadas, o processo foi mais demorado: apenas em Seul (Coreia do Sul, 1988), Barcelona (Espanha, 1992) e Atenas (Grécia, 2004), a delegação brasileira contou com lutadores da modalidade. Mesmo assim, nenhum deles (foram apenas quatro) conseguiu se sobressair e a participação foi bastante discreta. Seja como for, ser classificado para o Pan ou os Jogos já é uma consagração para um atleta amador.