Viciados em celulares

A evolução da telemática mudou radicalmente a forma de comunicação: até a década de 1980, fazer uma ligação interurbana era uma verdadeira saga: era preciso esperar algumas horas para conversar com um parente ou colega de trabalhar. A telefonia fixa melhorou muito desde então, e surgiram os primeiros celulares no país.

No início, havia muitas dificuldades para conseguir sinal e completar as chamadas. No entanto, os celulares tornaram-se cada vez melhores (especialmente com o surgimento da banda digital) e agregaram muitas ferramentas: câmera fotográfica, filmadora, serviço de mensagens, reprodução de áudios e vídeos, televisão e rádio.

Com tantos benefícios, surgiram os que não largam o aparelho por nada: são os viciados em celulares.

Os smartphones – telefones inteligentes – agregam muitas vantagens para seus portadores. Com eles, é possível conectar-se à internet, assistir aos programas favoritos, ouvir música, capturar imagens, enviar mensagens e arquivos e, entre outras muitas coisas, telefonar. Todo o mundo conhece pessoas que, logo ao sair de casa, usam o brinquedinho, às vezes mesmo no elevador.

Mas não são estes os viciados em celulares. Podem até ser exibicionistas, que gostam de pavonear-se com seus aparelhos de última geração em todos os momentos possíveis, mas este é um problema menor.

A doença

Os viciados em celulares estão realmente desenvolvendo um problema de saúde. Não conseguem ficar longe do celular, o mal já ganhou nome: nomofobia, a incapacidade, desconforto ou ansiedade de ficar longe do aparelho ou sem sinal. O termo se origina do inglês: no-mo, no mobil, ou sem mobilidade.

Fobia é uma palavra grega que significa medo ou pânico. Assim, nomofobia é o pavor de ficar impossibilitado de fazer chamadas ou conectar-se à rede mundial. Fobos é uma lua de marte, planeta batizado com o nome do deus romano da guerra. As luas de Marte, Deimos e Fobos, significam o pavor e o terror provocados pelos conflitos bélicos.

O sintoma mais comum do vício em celulares é a reclamação de parentes e amigos. Muitos nomofóbicos não admitem a doença, no entanto, as pessoas próximas reclamam do hábito. É preciso estar muito atento, porque, como transtorno obsessivo compulsivo (TOC), pode ser altamente incapacitante.

Outro sinal é ficar permanentemente conectado. O PC em uma rede social, o notebook ligado num site de notícias, o smartphone no Messenger indicam uma necessidade de não perder nada, estar sempre disponível para amigos, colegas e novidades.

O viciado em celulares pode deixar de realizar as atividades profissionais e sociais. A procura constante por novas mensagens, para verificar o sinal do aparelho telefônico ou chamadas perdidas simplesmente impede a realização das atividades de rotina.

O tratamento

É preciso encarar o problema de frente. Uma única tarefa não realizada é sinal de que o vício está instalado e, da mesma forma que outras formas de TOC (a necessidade imperiosa de verificar se as portas da casa estão trancadas, a lavagem das mãos repetidas vezes e a necessidade de combinar cores e tecidos no vestuário são outros exemplos), a doença se estabelece e progride incapacitando cada vez mais.

Outros especialistas identificam o vício em celulares com a síndrome do pânico: um medo irreal, mas muito concreto para o seu portador, que pode atingir o nível de geral sudorese. Pesquisas demonstram que 34% da população brasileira ficam ansiosos longe do celular e 54% afirmam que seus usuários chegam a passar mal se estão distantes do aparelho de comunicação.

A terapia comportamental cognitiva é o tratamento que atualmente fornece os melhores resultados. O paciente é estimulado a identificar suas reais necessidades e a abandonar hábitos nocivos. O tratamento é longo e pode ser permanente, de acordo com as características específicas de cada um.

A internet e a telefonia móvel vieram para agregar valor e melhorar a qualidade de vida. É preciso, porém, escapar à conexão full time. Em determinados momentos, é preciso ficar “unplugged” e curtir a vida. Se isto não é possível, é preciso procurar um terapeuta.