Quem foi Martinho Lutero?

Martinho Lutero, sacerdote católico agostiniano, nascido em Eisleben, é a figura central da Reforma religiosa que encerrou a ascendência católica no continente europeu. Nascido no final do século XV, não pretendia provocar um cisma, mas corrigir o que considerava distorções na Doutrina Cristã. Na época, o comércio de relíquias (objetos que teriam pertencido a santos, dotados de pretensos poderes miraculosos) era comum entre os católicos. Além disso, a dispensa de indulgências (perdão de pecados) em troca de dinheiro era motivo de escândalo: o Paraíso era comprado a peso de ouro. As indulgências continuam figurando no cânon católico, mas hoje são atos piedosos e ritualísticos.

Em 1517, Martinho Lutero pregou, nas portas da Igreja de Wittenberg, suas 95 teses contra um vendedor de indulgências que agia nas redondezas. Mesmo com o pedido do papa Leão X, o sacerdote recusou-se a retirar seus escritos implicou sua excomunhão em 1520.

Lutero ensinava que a salvação da alma não é obtida com boas ações (a compra de indulgências seria uma delas), mas pela fé em Jesus. A salvação seria uma graça de Deus, independente do mérito do fiel. Até hoje, as igrejas reformadas mantêm este dogma. Também afirmava que a Bíblia é a única fonte divinamente inspirada, reduzindo ou anulando o valor da tradição e da autoridade do papa (o dogma da infalibilidade papal só seria publicado pela Igreja Católica muito mais tarde, em 1870).

Martinho Lutero traduziu a Bíblia para o alemão (até então, só havia versões em latim), facilitando o acesso dos fiéis às Escrituras (o que, por outro lado, conduziu a diversas interpretações diferentes, que redundaram em igrejas independentes). Seu casamento com a ex-freira Catarina von Bora, em 1525, que gerou seus filhos, encerrou o celibato clerical para os protestantes, como passaram a ser chamados, numa alusão aos protestos de Lutero.

Em seus últimos anos, Lutero revelou-se antissemita, dizendo que os judeus deveriam ser mortos e seus bens, confiscados em favor da Igreja, o que o tornou uma figura histórica bastante controversa.

A primeira divergência entre os protestantes aconteceu entre Lutero e o suíço João Calvino. O ex-sacerdote de Wittenberg pretendia reformar o Catolicismo, enquanto Calvino acreditava que a instituição estava tão deteriorada que deveria ser destruída e substituída por uma nova igreja.

A reforma luterana foi a causa secundária de revoltas camponesas, que viam nos protestos de Lutero uma condenação às classes dominantes, historicamente associadas ao clero católico. Mas os resultados obtidos nestas revoltas foram nulos ou mínimos.