A consciência crística

Algumas vertentes filosóficas vinculadas à Nova Era entendem que a evolução é infinita e todos os seres estão destinados à perfeição e à felicidade. Cada pessoa deve encontrar seu próprio caminho para conquistar níveis cada vez mais elevados de inteligência, ajudando no erguimento dos inferiores. Cada ser, de acordo com esta ideia, nasce totalmente ignorando, mas carrega o gene da perfectibilidade, que significa a aproximação cada vez maior com a Potência Cósmica. Os mais próximos desta Realidade Criadora obtiveram a consciência crística.

Para estas correntes, atingir a consciência do Cristo não é prerrogativa apenas aos fiéis das igrejas fundadas sob os ensinamentos de Jesus. Outros habitantes da Terra, como Confúcio, Buda e Zaratustra teriam também atingido este patamar e retornado para ensinar os seres humanos, num exemplo de caridade e humildade.

Isto significa que estas escolas de pensamento admitem a reencarnação. Mas as formas como este fenômeno se daria variam de grupo para grupo: alguns entendem que os seres reencarnam várias vezes no mesmo planeta (vários astros seriam habitados), em grupos solidários que se ajudam mutuamente na trajetória evolutiva.

Outros grupos acreditam que as reencarnações acontecem numa sucessão de planetas, que seriam classificados de acordo com o seu nível de desenvolvimento. Segundo esta crença, a Terra, por exemplo, estaria destinada a ser o local para sanar defeitos e vícios, com os crimes e pecados decorrentes destas imperfeições. Uma vez corrigidos estes problemas, os seres seriam enviados a outro planeta, para fortalecer-se e comprovar o aprendizado.

Neste caso, de uma encarnação em cada astro, os grandes mestres da humanidade não teriam atingido a consciência crística, mas seriam inspirados e tutelados por inteligências estagiando em outros mundos, ou mesmo livres da encarnação, que se torna desnecessária em determinado momento da evolução.

Esta gradação, que para alguns adeptos infinita, para outros é dividida em sete, nove, 15 ou 18 níveis, terminaria por conferir ao ser a consciência crística, estágio em que conhecimento e amor atingem o mais alto grau que se pode conceber. Tornando-se um “Cristo”, o espírito ou alma passa a entender Deus e colaborar com a sua obra, agindo como coautor da Criação.

Isto ocorre porque a Criação seria eterna: não teve início e não terá fim, apesar de os mundos físicos conhecerem nascimento, ascensão, decadência e morte. Este conceito se baseia numa frase de Jesus contida no Evangelho segundo São João: “Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho com ele” (João, 5:17).

Os adeptos da Nova Era rejeitam o conceito de religião tradicional, com igrejas, ritos e sacramentos. Para eles, nenhum dos grandes nomes da humanidade pretendia fundar uma religião, mas ensinar o povo sobre a necessidade da prática da caridade e fraternidade, porque somos descendentes de uma mesma natureza cósmica, criados iguais no ponto de partida e, portanto, irmãos.

Mesmo assim, as principais personagens evocadas para desenvolver a tese da consciência crística geraram religiões institucionalizadas: Budismo, Confucionismo, Cristianismo e Islamismo. Teólogos destas religiões usam os textos deixados por Buda, Confúcio, os seguidores de Cristo e Maomé para embasar suas práticas religiosas.
Certamente, a mera prática de atos sacramentais não é suficiente para transformar os seres. Por outro lado, as ideias defendidas por algumas correntes filosóficas se transformam em uma nova mitologia, com seus adeptos rendendo-se novamente a atos externos que nada modificam a natureza espiritual.

É preciso pensar racionalmente, recusar as instruções terminantes – “é assim porque eu digo que é” –, porque isto é apenas a criação de um novo dogma, que por definição é rígido e não aceita debates. A busca da felicidade está realmente na caridade e solidariedade, mas isto deve ser buscado de forma simples, sem necessidade do sobrenatural.