Wingsuit: Um traje voador

Você já pensou em se transformar no Homem-Pássaro, o herói do desenho animado dos anos 1960? Guardadas as devidas proporções, é isto que propõe o wingsuit, um traje voador e também o nome desta modalidade ultrarradical. Trata-se de uma prática reservada aos corajosos, aqueles que não observam grandes emoções nos saltos de paraquedas, parapente e asa delta.

O wingsuit não é uma modalidade recente do paraquedismo: os primeiros trajes voadores – ou, melhor dizendo, planadores – surgiram na década de 1930, duas décadas depois do primeiro salto de paraquedas a partir de um avião.

Dois paraquedistas saltam com wingsuit, na costa da Inglaterra.

Eles eram confeccionados inicialmente com materiais rígidos, como lona, madeira e até aço; os primeiros equipamentos são uma prova de que o homem é um bicho muito persistente: de 1930 a 1961, 72 dos 75 atletas que encararam o desafio morreram durante testes.

Eles merecem figurar em “Estes Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras”, filme de 1965, dirigido pelo inglês Ken Annakin, que mostra uma corrida de aviões entre Londres e Paris. As asas rudimentares, no entanto, ofereciam pouca mobilidade: entre os problemas técnicos, os primeiros wingsuits limitavam os movimentos na hora de saltar do avião e de acionar os paraquedas para o pouso. Além disto, muitos equipamentos simplesmente perdiam componentes durante a queda.

Nos anos 1980, o alemão Cristoph Aarns decidiu adotar material mais flexível para confeccionar as asas, o que proporcionou maior estabilidade e aumentou o tempo dos voos. O francês Patrick de Gayardon inovou o traje voador inserindo superfícies entre as pernas e braços.

As características do traje voador

O traje voador reduz a velocidade das quedas livres. Sem o wingsuit, a velocidade final de um salto em queda livre pode atingir 200 km/h; com o equipamento regula para 50 km/h, com um avanço horizontal – o voo – de até 150 km/h. O pouso é realizado com o suporte de um paraquedas.

Desde 2003, está sendo testado um novo modelo de macacão planador: o wingpack, uma asa rígida de fibra de carbono, que permite maior autonomia de voo e pode ser equipado com cilindros de oxigênio e outros equipamentos. Neste primeiro ano de experiências, o paraquedista austríaco Félix Baumgartner saltou de uma altura de nove mil metros e atravessou o canal da Mancha (entre a França e a Inglaterra), uma distância de 35 quilômetros, em 14 minutos.

Os praticantes querem ainda mais emoção. Estes sendo realizados testes para permitir que o pouso dispense o auxílio do paraquedas. Em 2012, o inglês Gary Connery conseguiu a proeza pela primeira vez (ele pousou sobre uma pilha de caixas de papelão). O brasileiro Luigi Cani e o americano Jeb Corliss também estão envolvidos na experiência.

Os equipamentos do wingsuit

O wingsuit pode parecer muito semelhante ao macacão tradicional dos paraquedistas, ao qual foram costurados pedaços de tecido entre os braços e as pernas. Mas o equipamento não é tão simples assim. O corpo do paraquedista funciona como estrutura de sustentação para as asas e, por este motivo, elas são confeccionadas com tecidos extremamente resistentes, mas relativamente leves e macias.

Nos modelos convencionais, as asas possuem pequenas aberturas na parte de baixo, para permitir que o ar penetre, inflando-as. Isto as torna mais firmes, com um formato aerodinâmico – que é o responsável pelos voos planados.

Entre os membros inferiores, as asas são divididas ao meio (dos joelhos para baixo, elas apresentam as mesmas aberturas de entrada de ar observadas entre os braços e o tronco). Entre o quadril e os joelhos, o wingsuit é equipado com o chamado painel defletor, uma estrutura sem aberturas que oferece maior estabilidade aos paraquedistas, reduzindo as turbulências provocadas pela forte pressão atmosférica.

Um paraquedas tradicional completa (por enquanto) os equipamentos necessários para os voos planados. Ele só é acionado quando o atleta se aproxima (muito) da superfície e proporciona maior segurança e conforto.

Esta tecnologia também é responsável por permitir as mesmas manobras no ar da queda livre, como o Free Fly e o Sky Surf, com saltos “míssil”, parafusos, com o atleta sentado e, claro, o voo na horizontal, bem mais longo, para curtir a paisagem.

O traje voador não é para todos os bolsos: um wingsuit de treinamento chega a custar R$ 5.000. De acordo com a Força Aérea Brasileira, o requisito mínimo para a prática são 200 saltos prévios de paraquedas, metade deles em queda livre.

Controles de voo

Um salto com o traje voador consiste basicamente em três posições. O paraquedista precisa manter o corpo ereto, com uma ligeira inclinação das costas para o céu. Desta forma, garante-se uma queda mais vagarosa, sem grandes solavancos.

Inclinando o corpo para baixo e dobrando ligeiramente os joelhos, o saltador consegue impelir-se para frente e imprimir maior velocidade ao voo. Os mais experientes conseguem manter o corpo rígido, reto e inclinado para baixo: desta forma, são atingidas as maiores velocidades.

Estas posições, que apresentam ligeiramente de acordo com a compleição física do paraquedista (especialmente peso e altura), são treinadas exaustivamente em terra, antes dos primeiros exercícios aéreos com o wingsuit.

Os saltos com o traje voador utilizam movimentos do corpo inteiro: o atleta usa cabeça, pescoço, tronco, quadril, braços e pernas para se mover no ar. Estas técnicas são muito suaves, para oferecer o máximo rendimento da pressão atmosférica.

Em um salto tradicional, o paraquedista atinge velocidade média de 190 km/h e, em condições favoráveis, pode planar até 100 km/h. Com o wingsuit, o atleta cai mais devagar (entre 80 e 100 km/h, de acordo com a prática e o porte físico) e percorre distâncias de até 150 km.

Explicações

O traje voador usa leis da Física e alguma tecnologia para fazer os voos de longa distância. Basicamente, a resistência do ar, encontrando maior espaço de atrito, impede a aproximação acelerada do paraquedista em relação à superfície. Na prática, o wingsuit foi sendo desenvolvido através do método de tentativa e erro: os primeiros saltadores foram aprendendo a aerodinâmica da queda livre.

O wingsuit ainda explora outras forças naturais: peso, sustentação, empuxo e arrasto. As duas primeiras alteram o movimento vertical: o peso determina a queda com aceleração constante, enquanto a sustentação, quando se equipara ao peso, impede ou retarda a queda.

O empuxo é responsável pela movimentação horizontal de um objeto. Geralmente, esta força é utilizada com o emprego de propulsores (como as turbinas de um avião). O arrasto é promovido pelo ar na direção oposta ao movimento horizontal do paraquedista.