O termalismo e seus benefícios

A busca pela cura pode ser aliada ao lazer. O Brasil é rico em recursos hídricos e muitos deles possuem recursos reconhecidamente terapêuticos. O termalismo é aplicado principalmente nos casos de reumatismo, hipertensão arterial, problemas ósseos, de tendões e articulações, sempre como uma técnica complementar do acompanhamento médico reconhecido pela Organização Mundial da Saúde. Mas ele também apresenta outros benefícios, especialmente para a pele: águas termais hidratam, corrigem o pH (e, com isto, combatem bactérias e fungos e reduzem efeitos de alergias, irritações e coceiras).

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Os primeiros registros do uso de fontes termais surgem entre os antigos gregos, mas foi Roma quem sistematizou os estudos, criando a hidrologia médica (ou crenologia), para pesquisar novas técnicas de tratamento: já havia saunas na Cidade Eterna e em suas colônias no século I de nossa era. As termas de Vichy (França) e de Baden Baden (Alemanha) ainda estão em funcionamento, mesmo tendo enfrentado forte oposição das autoridades religiosas da Idade Média, que entendiam o “culto ao corpo” (banhos incluídos) como pecado ou, ao menos caminho para a perdição.

No Brasil, as primeiras fontes foram encontradas em Minas Gerais e Goiás, no século XVI, por desbravadores que procuravam ouro e índios para escravizar, mas acabaram encontrando águas quentes. Depois disto, estabeleceram-se estâncias hidrominerais em diversos Estados, mas a maioria dos negócios resume-se à captação, envase e distribuição de água mineral.

Com os avanços da medicina, especialmente das descobertas do século XIX (o desenvolvimento da citologia, a descoberta de microrganismos nocivos à saúde humana, a produção de medicamentos com ação rápida e eficaz, entre outros), o termalismo conheceu certa decadência. A pouca precisão sobre o funcionamento dos mecanismos de ação das águas termais (e de vários outros tratamentos considerados não científicos) fortaleceu a importância dos tratamentos médicos e medicamentosos, cada vez mais desenvolvidos.

O mecanismo ainda é incerto, mas acredita-se que a temperatura mais elevada provoque vasodilatação periférica, restabelecendo o equilíbrio químico e mineral. A imersão nas águas também tem ação sedativa, melhora as funções cardiovasculares e melhora o peristaltismo intestinal, com maior produção de bílis e aceleração das funções renais.

O termalismo é contraindicado em casos de processos infecciosos ou inflamatórios agudos, tumores, problemas renais agudos, febre, doenças contagiosas, cardíacos e pacientes com quadros de hipertensão descompensada, cujos controle quase são feitos com medicamentos específicos.

A maioria das pessoas submetidas a tratamentos faciais com peelings, ácidos e laser pode mergulhar nas águas termais 15 dias após o fim das sessões. Mas todos estes tratamentos podem ser potencializados com o uso de águas minerais engarrafadas, à temperatura ambiente e, antes de sair ao Sol, a pele deve estar totalmente seca. Os usos indicados são os seguintes: quem usa muita maquiagem pode usá-las como demaquilante auxiliar; peles secas podem ser beneficiadas com a borrifação antes do hidratante e, quando surgem as olheiras, podem ser feitas compressas frias nas pálpebras por 15 minutos. Em caso de dúvidas, é preciso consultar o dermatologista.

Afinal, o que são fontes termais?

De acordo com a legislação brasileira, são nascentes, piscinas naturais e quedas d’água classificadas de acordo com a presença de gases: radioativas (com a presença de radônio – um dos gases nobres presentes da tabela periódica), toriativas (ricas em torônio – um isótopo mais pesado, com um número maior de nêutrons em seu núcleo, e radioativo do radônio) ou sulfurosas (que apresentam desprendimento de ácido sulfídrico); e com relação à temperatura. São frias (com temperaturas abaixo de 25°C), hipotermais (entre 25°C e 33°C), mesotermais (entre 33°C e 36°C), isotermais (entre 26°C e 38°C) e hipertermais (acima de 38°C).

Para ser considerada termal, a fonte deve apresentar temperatura 5°C superior à do ambiente. O estudo das águas em geral é campo de estudos da hidrologia (ramo da geologia). A descoberta dos efeitos terapêuticos gerou a medicina hidrológica, com a aplicação de banhos, duchas, massagens, etc., e a crenologia moderna, que pesquisa os efeitos terapêuticos presentes na água. Nos EUA e Europa, existem cursos específicos para a formação de profissionais para a área.

Termalismo e negócios

Mas engana-se quem pensa que o termalismo é apenas um auxiliar nos tratamentos médicos. A busca pelas águas termais provocou a geração de empregos para pesquisadores e técnicos, mas também para a indústria da hotelaria e gastronomia.

Em São Paulo, por exemplo, estão localizadas 20 estâncias hidrominerais e o turismo de cura movimenta boa parte da economia destas cidades, que não atraem apenas pessoas com problemas de saúde. A imagem das estações de tratamento para tuberculose é bem distante da encontrada nas estâncias: são hotéis, restaurantes, termas (é claro), parques aquáticos e muitas opções para todas as idades, como ecoturismo e turismo de aventura.

O mercado está longe de ser saturado. Em Santa Catarina, por exemplo, segundo o Ministério de Minas e Energia, há registro de 270 fontes de águas minerais (um destes locais abrigou, em 1845, o imperador Pedro II e sua mulher, Teresa Cristina). Delas, apenas 40 possuem alvará para funcionamento (e pouco mais da metade já recebeu investimentos). A maioria delas, no entanto, está localizada em regiões sem infraestrutura para receber turistas. É preciso empenho público e privado para transforma-las em fontes de riqueza e focos de promoção da saúde e da prevenção de doenças, lazer e turismo.

A talassoterapia é o uso da água do mar (ou de águas salobras próximas ao litoral) para fins médicos e profiláticos. Mais uma vez, que é o país com maior potencial hídrico do mundo, tem uma costa de mais de 7,5 mil quilômetros quadrados, o que aumenta as oportunidades para aplicação do termalismo.