Superstições que herdamos da Grécia

Os gregos nos deixaram a filosofia, as artes, a democracia, a prática de esportes, o alfabeto moderno (formado das palavras “alfa” e “beta”, as duas primeiras letras gregas). Tradicionalmente, a história da Grécia antiga tem início por volta de 1100 a.C. Hellás, como era chamada, conheceu o poder e a decadência, até se tornar uma colônia romana, em 146 a.C. Foi tempo mais do que suficiente para que se criassem crenças e superstições, e muitas delas perduram até hoje.

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O teatro do Ocidente foi criado na Grécia. No início, apenas homens podiam representar e, por isto, os gregos inventaram as máscaras – as personas. Com ele, surgiu uma superstição. Só se podia pedir sorte aos deuses, que viviam se intrometendo na vida dos humanos.

Assim, antes de entrar em cena, os atores desejavam sorte uns aos outros com outras palavras: “merda” e “quebre a perna” eram as expressões mais comuns. Até hoje, é assim que os artistas se cumprimentam antes de a cortina se abrir.

Entrando na Idade Moderna

Em 1453, os turcos otomanos tomaram a cidade de Constantinopla, pondo fim ao Império Romano do Oriente (o império turco ocupou todos os territórios bizantinos, Grécia incluída). A invasão ocorreu em uma terça-feira, 13. Ela equivale à nossa sexta-feira, 13.
O número 13, ao contrário da superstição ocidental, traz sorte, para os gregos, e não azar, já que é o número de participantes da Santa Ceia (último contato de Jesus com os 12 apóstolos; logo em seguida, ele foi preso e executado na cruz). Quando combinado com a terça-feira, no entanto, o número representa desastre. Alguns comerciantes nem abrem as portas nestes dias.

Os olhos

O olho grego é um talismã para afastar a inveja. Na verdade, a origem da superstição é turca. Trata-se de uma peça feita de vidro azul, porque o mau olhado teria esta cor. A superstição grega se espalhou por países católicos e muçulmanos (nos países árabes, ele chegou a ser usado em cerimônias religiosas).

Na Europa, é comum encontrar o olho grego fixado na porta de entrada das casas e também preso a peças do enxoval de bebês. Quando o amuleto aparece rachado, é sinal de que ele protegeu seu portador contra o mau olhado. No Brasil, ele guarda semelhança com o olho de cabra, que é pendurado na porta do quarto de dormir com algumas ervas, para espantar o “olho gordo”.

O amor

Em “O Banquete”, o filósofo Platão cita diversas definições do amor. Cada convidado descreve o sentimento de uma forma diferente (na verdade, cada um faz um elogio ao deus Eros). O dramaturgo Aristófanes dá a sua contribuição: ele diz que, no início dos tempos, os homens eram seres completos, com duas cabeças, quatro braços e quatro pernas.

Isto permitia que os movimentos fossem bastante ágeis. Com tanta força e rapidez, os homens decidiram escalar o monte Olimpo e lutar contra os deuses, para tomar seu lugar. Não deu certo; as divindades levaram a melhor.

Zeus, para castigar a humanidade, tomou uma espada e cindiu todos os homens, dividindo-os ao meio. Zeus ainda pediu ao deus Apolo que cicatrizasse a ferida (e assim surgiu o umbigo). Desesperados, os homens caíram na terra e, desde então, procuram sua outra metade, sua “alma gêmea”, para que possam se sentir completos.

Platão, na verdade, queria refutar esta tese, já que ele e seu mestre, Sócrates, combatiam todas as formas de superstições. Mas a ideia de “cara-metade” e de “alma gêmea” resistiu aos séculos e até hoje é crença de muitas pessoas.

Espelhos

Na Grécia antiga, utilizava-se uma tigela cheia d’água para conhecer o futuro. O consulente se debruçava sobre a tigela, de forma que sua imagem se refletisse na superfície. Se o utensílio se partisse, era sinal de que a pessoa enfrentaria tempos difíceis.

Com o desenvolvimento da técnica de produção de espelhos, a superstição foi transferida para eles. Os antigos romanos deram a sua contribuição: quem quebra um espelho teria sete anos de azar. “Sete”, para os povos antigos, equivale ao infinito. Na verdade, os primeiros espelhos eram objetos muito caros; a superstição se espalhou porque os patrões não se cansavam de advertir os servos e escravos sobre a maldição que recairia sobre eles caso quebrassem algum espelho.

Guarda-chuvas

Entre os gregos, eles eram usados como proteção contra o Sol. Há duas versões para não deixar um guarda-chuva aberto dentro de casa (de acordo com a superstição, esta atitude atrai o azar). Ao abrir o objeto na residência, o incauto estava insultando Hélio (posteriormente identificado com Apolo), o deus grego do Sol.

Os gregos acreditavam que o guarda-chuva protegia contra as intempéries e, simbolicamente, contra as vicissitudes da vida. Deixá-lo aberto em casa era uma ofensa contra os espíritos guardiães, que se afastavam, deixando a residência desprotegida.

Pata de cavalo

Os cavalos eram sagrados entre os gregos, consagrados ao deus do mar, Poseidon. É por isto que os gregos simularam um cessar-fogo na Guerra de Troia, deixando um cavalo de madeira na praia, como sinal de rendição (o cavalo, que deu origem à expressão “presente de grego”, estava cheio de soldados, que destruíram a cidade e acabaram com a guerra).

Quem encontrasse uma ferradura, devia levá-la para casa e pendurá-la na porta de entrada, com as pontas para cima. Do contrário, a sorte seria derramada. A ferradura até hoje é usada como talismã, não apenas nas portas, mas em patuás e bijuterias.

Com o pé direito

Os gregos acreditavam que o lado esquerdo era amaldiçoado. Por exemplo, a revoada de um bando de pássaros para a esquerda significava mau agouro. A superstição se manteve com o avanço do Cristianismo (os eleitos de Jesus, quando houver a separação de “bodes e cabras”, estarão à sua direita e o mau ladrão foi crucificado do lado esquerdo).

Nos templos gregos, a escadaria que leva ao altar tem sempre três degraus, para que o sacerdote sempre alcance o solo sagrado com o pé direito. Os romanos nem sempre observaram este detalhe arquitetônico, mas sempre construíam as escadas com número ímpar de degraus.

Com o tempo, levantar com o pé direito passou a sinalizar boa sorte, enquanto entrar com o pé esquerdo tomou o significado de fazer algo errado ou incompleto. A superstição é encarada seriamente por muitas pessoas, que podem inclusive sugestionar-se e realmente ter dias ruins ao deixar a cama com o pé esquerdo.

Contra feitiços e feiticeiros

As bruxas se tornaram bastante populares – e temidas – durante a Idade Média. Antes disto, porém, os sortilégios, filtros e encantos faziam sucesso para atrair sorte ou conjurar o mal para os inimigos. Entre os gregos, uma forma de neutralizar a magia era fazer uma figa com a mão direita. O gesto, que mais tarde se tornou um talismã, imitava o pênis ereto, ou a potência masculina. Para outros grupos, equivale à pata de um coelho, outra superstição relacionada à fertilidade e abundância.

A figa também se tornou comum entre os africanos (para eles, o gesto “fecha o corpo”, impedindo qualquer ataque material ou espiritual). Entre os primeiros cristãos, sempre perseguidos, a figa era uma forma disfarçada de representar a cruz. Para os italianos, representa uma relação sexual. A palavra “manofico”, junção de “mão” e “figo”; na gíria, figo significa vagina. O polegar representa o pênis.

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