Os 12 trabalhos de Hércules

Zeus é o rei dos deuses na mitologia grega. Além dos filhos divinos que teve com Hera – Ares (deus da guerra), Hefesto (deus do fogo e da metalurgia) e Hebe (deusa da juventude) – Zeus teve várias aventuras sexuais, uma delas com a mortal Alcmena, que assim e tornou mãe de Hércules.

Para enganar a jovem, casada com Anfitrião, rei de Tebas, Zeus tomou a forma do marido, enquanto este participava de uma batalha da Guerra dos Sete Chefes. Retornando vitorioso, Anfitrião acreditou que a mulher estava esperando um filho seu.

Ao nascer, Hércules foi amamentado por Hera, num plano arquitetado por Zeus, para que a criança conquistasse a imortalidade. Mas a deusa da família e do casamento não gostou nada quando soube que havia sido traída mais uma vez, e desta vez duplamente: o marido tinha cometido adultério e roubado seu leite divino.

O herói cresceu sempre se destacando pela força e a coragem e casou-se com Megara, filha de Creonte, rei de Tebas. O casal teve muitos filhos e vivia feliz, mas a vingança de Hera foi terrível: ela provocou uma loucura temporária e Hércules matou a mulher e os filhos. Após o massacre, a deusa restituiu sua sanidade.

Como se pode prever, Hércules desesperou-se com a chacina cometida e, para purificar-se e aliviar a consciência, decidiu consultar o Oráculo de Delfos, famoso templo em que pitonisas consultavam os deuses (em especial Apolo), faziam previsões sobre o futuro e forneciam conselhos para propiciar o favor dos deuses aos consulentes.

O oráculo informou o herói de que este deveria servir ao seu primo Euristeu, que governava Micenas e Tirinto. O rei, no entanto, era aliado de Hera e esta conseguiu que ele impusesse tarefas perigosas e pesadíssimas, para expor Hércules ao risco de morte. A deusa não gostava nem um pouco do filho ilegítimo de seu marido.

O leão de Nemeia

Este monstro era filho de Équidna (metade mulher, metade serpente) e Ortro (um cão de duas cabeças com línguas de serpentes) e irmão da esfinge, que na mesma época dizimava a população de Tebas. Era um leão gigantesco e invulnerável. Inicialmente, Hércules tentou abatê-lo com a clava e as flechas, mas não obteve êxito. Teve então a ideia de encurralá-lo em seu covil, entrou em luta corporal e estrangulou-o.

Hércules arrancou a pele do animal com as garras e desde então passou a se trajar com ela. Posteriormente, Hera levou o leão para o céu e transformou-a na constelação do Leão.

A hidra de Lerna

Mais um animal fantástico, filho de Équidna e de Tifão. Era uma serpente com corpo de dragão, que exibia nove cabeças, regeneradas tão logo eram decepadas. Além disto, o monstro exalava um humor fétido que matava todos os que se aproximassem. Hércules conseguiu matar a hidra com a ajuda de seu sobrinho Iolau. Enquanto o herói cortava as cabeças, o jovem impedia que outras brotassem, cauterizando os ferimentos com tições em brasa.

Hera interveio, enviando um enorme caranguejo em auxílio do monstro, mas Hércules pisoteou-o e transformou- o na constelação de Câncer (palavra latina equivalente a caranguejo). Por fim, ensopou suas flechas com o sangue da hidra, que assim se tornaram envenenadas.

A corça de Cerineia

Era um animal dedicado à deusa Ártemis, da caça. Na verdade, era uma jovem ninfa, transformada pela deusa em corça para que pudesse escapar das constantes perseguições de Zeus. O animal era velocíssimo, mas Euristeu queria vê-lo de perto e exigiu que Hércules o capturasse.

O herói precisou de um ano inteiro até que a corça se cansasse e permitisse a captura. A partir daí, a história tem diferentes versões; na primeira delas, o animal foi ferido superficialmente por uma flecha de Hércules, que a levou nos ombros para o primo. Na segunda, foi capturada com uma rede, mas acabou se machucando.

Hércules pôs a culpa em Euristeu, para que Ártemis se enfurecesse com ele. Por fim, o herói estaria carregando o animal quando se deparou com a deusa; esta só permitiu que a corça fosse apresentada na corte e posteriormente solta no campo.

O javali de Erimanto

Erimanto é um monte na Arcádia. O javali vivia numa toca e diariamente descia para apavorar os moradores das imediações. Euristeu exigiu que Hércules o capturasse. Gritando a plenos pulmões, o herói conseguiu desalojar a fera, perseguiu-a sobre a neve que cobria o monte e finalmente conseguiu prendê-la.

Em seguida, levou o animal para o palácio do rei, em Micenas. Euristeu, no entanto, ao ver o javali, ficou totalmente apavorado e escondeu-se numa grande ânfora (ou caldeirão de bronze, em outras narrativas). As presas do monstro foram oferecidas a Apolo, num templo em Cumas, colônia grega na península Itálica.

As cavalariças de Áugias

Áugias era o rei da Élida, famoso pelos seus rebanhos de cavalos. Consta que ele tinha mais de 30 mil cabeças, mas o estado das cavalariças não era dos melhores; de fato, por muitos anos, o estrume se acumulou nas baias, provocando um mau cheiro intoxicante.

Apesar de ser mais uma das tarefas impostas como purificação, Hércules exigiu uma recompensa do rei. O acordo contou com o testemunho do filho de Áugias, Fileu. O herói desviou o curso dos rios Alfeu e Peneu. A forte correnteza gerada limpou os estábulos em apenas um dia.

Áugias, no entanto, recusou-se a cumprir o prometido. Hércules exigiu a presença de Fileu, que confirmou o acordo antes os juízes. Mesmo assim, o rei expulsou o filho e o herói. Depois de cumprir os últimos trabalhos, Hércules retornou à Élida, matou o rei e entronizou Fileu.

Os monstros do Estínfalo

Estínfalo é um lago que fica no Peloponeso, perto de Corinto. Graças a suas águas, é cercado por terrenos propícios à agricultura. Mas, à época de Hércules, o local era infestado por aves de rapina dotadas de asas, bico e garras de ferro. Elas viviam na densa floresta que margeava o lago e, para completar, eram tão grandes que interceptavam os raios do Sol durante o voo.

Hércules enfrentou-as com as suas flechas certeiras. Matou boa parte delas, enquanto um bando migrou para outros países da região.

O touro de Creta

A sucessão de Minos ao trono de Creta estava sendo questionada e, por isto, a aspirante a rei pediu a Poseidon (deus do oceano) um sinal de sua legitimidade. O deus fez emergir um imenso touro branco das águas, mas exigiu que o animal fosse sacrificado em sua honra.

Minos, no entanto, ficou impressionado com a beleza do animal, misturou-o ao seu rebanho e ofereceu um touro de menor qualidade para Poseidon. Irritado, o deus provocou os maus instintos, transformando o touro numa fera, que passou a atacar a população da ilha.

Hércules capturou o touro após uma intensa luta, agarrando-o pelos cornos. Levou a fera para a Argólida, onde Euristeu quis oferecê-la para Hera, mas a deusa não aceitou o presente trazido pela mão do desafeto e restituiu o animal à liberdade. O touro só foi morto muito tempo depois, pelo herói Teseu, na planície da Maratona.

O castigo de Diomedes

Filho de Ares, o deus da guerra, Diomedes era rei da Trácia e, como o pai, extremamente violento. Este rei possuía um rebanho de cavalos que vomitavam fumaça e fogo. Eles eram alimentados com os corpos de forasteiros, cujos barcos eram levados para a costa pelas fortes tempestades da região.

Diomedes tomou do próprio veneno: Hércules entregou-o à voracidade dos animais e posteriormente levou-os a Euristeu, onde eles foram devorados por bestas selvagens.

As amazonas

Eram guerreiras praticamente invencíveis que habitavam a cidade de Temiscira. Elas impuseram uma série de derrotas a diversos reis e príncipes gregos. Euristeu exigiu que Hércules trucidasse as amazonas e trouxesse o cinturão de Hipólita, a rainha, que era a fonte de sua força.

Foi o que o herói fez. Dirigiu-se à cidade, matou a maioria das guerreiras e dispersou e dispersou as poucas que restaram. O cinturão mágico foi levado ao palácio do rei. A região brasileira homônima recebeu o nome porque os primeiros espanhóis que se aventuraram por lá confundiram os índios, de cabelos longos, com mulheres.

O gigante Gerião

Gerião era irmão de Équidna. Tratava-se um gigante de três cabeças, seis braços e seis asas. Habitava numa das míticas ilhas das Hespérides, que os gregos antigos situavam no extremo ocidental do mar Mediterrâneo. O gigante possuía um grande rebanho guardado por Ortro, marido de Équidna.

A missão de Hércules foi roubar o gado de Gerião. Para isto, precisou abrir o estreito de Gibraltar, matar o gigante, Ortro e um dragão de sete cabeças, também responsável pela segurança dos animais.

Os pomos de ouro

No jardim das Hespérides, havia árvores cujos frutos eram pomos de ouro. Hércules precisava recolher os frutos para Euristeu, mas o pomar era guardado por um dragão de cem cabeças. As árvores foram plantadas por ordem de Hera, com as frutas que Zeus deu a ela logo após o casamento. A deusa sabia que o local era inalcançável.

Uma pequena explicação é necessária: no início dos tempos, houve uma guerra entre deuses e titãs, pelo controle da Terra. Com a vitória dos habitantes do Olimpo, os gigantes receberam diversos castigos. Um deles, Atlas, foi condenado a suportar eternamente o céu em suas costas.

Hércules segurou a abóbada celeste enquanto Atlas se encarregava de destruir o dragão. Como recompensa pela ajuda, o herói fincou duas grandes colunas, uma na Europa e outra na África, que a partir daí passaram a sustentar o céu, liberando o titã.

Cão dos infernos

O último trabalho de Hércules foi descer ao Inferno a capturar Cérbero, um cão de três cabeças cuja missão era impedir que os mortos saíssem e os vivos entrassem no submundo. Isto ocorreu no último ano em que o herói ficaria sob as ordens de Euristeu, que, desesperado, conferiu-lhe esta missão impossível.

No entanto, Hades, deus do inferno, permitiu que Hércules tentasse capturar o animal, desde que o fizesse sem usar suas armas. O herói lutou com Cérbero até que o cão capitulou e foi levado até o rei. Euristeu, no entanto, novamente apavorou-se com a visão medonha e pediu que Hércules restituísse o animal ao seu proprietário.

Hércules finalmente estava em paz com a sua consciência. Novamente livre, participou ainda de muitas aventuras, como a libertação do titã Prometeu e a participação na expedição dos argonautas. Por fim, depois da morte, ascendeu ao monte Olimpo, onde goza da sua bem conquistada imortalidade.