Meu filho não come. O que fazer?

Os pais sempre querem o melhor para os seus filhos. Cercam-nos de cuidados e carinhos e acionam a emergência a cada pequeno incidente do cotidiano. Nos primeiros seis meses de vida, a alimentação não é um problema para a maioria das famílias: o leite materno é suficiente para suprir todos os nutrientes necessários a um bom desenvolvimento. Nos seis meses seguintes, depois de acostumar o paladar, geralmente os bebês devoram papinhas e frutas amassadas. Ao completar um ano, no entanto, algo parece dar errado e surge a grande questão: meu filho não come. O que fazer?

São vários os motivos que reduzem o apetite das crianças, especialmente entre um e cinco anos. O principal deles é bastante óbvio (menos para pais apavorados, que não sabem o que fazer): entre o nascimento e o primeiro aniversário, em média, os bebês triplicam de peso.

Um menino de 12 meses mede 76 cm e pesa 9,6 kg, contra os 43 cm e 3,2 kg conferidos logo após o parto. As medidas aqui apresentadas são médias de estudos pediátricos e variam de criança para criança. O acompanhamento médico mensal no primeiro ano garante que a criança esteja se desenvolvendo adequadamente e corrigir eventuais problemas de crescimento.

Este é o único período da vida em que engordamos tanto, em termos proporcionais. Isto é necessário pra que o organismo dos bebês tenha a energia necessária para exercer diversas funções, como sustentar o pescoço, apoiar-se, sentar-se, segurar objetos, engatinhar e, em muitos casos, dar os primeiros passos. Mesmo durante a noite é possível observar que a criança se movimenta demais no berço: ela está refazendo instintivamente os movimentos que aprendeu durante o dia.

Nos anos seguintes, o ganho de peso fica entre 10% e 20% até a puberdade. É importante lembrar que as crianças (assim como os adultos) apresentam grandes variações na estatura e estrutura física. Uma menina miúda e saudável tem menos necessidades nutricionais do que a prima mais alta e robusta. Nós comemos basicamente para levar glicose e oxigênio às células: quem tem menos células precisa de menos nutrientes.

A partir da adolescência, as diferenças se tornam muito maiores de indivíduo para indivíduo. Os “intelectuais” tendem a ser mais magros, enquanto os “esportistas” ganham massa muscular e definem corpos atléticos.

Pais devem experimentar fazer receitas culinárias com os filhos. Claro, o uso de facas, objetos pontiagudos e fogão devem ficar a cargo dos adultos. Mas fazer biscoitos e tortas é uma atividade lúdica e a criança estará comendo a “sua” comida.

Os erros

Agora que sabemos as razões da redução da voracidade, vamos tentar identificar alguns erros na educação das crianças. Em primeiro lugar, é preciso estabelecer uma rotina. Crianças devem ser alimentadas a cada três horas e acostumadas a comer frutas e verduras desde o início (os seis meses de vida).

Não há nada errado em oferecer algumas “porcarias deliciosas” algumas vezes para as crianças, como refrigerantes, hambúrgueres, docinhos, pizza, salgados. O importante é que eles sejam servidos em ocasiões especiais: festas de aniversário, o jantar de sábado à noite. Assim, elas crescerão entendendo que, apesar de muito saborosos, são prejudiciais quando consumidos em excesso.

As refeições devem ser completas e principalmente bonitas. Decorar o prato com carinhas de palhaço, por exemplo, mantém a atenção dos filhos fixa na mesa de jantar. É preciso respeitar os limites individuais. Já nascemos com instruções genéticas que vão determinar a velocidade do nosso metabolismo e, portanto, é inútil encher o prato de uma criança saudável quando sabemos que ela não vai comer nem metade do alimento servido. Além de ser um desperdício, serve também como desestímulo: ela vai encarar a hora de ir para a mesa – especialmente no almoço e jantar – como algo muito, muito chato.

Refeições em família também estimulam a criança a se alimentar de forma correta. Quanto mais pessoas à mesa, melhor: a quantidade de alimento necessária será muito maior e, desta forma, haverá mais opções de sabores, texturas e cores e mais incentivo. Algumas variações, como um domingo de frutas, sucos e saladas, um piquenique no parque ou um almoço em um bom e velho restaurante caseiro.

As distrações devem ser evitadas. A TV não pode estar ligada, as refeições nunca devem ser feitas na sala de estar, com o prato no colo, e, se a criança for muito ativa, um cadeirão “prende o fugitivo” na hora de comer. Devemos também definir horários e locais para cada atividade. É difícil concentrar-se no prato enquanto o irmão mais velho faz o dever de casa na outra ponta da mesa, esgrimindo gizes de cera e canetas coloridas, enquanto folheia livros coloridos.

Muitas pessoas confundem os papéis dos membros da família. É comum ouvir dizer que os pais são grandes amigos de suas crianças. Isto é errado. Pais não são amigos, são educadores, provedores, e esta é uma relação vertical. Eles poderão ser amigos dos filhos quando eles atingirem os 25 anos e forem independentes. Mesmo assim, sempre serão um refúgio, nos momentos de aflição, dor e incerteza.

Amizade é uma relação horizontal, que pressupõe afinidade de gostos e interesses. Não se coloque nesta posição para não perder a imagem de orientador que os filhos devem ver nos pais. Uma destas ocasiões é não abrir mão do castigo, que pode ser de alguns minutos sentado num banquinho do corredor, ou a recusa da gelatina que eles adoram, porque eles não comeram o prato todo no almoço.

Mas tudo é relativo, não é preciso que seja tudo, tudo. A gelatina pode ser servida no lanche da tarde, ninguém está sugerindo que o lar se torne uma ditadura. Obrigar uma criança a comer é igual a transformar o almoço ou jantar em uma tortura, que pode gerar traumas psicológicos prejudiciais aos hábitos alimentares. Alguns deles podem permanecer por toda a vida.

Outro erro comum é tentar superalimentar a criança nos muitos períodos de resfriados e gripes que terão de ser enfrentados pelos pais por 20 anos ou mais. Estas viroses e muitas outras prejudicam a deglutição, provocam mal estar físico, irritam a faringe e, assim, alimentar-se não é nada agradável (não culpem os médicos quando eles diagnosticam uma “virose”: para ter certeza de uma gripe, é preciso fazer uma análise laboratorial e verificar a presença do vírus Influenza; para os resfriados, um dos 100 tipos de rinovírus, e há muitas outras infecções virais superadas com mais rapidez do que o tempo necessário para colher material e analisá-lo no microscópio).

Além disto, a febre acelera o metabolismo e consome mais energia. A perda de peso nestas pequenas enfermidades é facilmente recuperada nas semanas seguintes. Se a caderneta de vacinação estiver em dia e o acompanhamento médico for regular, não há com que se preocupar. Ao menos, não há com que se preocupar muito.

Por falta de tempo, ou até por preguiça, muitas famílias recorrem às babás eletrônicas para distrair os filhos: TVs, computadores e videogames. Estas são atividades excelentes, que desenvolvem a capacidade cognitiva, o espírito de competitividade, colaboração e também ampliam o vocabulário e aumentam o repertório.

Mas tudo tem seus limites. Uma criança que passe a manhã toda em frente à TV não vai ter fome na hora do almoço. Por que sentimos fome? É um aviso do organismo de que necessitamos de energia para manter as atividades fundamentais, que consomem calorias.

Assim, os exercícios físicos são fundamentais. Um passeio até a pracinha, ou mesmo em volta do quarteirão fortalece ossos, músculos e articulações, aumenta a curiosidade da criança – e, como diz o ditado, a curiosidade é a mãe da ciência – e reduz o estoque energético, provocando a fome. Nos dias frios e chuvosos, é possível ler histórias ou brincar com jogos de tabuleiro. Sim, pensar também queima calorias, porque a pessoa gasta energia na transmissão dos impulsos nervosos, mas, pais com alguns quilos a mais, não se iludam: o gasto não é suficiente para emagrecer.