Gordura no fígado: causas e tratamentos

É uma doença que vem acometendo um número cada vez maior de pessoas. Trata-se do acúmulo de grandes vacúolos de triglicérides (estruturas celulares de um tipo de gordura) no fígado e em alguns outros órgãos. A esteatose hepática, popularmente chamada de gordura no fígado, é um processo reversível que provoca acúmulo de vacúolos de lipídeos no citoplasma das células.

A gordura no fígado é mais comum entre as mulheres, provavelmente em função do estrogênio, hormônio relacionado ao ciclo menstrual e à gravidez. A esteatose hepática não alcoólica afeta 20% da população mundial, percentual que aumenta para 60% entre pessoas obesas.

Quanto maior o sobrepeso, maiores os riscos de desenvolver a doença.

Já a esteatose alcoólica é mais frequente em homens: em 90% dos casos, o abuso de bebidas alcoólicas, especialmente as destiladas, está presente na gênese da doença.

Na fase inicial da doença, ocorre a deposição de pequenas porções de gordura no fígado, que pode ser sanada com medicação leve, dieta e exercícios físicos. No primeiro estágio, nem sequer são registradas alterações nos exames de função hepática.

No entanto, sem a adoção de hábitos saudáveis, este acúmulo crescente pode causar danos sérios às células do órgão. As alterações no funcionamento do fígado podem gerar inclusive inflamações. Nas fases mais críticas, surgem a esteato-hepatite (ou hepatite gordurosa) e a fibrose hepática (crescimento anormal do tecido conjuntivo do fígado); em 20% dos casos, estas enfermidades evoluem para uma cirrose.

São situações que podem exigir cirurgias, demandar um transplante do fígado e mesmo levar o paciente a óbito.

Importante: gordura não é necessariamente sinal de inflamação. Um paciente nível 1 pode apresentar graves inflamações, enquanto um paciente nível 3 estar isento delas. Só é possível verificar o comprometimento através de exames clínicos e laboratoriais.

Os sintomas da gordura no fígado

A esteatose hepática e a esteato-hepatite (que nada mais é do que uma hepatite crônica provocada pelo excesso de gordura) são assintomáticas. Com bastante frequência, são diagnosticadas apenas em exames clínicos de rotina, ou quando o paciente procura um endocrinologista visando obter orientações para perder peso.

Alguns pacientes relatam fadiga e sensação de peso, além de desconforto no lado superior direito do abdômen. Não há evidências, porém, de que estes sintomas estejam relacionados à gordura no fígado, já que são comuns a diversas outras condições de saúde.

Seja como for, o médico pode suspeitar do problema através do simples levantamento dos hábitos do paciente ou pela medida da circunferência abdominal, pelo acúmulo de gordura. Cabe lembrar que, mesmo em casos avançados de esteatose hepática, a imensa maioria não percebe qualquer sintoma doloroso ou incapacitante.

As causas da gordura no fígado

São várias as causas da gordura no fígado. As principais são a alimentação excessiva e rica em alimentos gordurosos e o consumo desequilibrado de bebidas alcoólicas. Algumas doenças metabólicas, como o diabetes tipo II, também podem determinar a instalação da esteatose hepática, também chamada de infiltração gordurosa.

Uma vez eliminada a possibilidade de histórico destas duas ocorrências, o médico irá investigar outros possíveis motivos: hepatites virais, sobrepeso ou obesidade, níveis elevados de colesterol ou triglicérides no sangue e uso de drogas como vasodilatadores, corticoides, estrogênio, antirretrovirais e para tratamento de arritmias cardíacas. Alguns medicamentos utilizados para combater o câncer de mama também podem causar gordura no fígado.

Há também causas relacionadas a algumas cirurgias bariátricas, desnutrição e perda súbita de peso (esta última por causar um estresse metabólico e impedir o funcionamento correto do sistema gastrointestinal). O contato prolongado com alguns tipos de pesticidas usados na agricultura também está associado ao acúmulo de gordura no fígado.

Por fim, as grávidas podem desenvolver excesso de gordura no fígado, por causa das alterações hormonais comuns no período. O problema precisa ser acompanhado durante a gestação, mas costuma desaparecer em pouco tempo depois do parto.

O diagnóstico de gordura no fígado

Em função da falta de sintomas que revelem a esteatose hepática, médicos recomendam que, a partir dos 18 anos, todos se submetam a exames gerais anuais e também avaliar as funções hepáticas, os níveis de colesterol e triglicérides. Em caso de suspeitas ou nos grupos de risco (obesos, dependentes de álcool, portadores de diabetes tipo II, etc.), o médico pode solicitar uma ultrassonografia do abdômen.

O diagnóstico de esteato-hepatite é feita através da análise de um fragmento do fígado, retirado em uma biópsia. Este procedimento normalmente é indicado apenas para pacientes que, nos exames de sangue, constatou-se uma elevação das enzimas TGO e TGP.

Em estudos recentes, cientistas descobriram que o vírus da hepatite C produz gordura no fígado para se alimentar. A incidência da doença é bastante alta no mundo todo e, por isto, é recomendável a sorologia para hepatite C.

O tratamento para gordura no fígado

Não existe um tratamento específico para vencer a gordura no fígado. A boa notícia é que, na imensa maioria dos casos, o problema é curável, especialmente quando a esteatose hepática é diagnosticada precocemente.

As prescrições médicas estão sempre relacionadas às causas que determinaram a gordura no fígado. Gravidez, desnutrição, perda súbita de peso não associada a qualquer outra condição clínica e dieta inadequada – fatores que podem gerar a esteatose hepática – só precisam de orientação adequada de médicos e nutricionistas.

No caso das pessoas obesas ou com sobrepeso, é necessária a inclusão de hábitos saudáveis, que promovam a qualidade de vida: alimentação balanceada (com proteínas, vitaminas, sais minerais e também gorduras e açúcares, só prejudiciais quando ingeridos em excesso), exercícios físicos, redução do estresse e, em alguns casos, a ministração de alguns medicamentos, usualmente conseguem reverter o quadro de excesso de gordura no fígado.

Durante o tratamento, o controle dos níveis de colesterol e triglicérides é fundamental para identificar possíveis intercorrências. Quanto aos exercícios físicos, devem ser feitos com moderação, preferencialmente com a orientação de um educador físico. Sedentários com maus hábitos alimentares são sérios candidatos a doenças vasculares e cardiorrespiratórias se decidirem correr a maratona de um momento para outro.

Os pacientes mais resistentes aos tratamentos são os dependentes de álcool. O vício é difícil de ser superado. Em muitos casos, além da obediência às orientações médicas, o acompanhamento psicoterápico, a adoção de medicamentos antiansiedade e antidepressivos e o apoio da família são fatores fundamentais para o êxito.