Como usar a pílula do dia seguinte

Quem nunca teve problemas na vida sexual, que atire a primeira pedra. Uma camisinha estourada ou velha demais, brincadeiras preliminares com emissão de secreções na entrada da vagina e a pressa, principalmente entre os mais jovens, fazem surgir a dúvida em muitas mulheres: “será que eu estou realmente protegida?”. Para elas, existe um recurso para evitar uma gravidez indesejada: a pílula do dia seguinte.

Ela age inibindo a ovulação, impedindo o encontro do espermatozoide com o óvulo no útero ou provocando alterações no endométrio (tecido que reveste internamente o útero) que impedem a nidação, ou fixação do óvulo fecundado na parede uterina. O princípio ativo da pílula do dia seguinte é o Levonorgestrel, um tipo de progesterona sintética.

Não é necessário receita para adquirir o medicamento, mas o acompanhamento médico é recomendado. Há contraindicações para quem sofre de diabetes, problemas cardíacos, circulatórios e de hipertensão arterial.

Apesar de o nível de informação sobre o exercício da sexualidade ser mais elevado atualmente, muitas jovens continuam engravidando sem querer. Os motivos são os mais variados: pouca probabilidade de ter uma relação sexual, o namorado sempre usa preservativo, etc. No entanto, várias mulheres descobrem que o dia do encontro inesperado coincidiu com o período fértil. Então, elas recorrem à pílula do dia seguinte – também chamada de pílula pós-coital ou pílula do arrependimento.

Este deveria ser um recurso extremo – não se pode considerar a pílula do dia seguinte como um método anticoncepcional – e não pode ser usado cotidianamente. Ela funciona como um contraceptivo comum: tem eficiência de até 90% quando tomada imediatamente após a relação sexual, de 80% e, até 24 horas e de até 50% depois das primeiras 24 horas e antes das 72 horas.

Mas também pode causar alterações no ciclo menstrual, já que a mulher ingere uma grande quantidade de hormônios em uma única dose. Os abusos também são responsáveis por desconforto abdominal, dores de cabeça, enjoos e vômitos. Assim, a pílula do dia seguinte deve ser tomada em exceções: relações desprotegidas, camisinha rasgada, estupro.

Recomenda-se tomar o anticoncepcional depois de uma refeição mais reforçada e evitar a ingestão com líquidos gelados. Isto minimiza os efeitos colaterais, desde que o uso da pílula do dia seguinte não se torne um fato rotineiro.

Os abusos e problemas

Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, uma em cada quatro meninas entre dez e 15 anos já usou a pílula do dia seguinte. O pior fato é que a tendência é usar sempre o medicamento. Temendo alterações causadas pelas pílulas anticoncepcionais tradicionais, estas jovens só ingerem o contraceptivo nos dias em que mantêm relações. No entanto, o organismo tem seus mecanismos de adaptação e, por isto, consegue “enganar” a elevação dos níveis hormonais; com isto, a probabilidade de gravidez aumenta.

A pílula anticoncepcional convencional (anticoncepcional hormonal combinado oral) apresenta eficácia que atinge 99,9% na prevenção contra a gravidez. Alguns problemas, como diarreias e vômitos, bem como o uso de medicamentos antibióticos e anticonvulsivantes, pode reduzir este percentual; nestes casos isolados, pode-se usar a pílula do dia seguinte (apenas neste mês de enfermidade).

O problema mais grave com relação ao uso da pílula do dia seguinte é que, para muitas mulheres, fica difícil saber exatamente qual é o seu período fértil. Algumas delas chegam a engravidar no período de sangramento menstrual, quando o óvulo não fertilizado, em tese, está sendo expelido. Ciclos menstruais irregulares são os responsáveis por estes fatos.

Para determinar o dia da ovulação, a mulher precisa ter ciclos absolutamente regulares. Uma mulher com ciclo de 28 dias ovula no décimo quarto, bem na metade do período. Se a pílula do dia seguinte for ingerida fora da ovulação, será apenas uma carga hormonal desnecessária.

Mas o risco de gravidez não ocorre em apenas um dia: o óvulo tem sobrevida média de 24 horas e o espermatozoide, de três dias no organismo feminino. Assim, se a mulher do hipotético ciclo de 28 dias manteve uma relação sexual no décimo primeiro dia, pode engravidar, se um espermatozoide viável ainda estiver à espera no útero. Sem nenhum tipo de proteção, recomenda-se a abstinência sexual de três a cinco dias após a ovulação.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a dupla proteção, ou seja, o uso do anticoncepcional pela mulher e do preservativo pelo homem (entre os brasileiros, apenas 37% afirmam usá-lo sempre ou frequentemente). Isto reduz ainda mais os riscos de gravidez e impede o contágio por doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS. A camisinha é o único método anticoncepcional que também previne contra as DSTs.

Um estudo realizado pela Universidade de Campinas (UNICAMP) indica que 30% das mulheres e 50% dos homens soropositivos (já infectados com o HIV) continuam mantendo relações sem qualquer tipo de proteção. Como se vê, a pílula do dia seguinte não é a solução, mas apenas um paliativo: ela pode impedir uma gravidez, mas os riscos de contrair infecções (inclusive letais) são muito elevados. O preço é alto demais para ser pago.

O uso da camisinha também protege contra o HPV (papilomavírus humano), associado ao câncer de colo de útero, que pode se instalar em qualquer época. Os serviços públicos de saúde são legalmente obrigados a distribuir diversos tipos de preservativos para a população, além de manter palestras regulares sobre educação sexual.

A iniciação sexual está se tornando cada vez mais precoce entre os adolescentes. Por isto, recomenda-se que as meninas sejam encaminhadas ao ginecologista ainda antes da primeira relação, para que seja indicado o anticoncepcional hormonal mais indicado. Os meninos devem ser incentivados ao uso da camisinha em todas as situações: em casa, na escola, etc.

Outros métodos

Não existe nenhum método infalível contra a gravidez, apenas a ausência de relações sexuais: 0,1% das mulheres que se submetem a laqueaduras (corte das trompas) engravida. A cirurgia masculina, a vasectomia, a possibilidade da reversão natural é de 0,05%. Estes dois métodos dificilmente são reversíveis; portanto, são indicados para casais que já têm filhos ou para pessoas que não têm nenhuma afinidade com a paternidade.

O DIU (Dispositivo Intrauterino) apresenta bons percentuais de prevenção, próximos ao da pílula tradicional. Ele deve ser colocado no consultório do ginecologista. O diafragma é menos eficaz. A mulher deve colocá-lo 15 minutos antes da relação, mas o ginecologista precisa avaliar o tamanho ideal para o corpo.

O coiro interrompido, método que consiste em retirar o pênis da vagina antes da ejaculação, apresenta um dos maiores percentuais de falha, entre 10% e 15%. Mesmo sem penetração, em nenhum momento, há espermatozoides no líquido prostático (que começa a ser liberado no início da excitação sexual) em número suficiente para engravidar. Médicos relatam casos de gravidez de casais de namorados que nem sequer perderam a virgindade.

A tabelinha, ou método rítmico, é o único método anticoncepcional reconhecido pela Igreja Católica. Consiste em calcular o dia exato da ovulação e abster-se de sexo por três dias antes e três dias depois. A chance de falha fica em 10%, porque diversos fatores podem alterar o ciclo menstrual.