Como funciona a doação de esperma?

Esperma (ou sêmen) é o fluido produzido pela próstata e vesículas seminais, que carrega os espermatozoides (as células sexuais masculinas) até o local de fertilização do óvulo (a célula sexual feminina). Todas as células humanas possuem 46 cromossomos, à exceção das células sexuais (gametas ou germes), que apresentam apenas a metade de informações genéticas.

Quando se unem, formam um zigoto, que poderá se fixar no útero e dar início ao desenvolvimento de uma nova vida. Isto, no entanto, nem sempre acontece. O volume de cada ejaculação, para um homem sadio, varia entre 3,5 ml e 5 ml (volumes abaixo de 0,5 ml são considerados patológicos). O número de espermatozoides, cada em cada ejaculação, fica entre 200 e 600 milhões.

Com estes índices – e com uma parceira em boas condições de saúde – um casal fértil apresenta entre 20% e 30% de engravidar a cada ciclo menstrual. Isto significa que, ao final de um ano com relações constantes e sem proteção, 85% dos casais podem começar a preparar o quarto do bebê. No segundo ano de tentativas, metade dos pares atinge o mesmo objetivo.

Algumas pessoas, no entanto, apesar de saudáveis, não conseguem realizar o sonho da paternidade. Nestes casos, metade dos motivos está no organismo feminino e o restante, no masculino. As principais causas de infertilidade masculina são a oligospermia (redução do número de espermatozoides), falta e dificuldade de mobilidade dos espermatozoides, anormalidades nestas células, varicocele (dilatação das veias dentro do escroto, a bolsa de pele que detém os testículos) ou criptorquidia (quando um ou os dois testículos, que deveriam migrar para o escroto nos meses finais da gravidez, ficam detidos por hérnias ou anomalias na conformação do abdômen inferior). Muitas destas situações são reversíveis, mas, em alguns casos, é preciso recorrer à doação de esperma.

A doação de esperma é útil também quando os problemas de fertilidade estão no organismo masculino e, por qualquer motivo, os espermatozoides do futuro pai não sobrevivem em ambiente externo por tempo suficiente para a fecundação in vitro. Mulheres solteiras que queiram engravidar e casais homoafetivos do sexo feminino também podem recorrer à técnica.

O material colhido na doação pode ser usado na inseminação artificial ou in vitro, dependendo de avaliação médica da mulher que deverá gerar a criança. No primeiro caso, o esperma é depositado no útero da futura mãe; no segundo, é colhido um óvulo, a fertilização é feita em laboratório e os embriões obtidos são inseridos no útero materno: são os famosos bebês de proveta.

A importação de esperma é permitida no Brasil, mas a ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – impõe critérios rigorosos. Não há pagamento pela doação, mas pelo custeio das despesas advindas da avaliação, coleta, análise laboratorial, transporte, etc. Em geral, as amostras vindas do exterior são mais baratas, mas, somados os custos de envio, despesas administrativas e aduaneiras, acabam ficando bem mais caras.

O método

Doar esperma é oferecer a outros homens a possibilidade de realizarem o sonho da paternidade. Por meio da doação sigilosa e gratuita – de acordo com a legislação brasileira, o ato se caracteriza como altruísta, nunca podendo assumir caráter lucrativo ou comercial –, é possível melhorar a qualidade de vida de muitos casais.

Os futuros pais só têm acesso a informações sobre as características físicas: altura, cor dos olhos, dos cabelos, profissão, hobbies (que indicam dados de temperamento e personalidade), etc. para aproximar, na medida do possível, o fenótipo do doador e do pai. Cada doador pode ser responsável por uma gestação a cada grupo de um milhão de habitantes.

A doação é indolor e fácil (é obtida por masturbação), não provoca efeitos colaterais, nem requer esforços. As doações são anônimas e o sigilo sobre o doador precisa ser garantido pelo banco de esperma. Nem o casal receptor, nem o doador terão informações sobre o futuro das prováveis novas vidas que serão geradas.

Os pré-requisitos são: boa saúde, não pertencer a nenhum grupo de comportamento de risco para doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e não portar doenças genéticas ou congênitas. Os doadores precisam ter disponibilidade para as triagens e coletas de material.

O doador deve ter entre 18 e 45 anos. A primeira etapa é a coleta do esperma, feita em salas individuais, para realização do espermograma (análise da qualidade dos espermatozoides e dos líquidos seminais). Para a coleta, é preciso manter abstinência sexual e de ejaculação de três a sete dias, de acordo com avaliação médica.

O limite de idade não é preconceito contra os homens de meia idade. Apesar de produzirem espermatozoides durante toda a vida, é comum que homens mais velhos apresentem alterações nas divisões celulares, podendo surgir um cromossomo duplicado ou ausente, o que pode inviabilizar a gravidez ou provocar anomalias genéticas, como a síndrome de Down.

Uma vez aprovada a amostra, o doador é convidado para uma triagem com um urologista. Trata-se de um questionário e avaliação clínica. O doador é submetido a exames para sangue, para eliminar a possibilidade de AIDS, HTLV, outras DSTs, hepatite B e C. Além disto, é realizada a tipagem sanguínea e a eletroforese de hemoglobina (exame que detecta diversas formas de anemias, inclusive as provocadas por desordens hereditárias). Na amostra de sangue, também é feito o exame de cariótipo (o conjunto de cromossomos de cada indivíduo), que pode identificar inclusive problemas de fertilidade. Todos os exames são realizados sem custo para o doador.

Uma vez aprovado na triagem, a doador precisa agendar as doações, sempre mantendo abstinência sexual e de masturbação por pelo menos três dias. Os bancos de esperma costumam solicitar ao menos seis doações, com intervalos de uma semana ou 15 dias entre elas. O material colhido é mantido em quarentena, até que todos os testes no material tenham sido realizados.

Onde doar o esperma

O Pro-Seed, sediado em São Paulo, é o maior banco de esperma do Brasil. Os demais são muito pequenos e geralmente estão associados a clínicas de fertilização assistida e geralmente oferecem um número bastante restrito de amostras.

Mas existem outras opções: o casal deve seguir as orientações do médico responsável pelos procedimentos – da decisão final de que a recepção de esperma é o mais aconselhável, até o provável nascimento do futuro herdeiro da família.