Como as religiões interpretam o sofrimento?

As religiões do Oriente, tais como o Budismo, o Taoísmo e o Hinduísmo, acreditam que o sofrimento deriva do “carma”, que significa ação em sânscrito. É o conjunto de realizações nas diferentes encarnações por que passou o espírito. Más ações no passado determinam as condições de vida atuais; por exemplo, na Índia, a classe dos párias (os intocáveis), que goza de muito poucos direitos sociais, teria essa situação vinculada a vícios e crimes em vidas anteriores.

Mas foi na Ásia, também, que surgiu a ideia do dualismo: na Pérsia (atual Irã), o filósofo Zaratustra, no século V a.C., definiu a ideia do bem e do mal, princípios inconciliáveis presentes na vida humana. Para este pensador, o bem venceria no final, mas era preciso a vigilância constante de todos os homens. O sofrimento, para ele, derivava do princípio maligno.

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Estas ideias influenciaram o judaísmo (os judeus viviam em cativeiro na Babilônia, conquistada pelos persas nessa época; o imperador Ciro autorizou o retorno do povo a Jerusalém), que por sua vez influenciaram o Cristianismo.

Para os católicos, o maior sofrimento da Terra não significa nada, quando comparado com os gozos do Paraíso. Se Jesus sofreu para nos salvar, seria justo que também tivéssemos nossa cota de dor. Esta doutrina foi utilizada politicamente por diversos soberanos europeus: fome, doenças, falta de tudo, deviam ser encaradas com resignação, se os plebeus quisessem ascender aos céus após a morte.

Martinho Lutero, sacerdote alemão do século XVI, rompeu com esta ideia e desenvolveu a teoria da predestinação: alguns seres já nasciam predestinados à danação eterna e este fato determinava as agruras da vida. Para Lutero, Deus não poderia criar o mal, a menos que este fosse destinado ao Inferno.

Com a Reforma Luterana e a livre interpretação dos textos bíblicos, criou-se uma nova perspectiva. Pessoas com recursos e posses eram vistas como destinadas ao Paraíso e, portanto, não havia nenhum mal em acumular riquezas. O sociólogo Max Weber interpretou esta visão em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”; na Europa, efetivamente, os países protestantes apresentaram melhor desenvolvimento econômico que os católicos, fato que teve reflexos na América.

No século XIX, o Espiritismo absorveu a tese reencarnacionista, mas a doutrina entende que o auxílio mútuo e a transformação pessoal são fatores de ascensão social: os mais pobres devem ser socorridos, porque a humanidade é uma grande família, entrelaçada por laços eternos.

Os pentecostais, no início do século XX, desenvolveram a “teologia da prosperidade”: os fiéis devem apossar-se das bênçãos divinas. Pobreza, doenças, desarmonias familiares, etc., são geradas por tentações de demônios, e podem ser afastadas em ritos e cerimônias que afastam o mal.

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, no século XIX, formulou severas críticas à cultura ocidental (o que inclui as religiões). O filósofo também criticou a racionalidade europeia, que levava o homem a aceitar a dor e inibir o prazer.