Como acabar com a fome no mundo

Os dados mais confiáveis sobre o tema são de 2010 e foram tabulados pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO): um em cada seis habitantes do planeta passa fome (estudos indicam que em 2014 este número caiu para 805 milhões).

Todo este imenso contingente está abaixo da linha de nutrição. Estudiosos discutem qual é o principal motivo: produção insuficiente de alimentos ou dificuldade de acesso da população mais pobre aos centros de distribuição.

Os levantamentos indicam que alimentos não faltam. O principal fator que determina a fome no mundo é a pobreza: boa parte dos terráqueos simplesmente não tem dinheiro para adquiri-los. Mesmo assim, muitos países continuam desenvolvendo tecnologia para aumentar a produtividade agropecuária. Mas há muitos outros problemas que, se não forem sanados, só farão a fome persistir.

Nem tudo está perdido

A fome no mundo continua sendo um grande desafio para os governos e organismos internacionais, mas alguns dados permitem acreditar que é possível acabar com isto. Quando o assunto é desnutrição, levantamentos indicam que ela está em queda ao menos desde os anos 1970 (quando a população total era de 3,7 bilhões de habitantes). Na época, 37% eram desnutridos.

Nos anos 1990, com uma população de 5,3 bilhões, 20% sofriam com a fome. Na primeira década do século XXI, fome e desnutrição continuaram caindo, mas a crise econômica internacional, que provocou uma alta generalizada dos preços dos alimentos básicos, freou esta evolução. Há sinais de recuperação, mas ainda são bastante tímidos.

Em números absolutos, a maior parte dos desnutridos está na Ásia, o continente mais populoso. Em números relativos – o percentual dos famintos em relação à população total –, os pontos mais sensíveis se encontram na África subsaariana, em função de conflitos bélicos e religiosos e da corrupção política. Ações humanitárias não conseguem superar esta condição, já que muitos recursos para alimentar a população são desviados pelas autoridades.

Desperdício

Ainda de acordo com a FAO, a cada ano, um bilhão de toneladas de alimentos produzidos – ou um terço do total – em todo o mundo tem como destino o lixo. No caso de hortaliças, frutas e grãos, o principal gargalo é a falta de infraestrutura de transporte: entre a fazenda e o consumidor final, boa parte dos víveres se estraga, tornando-se imprópria para consumo.

A EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – estima que 30% dos frutos frescos (17,7 milhões de toneladas) e 35% das hortaliças (16 milhões de toneladas) não chegam à mesa dos brasileiros. Os problemas são a falta de investimentos em tecnologia e o descaso com o transporte.

Apenas para citar um exemplo, a Ferrovia Norte-Sul, que deveria fazer a ligação entre Barcarena (PA) e Rio Grande (RS), facilitando o escoamento da produção para exportação (atualmente centralizada em Santos, Paranaguá, Rio de Janeiro e Vitória) foi iniciada na década de 1980. Em 2012, ainda eram realizados estudos de viabilidade técnica para finalizar os 4.733 quilômetros de extensão em bitola larga.

O desperdício também é determinado pela falta de uma cadeia de frios no país – armazéns, caminhões e vagões com refrigeração, etc. –, que permitam o escoamento sem perdas.

Não são apenas alimentos que vão para a lixeira. A agricultura e a pecuária dependem de uma série de insumos – fertilizantes, água, rações, vacinas, etc. – que representam boa parte dos custos da produção rural. Como deixam de representar um benefício, estes insumos oneram os preços para o final da cadeia: os consumidores.

Se, de um lado, os países ricos e em desenvolvimento enfrentam problemas na distribuição de alimentos, nos países pobres, a situação é diferente: a população não tem recursos para comprá-los: os excedentes contribuem para o aumento do lixo, outra questão que ainda precisa ser equacionada.

Boom populacional

Apesar do que muito se especulava nos anos 1950, quando os estudiosos temiam que o crescimento populacional inviabilizasse as propostas de erradicação da fome no mundo, isto não ocorreu. A população mundial continua crescendo, mas em proporção bem menor do que os cientistas projetavam para a segunda metade do século XX.

A população deve se estabilizar até 2050, quando as mulheres dos países pobres terão, em média, 2,2 filhos. Com a incorporação de novas tecnologias à produção de alimentos, o setor agropecuário conhecerá um aumento da produção por hectare, garantindo disponibilidade de calorias para todos. Produzir comida suficiente é perfeitamente possível, desde que as pesquisas sejam democratizadas, partilhadas entre as nações. Alguns fatores, como a redução das áreas agricultáveis e da oferta de água, podem se tornar menos positivos, mas ainda é cedo para se falar de falência do sistema produtivo.

A ONU estima que ainda restem 16 milhões de quilômetros quadrados de terras cultiváveis – o dobro do território do Brasil –, especialmente na África e na América Latina, a serem explorados. Este número não leva em conta a devastação de áreas florestais e reservas naturais. Especialistas consideram que o impedimento não está na produção, mas na logística de distribuição.

Recursos financeiros

Algumas entidades não governamentais acreditam que acabar com a fome é um objetivo que pode ser atingido se algumas prioridades do planeta forem repensadas. Uma delas é a despesa com atividades militares, que hoje atinge 1,6 trilhões de dólares a cada ano. Apenas 10% deste valor seriam suficientes para eliminar a desnutrição e recuperar áreas de plantio e pastagem degradadas.

Em 2013, de acordo com a FAO, o Brasil, entre 2001 e 2012, conseguiu reduzir a pobreza extrema (pessoas que vivem com menos de um dólar por dia) em 75% e a pobreza (renda abaixo de dois dólares diários) em 65%. Mesmo assim, ainda resta um longo caminho: 16 milhões de brasileiros ainda são considerados pobres. O relatório foi divulgado em setembro de 2014.

A FAO credita o avanço à ampliação do pagamento de benefícios sociais, como o programa Bolsa Família, que, em 2002, integrou diversos auxílios do governo federal em um único cartão, com pagamentos mensais em dinheiro, e não mais em espécie.

Muitos estudiosos, no entanto, dizem que é preciso abrir portas de saída do programa, como a capacitação profissional e a instituição de cooperativas agrícolas, para viabilizar comercialmente a produção em algumas regiões do país.

A América Latina (especialmente a América do Sul) é a região geopolítica que mais avançou no combate à fome e à pobreza, com os países do Caribe um pouco mais atrasados. O relatório mostra que o percentual de pessoas subnutridas caiu de 14,4% para 5%.

Além do Brasil, a segurança alimentar avançou bastante na Bolívia. Quase 20% da população continuam abaixo da linha da pobreza, mas a situação evoluiu positivamente: no início da década de 1990, o percentual era de 40%.

Fazendo a nossa parte

Enquanto governos e entidades internacionais discutem políticas para acabar com a fome, os cidadãos comuns podem fazer a sua parte. A primeira providência é calcular exatamente qual é o consumo de alimentos da família e não se deixar levar por ofertas e promoções, a não ser que sejam de produtos não perecíveis.

Durante as compras, verificar os prazos de validade é importante para não adquirir produtos próximos ao vencimento. Vale lembrar que a validade indicada na embalagem se refere à estocagem do produto ainda fechado, depois de aberto, o prazo de consumo é reduzido drasticamente.

Ao chegar das compras, frutas, verduras e legumes devem ser lavados, enxugados e guardados na geladeira em recipientes com tampa. Os ovos não devem ser guardados na porta da geladeira, para evitar que se estraguem com a oscilação da temperatura (refrigeradores modernos nem têm mais os famosos porta-ovos).

Na hora do preparo das refeições, as quantidades devem ser observadas para evitar desperdícios. Os brasileiros gostam de cozinhar com generosidade, para que sobre comida à mesa. Isto, no entanto, aumenta a quantidade de lixo (outro problema ambiental) e onera o orçamento doméstico.

Os alimentos devem ser resfriados e guardados na geladeira.

Muitas partes de alimentos que consideramos “lixo”, especialmente dos vegetais, são ricas em nutrientes e podem contribuir para uma alimentação balanceada. Há diversas receitas culinárias que utilizam cascas, folhas e talos como ingredientes. Elas também contribuem para a saúde da pele, dos cabelos e ajudam a emagrecer.