As expedições mais importantes da história

A humanidade é insatisfeita por definição. Por necessidade, curiosidade, cobiça ou até por acaso, o homem sempre se deslocou pela Terra, em grandes expedições. No decorrer da história, a primeira delas é a migração do Homo sapiens, que saiu do centro africano (a hipótese mais provável é que a espécie tenha surgido no Quênia), seguiu o leito de rios – havia rios cortando o deserto do Saara há cerca de 150 mil anos – e colonizou Europa e Oriente Médio, de onde continuou se espalhando por toda a Ásia, Oceania e, finalmente, a América.

Esta não foi uma expedição organizada, mas garantiu a conquista do mundo para o “macaco nu”, como o zoólogo inglês Desmond Morris descreve nossa raça. Mais recentemente, há cerca de cinco mil anos, povos como os egípcios, hititas e mesopotâmicos criaram grandes impérios, dominando vastas regiões. A partir de 1500 a.C., os fenícios, que habitavam regiões litorâneas dos atuais Líbano, Síria e Israel, aprenderam a arte da navegação e criaram diversos entrepostos comerciais em todo o mar Mediterrâneo. Atingiram locais tão distantes como Cádiz e Tânger, cidades no ocidente do “Mar Grande”.

Legenda: Porta do Leão, em Hattusa, capital do Império Hitita.
Porta do Leão, em Hattusa, capital do Império Hitita.

Mas o ritmo das civilizações é cíclico. Ciro II, mais conhecido como Ciro, o Grande, tornou-se rei da Pérsia (atual Irã) em 539 a.C. e conquistou a Mesopotâmia, Síria, Israel, todo o leste da Anatólia (antigo Reino da Lídia, atual Turquia) e também a Fenícia. Ciro morreu com 29 anos.

Legenda: Relevo de Ciro, o Grande, rei da Pérsia.
Relevo de Ciro, o Grande, rei da Pérsia.

Os persas mantiveram o ritmo das expedições de conquista nos anos seguintes. Avançaram em direção a oeste e travaram duas grandes guerras com os gregos entre 490 e 479 a.C.: as Guerras Médicas. Mas, apesar de terem conseguido dominar Mileto e saquear Atenas, que rivalizava com Esparta pela hegemonia das cidades-Estado gregas, foram finalmente repelidos.

Os gregos chegaram à hegemonia do mundo – ao menos, do mundo conhecido na época. Em 356 a.C., nascia Alexandre Magno, considerado o maior conquistador do mundo antigo. Depois de unificar a Grécia – as cidades-Estado viviam em conflito umas com as outras –, em suas expedições, Alexandre comandou um exército de 32 mil homens e conquistou os territórios da Turquia, Fenícia, Palestina, Egito, Síria, Arábia, Babilônia, Pérsia e Afeganistão, sendo barrado apenas na Índia, onde encontrou reinos organizados e bem defendidos.

Legenda: Busto de Alexandre Magno, exposto no Museu do Louvre (Paris).
Busto de Alexandre Magno, exposto no Museu do Louvre (Paris).

Seguindo os conhecimentos da curiosa geografia da época, Alexandre pretendia conquistar o subcontinente indiano, atravessar o oceano Índico e descer o rio Nilo, da nascente à foz, desta forma conquistando todo o mundo e submetendo-o à cultura grega. Com a sua morte, no entanto, seus generais dividiram o império entre si, fundando vários reinos.

O império grego também entrou em decadência. No século III a.C., um vizinho quase ignorado começou a mostrar sua força. Os romanos, que já dominavam toda a península Itálica, venceram outra potência bélica da época, os cartagineses (atual Tunísia), nas Guerras Púnicas, e deram início a uma série de expedições para dominar o “Mare Nostrum”.

Um general foi fundamental para dar início à expansão: Júlio César. Este militar comandou soldados romanos nas expedições que conquistaram as Gálias (França), ampliando o território até o oceano Atlântico, e reduziu o poder do Senado, abrindo caminho para o fim da República e a instalação do Império Romano, que dominou Espanha, Grécia, Oriente Médio e todo o norte africano.

Estátua de Júlio César.
Estátua de Júlio César.

Roma foi invadida por povos bárbaros e o Império do Ocidente ruiu em 476. Anos depois, no século VII, surgiu uma nova religião, o Islamismo, que unificou os povos árabes, enquanto os europeus se fragmentavam em aldeias cada vez mais isoladas. Inicialmente, os árabes unificaram a península Arábica, mas, movidos por motivos religiosos, que os levavam a divulgar sua fé a todos os povos, organizaram expedições que colonizaram a Turquia, todo o norte africano e a península Ibérica (Portugal e Espanha), mas foram barrados pelos francos em 732.

Poucos anos antes do ano 1000, aumentou bastante o fluxo de cristãos europeus em direção à Terra Santa (Israel). Inicialmente, as peregrinações tinham motivos religiosos: parte dos fiéis, baseada numa interpretação do Evangelho, acreditava que o mundo ia acabar e era preciso visitar o local em que ocorreu a morte do Cristo, para evitar a condenação ao Inferno.

Em 1096, o movimento tornou-se bélico: o próprio papa Urbano II incentivou os católicos a “libertarem a Terra Santa” e teve início um ciclo de expedições, que ficou conhecido como as Cruzadas (foram nove, no total). Duraram até o século XIII, quando finalmente os europeus desistiram de ocupar a Palestina.

A Idade Média europeia chegava ao fim. No século XIV, com menos superstições e crendices, as primeiras expedições em direção ao Oriente começaram a ser organizadas. Rotas começaram e ser estabelecidas e novas relações de comércio se estabeleceram.

Uma destas expedições foi particularmente bem documentada: a do veneziano Marco Polo. Viagens mercantis foram organizadas entre a Itália e a China, passando pelo Oriente Médio e a Índia. A viagem de Marco Polo durou 24 anos e determinou o estabelecimento do comércio de especiarias e seda, novas necessidades para os europeus.

A “Rota da Seda”, como ficou conhecida a ligação entre Europa e Ásia, no entanto, passava por Constantinopla (atual Istambul, Turquia), e os otomanos tomaram a cidade em 1453, barrando a passagem dos mercadores. Era preciso encontrar um novo caminho para “as Índias”, nome pelo qual era conhecido o leste da Ásia. Para tanto, era necessário dominar a arte da navegação.

O novo caminho marítimo passava pela circunavegação de todo o continente africano, mas os europeus não faziam ideia de que a rota seria tão longa. Portugal, país que possuía a melhor tecnologia náutica da época, desenvolveu uma nova embarcação: a caravela, fácil de manobrar, capaz de bolinar (navegar em zigue-zague contra o vento) e, se necessário, era possível movê-la com remos.

Réplica de uma caravela portuguesa.
Réplica de uma caravela portuguesa.

A caravela e outros instrumentos como a bússola e o sextante, permitiram o início das Grandes Navegações. Com este barco, em 1488 o português Bartolomeu dobrou o cabo da Boa Esperança, região de fortes tempestades marítimas. Em 1492, o genovês Cristóvão Colombo, a serviço da Coroa espanhola, tentando o caminho contrário – navegar para oeste até atingir o leste – comprovou a tese da esfericidade da Terra, ao navegar até a América. Colombo morreu sem saber que tinha descoberto um novo continente.

Em 1498, com Vasco da Gama, Portugal conseguiu traçar a nova rota para as Índias, navegando por toda a costa da África e pelo oceano Índico. Dois anos depois, Pedro Álvares Cabral aportava na costa brasileira. Historiadores discutem se o objetivo da expedição era chegar à Índia ou “marcar posição” nas novas terras encontradas a oeste. Pouco antes (em 1494), um acordo entre Portugal e Espanha – o Tratado de Tordesilhas – havia dividido as novas terras “descobertas e por descobrir” entre os dois reinos.

Portugal não cumpriu o acordo. Nos anos seguintes, exploradores interessados em ouro e pedras preciosas, além do apresamento de índios, para escravizá-los, – os famosos bandeirantes – expandiram as fronteiras do Brasil (então colônia portuguesa), chegando a Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás (pelo tratado, território espanhol). Franceses, ingleses e holandeses também se interessaram pelos recursos do “Novo Mundo” e estabeleceram colônias na América (algumas perduram até hoje).

Muitas outras expedições marcaram a história: a colonização da Oceania, a conquista dos polos e do cume do monte Everest, por exemplo. E o homem achou que a Terra não era suficiente, lançando-se para o universo. Em 1969, o astronauta americano Neil Armstrong, na missão Apolo 11, tornou-se o primeiro homem a pisar na superfície da lua.

Os tripulantes da Apolo 11, primeira astronave a chegar à Lua.
Os tripulantes da Apolo 11, primeira astronave a chegar à Lua.

O seriado televisivo “Jornada nas Estrelas” tem como mote “o espaço: a fronteira final”. E, como o espaço é infinito, o bicho homem tem muitas expedições a organizar nos próximos milênios.