A timidez e seus problemas

A timidez é um padrão de conduta no qual o indivíduo não expressa (ou expressa pouco) seus pensamentos e sentimentos. A maioria dos tímidos não chega a sofrer problemas com a realização pessoal; contudo, a qualidade de vida fica prejudicada. Em situações extremas, a timidez pode inclusive causar problemas para a saúde física e mental.

Uma das principais características da timidez é a preocupação excessiva com as atitudes, reações e avaliações dos outros. A condição surge especialmente nos momentos em que é necessário discutir com autoridades, apresentar novas ideias e projetos, nos contatos com desconhecidos, ao falar em público, e, em alguns casos, ela pode aflorar no relacionamento com familiares autoritários.

Em certa medida, todos os seres humanos são afetados pela timidez em diversos momentos da vida: ao se candidatar para um novo emprego, começar um curso ainda sem conhecer os colegas, pedir alguém em namoro, etc. Trata-se de um mecanismo defesa milenar: a Evolução nos ensinou a sempre desconfiar dos estranhos.

Superando a timidez

Em primeiro lugar, as pessoas acanhadas precisam fazer um esforço para deixar de encarar o mundo como um inimigo em potencial. É importante não menosprezar as próprias características. Parentes, amigos e colegas não irão cair na gargalhada, nem partir para insultos.

A opinião embasada de cada indivíduo é tão importante quanto a de todos os outros.

Outro ponto importante: todos nós temos falhas, defeitos e, vez ou outra (mais em uns, menos em outros), cometemos erros que pode ultrapassar a barreira do ridículo. É preciso não dar tanta importância a estes fatos: se houve algo tipo de prejuízo, é o momento de encontrar a melhor maneira de corrigi-lo.

Não é necessário imitar a avestruz e enfiar a cabeça na areia (aliás, as avestruzes não fazem isto); para cada problema, existe uma solução. É importante conhecermos os nossos pontos fortes e aqueles que precisam ser melhorados.

Um erro tremendo é usar alguma característica para justificar a timidez: ela deve ser vencida, e não explicada. Não importa se você é gordo ou magro, alto ou baixo. Todos nós temos um cantinho sob o Sol neste mundo.

Com exceção de alguns perfeccionistas e das pessoas que gostam de cuidar da vida alheia, a maioria dos simples mortais está preocupada em resolver seus próprios problemas, corrigir as falhas, encontrar formas de curtir mais a vida, desenvolver projetos pessoais e muitos outros detalhes.

Desta forma, os indivíduos bem ajustados não estão interessados em julgar, avaliar, analisar o outro. Quem consegue se compenetrar destas verdades está a um passo de superar a timidez.

Em alguns indivíduos, porém, a timidez assume contornos de fobia social. O acanhado simplesmente deixa de frequentar alguns locais ou desenvolver algumas tarefas por medo do julgamento ou por exagero da incompetência.

É importante procurar ajuda. Com a terapia comportamental cognitiva, a timidez pode eliminada ou atenuada em poucos meses. A técnica inclui a exposição, reestruturação cognitiva, técnicas de relaxamento e treinamento das habilidades sociais.

Autocrítica excessiva

A autocrítica é necessária para o desenvolvimento integral, mas, em excesso, ela se torna um fator paralisante. De tanto pensar no que os outros irão pensar, os tímidos se anulam, tornam-se “paisagem” e não membros ativos do grupo.

Em “Poema em Linha Reta”, o poeta português Fernando Pessoa escreveu: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos são campeões em tudo”. É uma confissão de que todos eles estão certos, são felizes e bem-sucedidos, menos o tímido.

O poeta exagera na dose para destacar o vício de subestimar-se. É evidente que nem sempre somos campeões em tudo: a mais glamurosa top model já escorregou na passarela; o melhor cantor do mundo já desafinou em uma apresentação. A diferença fica por conta da forma como eles encararam o erro em público – talvez tenham aproveitado a experiência para se tornar ainda melhores.

Se, quando “bate” a timidez, o indivíduo tende a se desvalorizar, o contrário também é verdadeiro: todos os companheiros apresentam qualidades e talentos impecáveis. É claro que nós não podemos ser ao mesmo tempo os mais bonitos, populares e inteligentes da turma, mas temos as nossas virtudes. Se o tímido é especialista em estourar pipoca, reúna os amigos e faça isto: o importante é começar a se destacar em alguma área.

Nem todos são amigos!

Não dá para fazer o “jogo do contente” o tempo todo. Existem situações desagradáveis, da mesma forma que existem pessoas desagradáveis. Elas não precisam ser necessariamente esnobes, afetadas, “o último biscoito do pacote”. Simplesmente, os interesses e afinidades nem sempre combinam.

Portanto, mas não é possível estabelecer relações de amizade com toda a raça humana – afinal, já somos quase sete bilhões no planeta. Com um pequeno círculo de amigos, é possível ficar mais relaxado e participativo. Mas, sendo tímido ou não, é preciso aprender a conviver com adversários, rivais e até inimigos.

Os amigos e colegas, por outro lado, são um excelente porto seguro em qualquer situação. Introversão significa “olhar para si mesmo” – e este é um hábito que deve ser cultivado em ocasiões especiais. Quem permanece excessivamente acaba não tendo tempo para conhecer os outros e acaba criando uma carapaça de defesa quando não há nenhum perigo iminente.

Defesa e ataque

Muitos tímidos adotam uma postura arrogante nos relacionamentos. É mais uma forma de se defender – e de se esconder. Em alguns casos, este ar de superioridade é inconsciente: “quanto menos eu falar com os outros, menos eles falarão comigo”.

Este ar, que pode ser tomado por complexo de superioridade, é extremamente prejudicial. Alguns tímidos nem sequer aceitam elogios. Para e pense: se uma atividade profissional foi realizada a contento, se a refeição saiu do forno e deixou toda a família com água na boca ou quando o namorado comenta a beleza da parceira, simplesmente desfrute do momento.

Em outros casos, a timidez obriga o indivíduo a se sentir ultrajado com qualquer comentário. O que passaria por brincadeira, ou seria encarado como crítica construtiva, torna-se uma ofensa grave para o tímido. Afaste-se desta postura: a maioria das pessoas que se aproxima de nós quer apenas colaborar, entender, apoiar.

Ó, vida, ó azar!

Em um antigo desenho animado (“Lippy & Hardy”), uma hiena pessimista sempre encara qualquer situação como um desastre (o subtítulo acima é o bordão da personagem). E ela acaba atraindo muitas pequenas calamidades diárias totalmente previsíveis.

Alguns tímidos também se assumem derrotistas a cada atividade: “vou ter um branco na hora da prova”; “vou gaguejar na sala de reunião e todos vão rir de mim”; “não vou dançar na festa, sou muito desengonçado”; “é melhor não apresentar este projeto: ele ainda está verde”.

Com isto, conseguem apenas anulação e mais isolamento: é um círculo vicioso. Quem estuda de forma adequada não tem de preocupar com esquecimentos durante as avaliações. O tímido pode até gaguejar no momento da reunião, mas o dom da oratória não foi distribuído igualmente para todos (e os demais participantes sabem disto).

Quem dança mal pode tomar algumas aulas: é difícil que ele se torne um virtuose do balé, mas certamente conseguirá se divertir e aproximar-se de pessoas interessantes. Também pode simplesmente dançar mal: não se trata de uma disputa, mas de uma reunião descontraída.

E, se o projeto ainda está verde, é justamente porque ele ainda é um projeto: só irá amadurecer com debates, discussões, análises de viabilidade e colaboração de todos que estão à nossa volta. Supere as imperfeições, deixe que os amigos se aproximem e seja feliz.