A história dos mangás

Apesar das muitas diferenças culturais, os mangás fazem sucesso no Brasil. Tudo começou por volta do século VIII, no período Nara, em pleno feudalismo japonês, com o Teatro de Sombras (Oricon Shohatsu), cujos artistas percorriam cidades e aldeias para apresentações com fantoches. A inspiração para as apresentações eram lendas transmitidas oralmente pelos diversos grupos que compunham a sociedade do Japão, então fragmentada em shogunatos.

Em algum momento, estas histórias passaram a ser registradas e ilustradas. Há vários documentos em rolos de papel (emakimono) do século IX, que contam histórias chinesas à medida que os tubos vão sendo desenrolados. Historiadores acreditam que as primeiras histórias tinham como alvo o público infantil chinês e japonês. No século XII, surgiram os primeiros emakimono em estilo japonês: aí começa a história dos mangás.

No período Edo (1603-1868), os rolos foram substituídos por encadernações. Nesta época, surgiram os “livros para ver”, em contraposição aos “livros para ler”. Os mangás, no entanto, rapidamente unificaram as duas correntes literárias.

No início do século XX, algumas editoras passaram a publicar os primeiros quadrinhos em escala comercial. A produção ficou paralisada durante a Segunda Guerra Mundial, quando quase todos os recursos disponíveis estavam sendo alocados para a iniciativa bélica e a população estava mobilizada por um sentimento nacionalista. De qualquer forma, os mangás, vendidos em sebos, eram uma das poucas atividades de lazer, já que poucas atrações culturais restaram no país.

Curiosamente, os mangás retornaram com força total no pós-guerra, o período do milagre econômico japonês, impulsionado inicialmente pelos EUA. O objetivo era conter o avanço soviético no Extremo Oriente.

O intervencionismo do governo, especialmente nas ações do Ministério da Indústria e Comércio, transformou o Japão em poucos anos. Da condição de derrotado de guerra, surgiu uma das maiores potências econômicas mundiais.

Os primeiros mangás do pós-guerra eram muito caros, praticamente inacessíveis à maioria da população. Faziam sucesso os mangakas, com forte influência das histórias ocidentais. Os japoneses encontraram uma solução: passaram a produzir os akabon (livros vermelhos), com papel mais barato e capa vermelha: os mangás estavam de volta.

Mais recentemente, os mangás migraram para a TV e o cinema, onde recebem o nome de animes (também ocorre o contrário: os personagens saem das telas para as páginas dos quadrinhos). Mangás e animes constituem um dos principais nichos de cultura popular no Japão.

Séries como “Dragon Ball Z” e “Yu Gi Oh” arregimentam fãs no mundo inteiro e inspiram milhares participantes de cosplay (abreviatura de costume play, ou representação de personagens) em seus encontros, nos quais personagens de mangás convivem pacificamente com os fantasiados que buscam suas fontes em quadrinhos americanos, videogames e filmes de ficção.

As características do mangá

Ossamu Tezuka, cartunista japonês (considerado o Walt Disney do Japão), é considerado o criador dos traços marcantes dos personagens dos mangás: grandes olhos, muito diferentes dos observados na população do país, e a cabeça grande em relação ao corpo. Até hoje, estas características físicas são mantidas por artistas do mundo todo: são as marcas registradas dos mangás.

No Japão, os mangás fazem sucesso entre homens e mulheres, independente de faixa etária. Os quadrinhos para meninas recebem o nome de “shojo”. Os mais conhecidos no Ocidente são os romances ou comédias românticas, que quase sempre envolvem adolescentes – de idade semelhante à maioria das leitoras. Histórias para mulheres adultas são chamadas de “josei”.

O primeiro shojo foi desenhado na década de 1950 e conta a história da “princesa e o cavaleiro”, um clássico da literatura japonesa. As características das ilustrações são as flores de cerejeira – um dos símbolos do país – envolvidas em corações, estrelas, laços, etc.

Para os meninos, é destinada a produção dos mangás “shonen”. As histórias estão repletas de torneios de lutas, invenções mecânicas e muita ficção científica. Os adultos do sexo masculino se distraem com os mangás seinen. Os temas são semelhantes e em muitos quadrinhos os personagens principais têm entre 15 e 20 anos. A diferença fica por conta das sequências de sexo e violência, impróprias para crianças e adolescentes. Ciência, negócios e política constituem o pano de fundo destes mangás.

A separação dos mangás para meninos e meninas, no entanto, não é absoluta: muitas histórias ultrapassam a barreira do sexo – e, às vezes, também da idade – e se tornam clássicos. As continuações são esperadas ansiosamente pelos fãs e propaganda e imprensa tratam estes quadrinhos da mesma forma que tratamos o lançamento de uma novela.