A história do vinho

A origem do vinho é imprecisa. Cristãos, judeus e muçulmanos atribuem sua criação ao patriarca Noé, que teria se embriagado com a bebida pouco depois de ele e seus familiares terem desembarcado da arca que salvou os seres vivos do grande dilúvio universal.

A lenda, no entanto, é hitita, provavelmente criada a partir da inundação de uma grande planície pelas águas do Mediterrâneo, formando o mar Negro, exportada para vários povos, como os hindus e persas. Os judeus teriam criado a lenda durante o cativeiro na Babilônia, que foi conquistada nessa época pelos persas. Mitos sobre a criação do vinho foram gerados entre todos os povos da Antiguidade.

Os gregos, por exemplo, tinham um deus específico para o vinho: Dionísio (Baco, em Roma), cujos festivais e procissões em sua honra envolviam orgias e porres tremendos. Dionísio era também a divindade da alegria, do entusiasmo, da insanidade e do descontrole, o que identifica os bebedores com o deus.

A história do vinho começa antes mesmo do advento da escrita. Todas as regiões banhadas pelo mar Mediterrâneo são adequadas ao cultivo da uva, e é provável que a bebida tenha sido feito por acaso, quando alguém esqueceu um punhado de uvas, que fermentaram naturalmente.

Há registros sobre o vinho de sete mil anos atrás. Foram encontradas sementes de uva com esta datação na Geórgia, país europeu no mar Negro. O cultivo de videiras, no entanto, só foi possível quando o homem se tornou sedentário, o que ocorreu gradualmente na Europa, Ásia e África, entre 4.000 e 400 anos antes de Cristo.

O vinho entre os egípcios

Os primeiros registros sobre o vinho, em ilustrações e documentos, foram grafados pelos egípcios. A partir de 2500 a.C., os súditos do faraó já exportavam a bebida para diversos pontos. Antes disso, porém, os soberanos egípcios ofereciam o vinho e queimavam vinhedos em homenagem aos deuses, os sacerdotes usavam-no em seus rituais e a nobreza o bebia em suas festas.

As classes sociais mais baixas, no entanto, não tinham dinheiro para comprar a bebida. Por isto, com a fermentação de cereais, criaram outra bebida para suas celebrações: a cerveja. O vinho egípcio se popularizou com as atividades comerciais dos fenícios, que criaram vários entrepostos em cidades mediterrâneas para comercializar o produto.

Na Grécia

O vinho tornou-se ainda mais popular e sagrado entre os gregos. A partir de 1000 a.C., as videiras começaram a ser plantadas e transformaram-se numa das principais fontes de renda das cidades-Estado helênicas, juntamente com o azeite – as oliveiras também começaram a ser plantadas em escala comercial.

Os gregos levaram o vinho para outras regiões da Europa: Itália, Sicília e península Ibérica, onde fundaram a cidade de Marselha, que rapidamente se tornou um centro de comércio da bebida para os povos locais. A bebida era muito mais espessa do que seu aspecto atual, para suportar as longas viagens marítimas. O consumidor a diluía em água potável.

Em Roma

A cidade nasceu como uma colônia agrícola, no século VIII a.C., mas já no século II havia se tornado um império, com a anexação da Grécia e Espanha. O império cresceria ainda mais, colonizando França, Inglaterra, o norte da África e o Oriente Médio, e o plantio de videiras nos territórios conquistados era uma forma de impor os costumes e cultura romanos.

O vinho era a bebida dos guerreiros e gladiadores, identificada com a força e poder militar. As tavernas romanas ficavam sempre lotadas, especialmente após as grandes lutas nas arenas e no retorno vitorioso das coortes e centúrias. Era comum os imperadores distribuírem pão e vinho para a população mais pobre.
No atual território francês, diversos tipos de uvas foram obtidos, variando de acordo com o solo e clima locais. Até hoje, os vinhos franceses estão entre os melhores do mundo.

A Idade Média

A produção do vinho conheceu um grande decréscimo com a queda de Roma. Surgiram diversos pequenos países, politicamente instáveis e sempre antagônicos entre si.

Sem a possibilidade de comércio, não havia madeira de qualidade para fazer os barris de envelhecimento, e o vinho tinha que ser consumido imediatamente.

No entanto, o vinho tornou-se um símbolo do Cristianismo, religião que passou a dominar gradualmente a Europa. De acordo com o Evangelho segundo São João, na última ceia, Jesus tomou o cálice e pediu para que todos os apóstolos bebessem o vinho, em sinal na nova aliança entre Deus e a humanidade. Até hoje, as missas católicas e os cultos evangélicos consagram a bebida no momento da Eucaristia.

O vinho na América

Os grandes navegadores espanhóis e portugueses (e posteriormente holandeses, franceses e ingleses) trouxeram a uva para o Novo Continente, que se adaptou rapidamente ao clima mais quente: a fruta é cultivada no Caribe, EUA e toda a América do Sul. Historiadores estimam que as 13 caravelas da expedição que culminou com a descoberta do Brasil transportavam 65 mil litros da bebida, para consumo dos marinheiros.

Com a Revolução Industrial, o vinho ganhou em quantidade, mas perdeu em qualidade: a produção fabril barateou a bebida, mas a venda quase imediata tornou-se necessária para adaptar o vinho ao mundo moderno. Muitas vinícolas, no entanto, em todas as partes do mundo, mantêm a produção artesanal.

O champanha

Durante muito tempo, não era possível extrair vinhos das uvas colhidas no vale do Grand Champagne, na França; a bebida fermentava em excesso (as frutas entram em duas etapas de fermentação, fato que lhe confere as famosas bolhas), chegando a estourar as garrafas em que era armazenada.

Em 1921, o monge beneditino Dom Pérignon aperfeiçoou o método de vinificação chamado champenoise, que permitiu o armazenamento e comercialização da bebida.

Tecnicamente, o nome “champanha” só é conferido ao vinho produzido nesse território francês. Todos os demais, por melhor que seja a sua qualidade, recebem o qualificativo de “espumantes” ou “frisantes”.

Os vinhos europeus são sempre considerados os melhores, mas em 1976 ocorreu um “julgamento” entre vinhos da Califórnia e da França: numa degustação às cegas, os vinhos americanos levaram a melhor. 30 anos depois, em 2006, foi realizado um novo teste, com vinhos envelhecidos durante todo este período: novamente, a vantagem ficou com a América.