A história do Carnaval

O Carnaval, como é conhecido hoje, foi implantado no século VII, quando a Igreja Católica implantou a Semana Santa, que é precedida por 40 dias de jejum e orações: a quaresma. Este longo período de privações acabou determinando uma grande festa na véspera do primeiro dia da quaresma, a Quarta-Feira de Cinzas: o Carnis Valles (em latim, “renúncia à carne”).

Os gregos antigos já faziam grandes festas de rua 600 anos antes da Era Cristã, para homenagear seus deuses e agradecer pela fertilidade da terra. Gradualmente, as reverências a Dioniso, deus do vinho – a uva era um dos principais produtos agrícolas – foram associadas a bebedeiras e orgias sexuais. As comemorações foram importadas por Roma e, a partir do século IV (quando o Cristianismo se tornou religião oficial do império), foram proibidas.

Mesmo assim, as festas continuaram a ser realizadas. O carnaval romano ocorria no final de dezembro: negócios eram paralisados, escravos eram provisoriamente libertados, as pessoas trocavam presentes, um “rei” era eleito para presidir as brincadeiras e comandar os cortejos festivos. A figura deu origem ao Rei Momo.

Como as autoridades não conseguiram coibir as festas populares ocorriam espontaneamente, sem nenhuma organização prévia –, a data foi incorporada ao calendário católico. Em 1545, o Carnaval foi oficializado durante o Concílio de Trento, mas durante cerca de mil anos ele foi tolerado pela Igreja, que tentou sem sucesso transformar as festividades em banquetes discretos, sem conotação sexual.

A data do Carnaval

Com exceção do Natal, todos os feriados religiosos são estabelecidos em função da Páscoa, que acontece no primeiro domingo após a primeira Lua Cheia posterior ao equinócio de outono (no hemisfério sul). O calendário eclesiástico é lunissolar, baseado nas fases da Lua.

Assim, a Quarta-Feira de Cinzas é fixada 46 dias antes da Páscoa. Nas vésperas, ocorrem os dias gordos. Em francês, o termo para o Carnaval é Mardi Gras (Terça-Feira Gorda), festa comemorada com este nome em várias partes do mundo. O maior Mardi Gras do mundo é o de Nova Orleans (EUA), antiga colônia francesa.

O Carnaval no Brasil

O Carnaval desembarcou no Brasil no século XVII, nos moldes das festividades europeias: cortejos de rua com os participantes mascarados e fantasiados. Personagens clássicos do teatro francês, como Pierrô, Colombina e Arlequim, foram incorporados às festas brasileiras, assim como o Rei Momo – que, nestes tempos politicamente corretos, está cada vez mais magro, para não fazer apologia à obesidade.

Na região Nordeste, os portugueses introduziram o Entrudo: bonecos gigantes que eram conduzidos pelas ruas durante o Carnaval. Em Recife e Olinda, os entrudos são a marca registrada da festa. No Rio de Janeiro, havia dois tipos: o Entrudo familiar, realizado nas casas de fazendeiros e comerciantes, festa familiar em que crianças e jovens disputavam batalhas com limões de cheiro.

Nas ruas, o Entrudo se caracterizou gradualmente pela violência e grosseria. Comemorado por pobres – e também pelos escravos –, consistia basicamente no arremesso de pós e líquidos (inclusive esperma e urina) contra blocos adversários. O Entrudo das ruas passou a ser coibido pela polícia a partir de 1830. Atualmente, ainda existem resquícios do Entrudo na “pipoca” do carnaval baiano – foliões que seguem os trios elétricos fora dos cordões, sem pagar o abadá, e no “mela-mela” de Olinda (PE), atualmente reduzido a atirar jatos de água e perfume.

O Carnaval tornou-se mais popular no início do século XX, como os corsos – desfiles de carros enfeitados, lotados de foliões e seguidos por centenas de foliões, que formavam blocos e cordões, existentes até hoje. Os participantes usavam lança-perfume (que atualmente é proibido), confetes e serpentinas. A introdução do samba transformou a festa brasileira e tornou-a única no mundo, que hoje atrai milhares de turistas.

Concursos de fantasias e enquetes para escolher os melhores bailes e grupos carnavalescos começaram a ser organizados e diferenciaram o carnaval. Enquanto a elite festejava em cortejos automobilísticos e salões, o “povão” brincava nas ruas. Os sambistas do morro do Estácio esboçaram a primeira escola de samba, a Deixa Falar, em 1928. No ano seguinte, ocorreu o primeiro concurso, na Praça Onze de Junho, centro do Rio de Janeiro (RJ). Nos anos 1940, a praça foi demolida e os desfiles foram transferidos para a Avenida Marquês de Sapucaí, onde, em 1984, foi construído o Sambódromo.

O Carnaval da Cidade Maravilhosa está registrado no Livro Guinness dos Recordes como o maior do mundo: dois milhões de pessoas brincam nas ruas em cada um dos quatro dias da folia. No entanto, o maior bloco carnavalesco, ainda segundo o Guinness, é o Galo da Madrugada, de Recife (PE): sozinho, o Galo, criado em 1978, arrastou 1,7 milhão de foliões em 2011.

Uma curiosidade: o tempurá, prato típico japonês, foi introduzido em Nagasaki por missionários portugueses. Como os jesuítas não podiam comer carne vermelha, desenvolveu-se uma refeição baseada em vegetais e frutos do mar fritos para ser servido “ad tempora quadragesimae”, durante o tempo da quaresma.