A geração Y

Os bebês nascidos em 1980 já estão completando 36 anos. Estas crianças (posteriormente adolescentes e jovens) se desenvolveram em uma época de grandes inovações tecnológicas. Especialmente no Ocidente e no Japão, a geração Y cresceu em uma fase mundial de prosperidade econômica e muitas facilidades materiais.

O conceito da geração Y, desenvolvido na América do Norte (especialmente Canadá e EUA), tenta explicar um fenômeno tipicamente urbano. Não existem jovens desta geração em ambiente rural, notadamente em locais nos quais a produção econômica está atrelada a atividades braçais, manufatureiras e relacionadas à agropecuária tradicional (mesmo mecanizada).

A geração Y

A geração Y já nasceu familiarizada com a informática e a internet. Mesmo que as crianças de hoje possam se assustar com os primeiros sistemas operacionais populares da Apple e Microsoft, os primeiros celulares digitais e as toscas conexões discadas, a telemática revolucionou os relacionamentos pessoais, criando inclusive os “amigos virtuais”.

Geração Z

A partir de 1990, alguns especialistas passaram a classificar as crianças como “geração Z”. A principal diferença é que os mais jovens puderam contar com maior quantidade de elementos lúdicos (brinquedos, DVDs, etc.): a produção industrial, beneficiada pelos avanços tecnológicos, passou a oferecer produtos mais baratos – de minigames a TVs de alta definição.

Por outro lado, a geração Y estabeleceu uma relação mais estável com os bens duráveis e semiduráveis. Os mais jovens – que já estão ultrapassando a barreira dos 20 anos – sempre conviveram naturalmente com o desperdício e o descarte. Hoje em dia, este consumo quase leviano está gerando um sério problema ambiental: o que fazer com o lixo.

Muito antes de Y e Z

Com o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o Ocidente conheceu o chamado “Baby Boom” (explosão de bebês). Os soldados voltaram para casa, as fronteiras da Europa foram redefinidas (a França, por exemplo, retomou a sua autonomia, destruída com a invasão nazista e a imposição de um presidente fantoche, o marechal Phillippe Pétain).

Novas uniões surgiram. Os casamentos naturalmente geraram filhos, indivíduos que se tornaram adolescentes e jovens nas décadas de 1960 e 1970, período de valorização da contracultura: é a geração X, que passou pela cultura hippie (com paz, amor e muito sexo antes do casamento, um escândalo na época), teve ideais libertários, protestou contra a guerra e, depois disto, foi fazer carreira profissional.

Ao sul do Equador

O Brasil chegou atrasado à geração Y. Em primeiro lugar, porque o país praticava a defesa de mercado para o desenvolvimento de informática (barreira derrubada apenas em 1993), fator que impedia o desembarque de novas tecnologias.

A defesa de mercado faz parte de uma política de mercado que vai na contramão do liberalismo. Na década de 1980, as autoridades do país, durante o período da ditadura militar e também no governo Sarney impedia a troca de experiências com outras nações.

Enquanto nos EUA mais de 400 hosts em universidades, órgãos militares e governamentais permitiam a navegação através da arpanet para mais de dez mil pessoas, os brasileiros só podiam contar com equipamentos importados (a maioria contrabandeados), sem nenhuma possibilidade de conexão com o embrião da rede mundial.

Em segundo lugar, o Brasil enfrentava uma crise crônica. A economia estava totalmente desorganizada. O país sempre foi exemplo de inflação crônica. Na década de 1970, a inflação se aproximou perigosamente dos 45% anuais.

A crise de agravou a partir de 1980, quando a inflação atingiu os 100% anuais. A década foi de descontrole: em 1990, o índice atingiu 1.476%. Durante o governo Collor, porém, a defesa de mercado foi derrubada e o país abriu o consumo para bens importados. Os computadores com sistemas Windows e McIntosh finalmente chegaram ao Brasil – mas custavam tanto quanto um carro popular.

O Plano Real, editado em 1994, durante o governo Itamar Franco, começou a colocar a economia em ordem. No ano seguinte, o índice de inflação anual caiu para 22% – e continuou em níveis “normais” nos anos seguintes (com uma ameaça ainda difusa no segundo governo Dilma Rousseff). Os primeiros brasileiros da geração Y nasceram a partir deste período de reorganização, com menos desemprego e mais estabilidade (e consumo).

Geração Y e trabalho

Um dos princípios benefícios da internet é o acesso imediato e quase infinito à informação. Um jovem nascido em 1980 completou 18 anos em 1998, ano em que teve início a popularização da internet no Brasil (no mesmo ano, surgiram os primeiros celulares digitais).

Em poucos anos, o computadores tornou um eletrodoméstico. Atualmente, os brasileiros têm em mãos 140 milhões de equipamentos, entre desktops, laptops, tablets e smartphones. Em 2015, mais da metade das famílias brasileiras já tinha acesso à internet em casa – sem contar a facilidade oferecida por lan houses, telecentros e pontos de acesso sem fio, comuns em shopping centers, aeroportos, terminais de ônibus e até praças e praias.

Esta facilidade de acesso, no entanto, gerou alguns problemas. A comunicação instantânea e barata geralmente provoca distração em excesso.

Os estímulos, vindos de diversos pontos, dificultam o foco em uma tarefa, sempre realizada com qualidade aquém da esperada.

As redes sociais consomem boa parte do tempo. Os adolescentes e jovens brasileiros reclamam da falta de tempo para os exercícios e o lazer, mas permanecem quatro horas diárias, em média, de olho na tela (e permanecem conectados praticamente durante o dia todo).

O barateamento dos smartphones de última geração (que, na verdade, se tornam obsoletos em poucos meses, fato que contribui para o desperdício) permitiu esta facilidade, que pode se tornar uma dificuldade, quando o assunto é carreira profissional.

A capacidade de redação decaiu muito a partir do início do milênio. Apesar de a educação brasileira vir ladeira abaixo ao menos desde 1980, o emprego de textos curtos, típicos das mensagens virtuais, “viciou” as pessoas em resumos e na falta de atenção para as entrelinhas, qualificação fundamental para uma leitura crítica.